Blog do escritor Ferréz

Mirisola (de novo)

Salve rapa, depois de falar mal de mim, e pegar carona em toda reportagem que eu saia, e até dar palpite na tatuagem do meu braço, o grande escritor de foto novelas Marcelo Mirisola vem com seus pensamentos brilhantes mais uma vez, agora o Alvo é Mano Brown, leio o texto que foi publicado numa revista digital e veja se Bárbara Gânso está sozinha nas suas opiniões.


Dia 20 de novembro é o dia da Consciência Negra. Feriado aqui em São Paulo. Como sou branco e minha consciência não deve valer grande coisa (que eu saiba não tenho um dia para comemorá-la) resolvi levar a sério a entrevista que Mano Brown, o intelectual do Jardim Ângela, deu para o jornal Folha de São Paulo.Há dezoito anos se esquivando da imprensa a pretexto de conservar a virtude de suas convicções e/ou a pureza do movimento hip hop (ou algo que o valha), Mano Brown, o intelectual, o mito, a lenda viva da periferia de São Paulo, finalmente veio a público.Talvez tenha dado outras entrevistas ao longo desse tempo. Confesso que não acompanhei. Consta que foram poucas. Mas essa entrevista, em especial, foi reveladora."Os pretos - diz Brown - não têm todos as mesmas idéias". Ah, meu Deus. Será que ele fez essa declaração por ignorância ou foi por racismo mesmo? Vejamos. Embora Mano Brown tenha feito esse comentário baseado no estremecimento de sua relação com o rapper Thaíde, a simples generalização, a meu ver, atingiu toda a comunidade negra - o que por si só é um fato gravíssimo: se Brown não foi racista por opção, foi por incompetência. A pergunta é: o que eu, um branquelo entediado com toda essa lenga-lenga, tenho a ver com isso?A princípio, digamos que senti falta de um dia para comemorar minha consciência. Então, na falta de uma, resolvi investigar o que Brown, um sujeito dotado de uma consciência - em tese e oficialmente - superior à minha, teria a dizer sobre assunto.Asneiras, disparates, tolices. Ele deve ter chegado a essa conclusão racista "os pretos não têm todos as mesmas idéias" depois que constatou que pretos podem - inclusive! - pensar como brancos (e vice-versa).Uma multidão de garotos (não só da periferia e não exclusivamente de São Paulo) sem esperança - e intelectuais de alto quilate e igualmente deslumbrados - o tem como um ideólogo, guru. As palavras de Brown têm o peso incontestável da realidade. Nelson Motta o considera um gênio. Não se discute a autoridade de Brown. Porta-voz da periferia que amedronta a classe média, ele - para dizer o mínimo - é a verdade, o código, o cara.Brown votou em Lula pelo "olhar e pelas idéias dele". Seguindo esse raciocínio, o filósofo do Jardim Ângela poderia ter votado em Lembo pelas sobrancelhas, em Alckmin pelo nariz ou em Mercadante pelo bigodão tingido.O problema é que Lula, o candidato a quem Brown pediu votos, às vezes, tem algumas idéias de cores duvidosas e não raro demagógicas. Marta Suplicy também. Foi ela quem inventou o Dia da Consciência Negra . o dia em que Mano Brown proclamou seu desastrado racismo no jornal Folha de São Paulo, 20/11. Entre outras bravatas, o revolucionário Brown disse que está feliz da vida porque os bares da periferia perderam espaço para as pizzarias, salões de beleza e locadoras. Esqueceu das Igrejas. Bispo Edir Macedo deve compartilhar da mesma felicidade de Brown. Mas o rapper vai além. Tem sonhos românticos. Ele sonha com "a população ouvindo música nas ruas, fazendo academia, cuidando do corpo". Talvez inspirado em Galvão Bueno... antevê algumas "metas". Quem sabe não queira ver Felipe Massa cruzando o pódium ao som do Rap da Vitória. Brown é nosso guia. Brown apóia incondicionalmente a prática de esportes... e não "abre as pernas" para a mídia de jeito nenhum. Sei, sei. Sua palavra é lei. De um lado e do outro da Ponte João Dias. Outro dia o furioso Brown foi condecorado por Lula. Não sei se compareceu à solenidade ou enviou algum representante. Che Guevara deve ter dado cambalhotas de orgulho na tumba. O bigodinho e a carranca de Brown, aliás, nunca me enganaram. Alguém precisa explicar a ele o significado do termo facista.Nesse caso não há tropicalização que amenize o racismo (involuntário?) de Brown. Brown é o começo do fim de Sérgio Buarque de Hollanda. Viva a Revolução das Periferias - aliás, a rede Globo e Regina Casé apóiam qualquer iniciativa que venha das periferias, não importa se é a periferia de Ruanda ou do Grajaú. Se é periferia tem talento .E se tem talento tem verba. Tem cinema, tem indicação para o Oscar. Tem droga para os filhos da diretoria. Tem alguma ONG pra administrar o negócio.Brown também acha que o fato de o irmão de cor "se vestir melhor faz muita diferença" . Além de estúpidos "porque pretos não tem todos as mesmas idéias", Brown deve considerar que uma roupinha pode disfarçar a feiura dos seus irmãos pretos.As declarações de Mano Brown, porém, não me espantam. O que me espanta é o medo e a veneração que a mídia tem por esse racista desastrado. Se eu fosse negro, o processava. Mas como sou um branquelo sem consciência (e sem calendário) só me resta lamentar a entrevista e o espaço exagerado que a imprensa - ao longo dos anos e a despeito da aparente falta de interesse - concedeu/concede a Mano Brown, esse títere do desespero. A situação - já fiz essa analogia uma vez - lembra muito os assaltos a mão armada: onde a vítima (ou o consumidor tanto faz) não tem opção diferente da submissão. Os especialistas - todos - nos ensinam a não reagir. E agora. O que se faz? O talento musical de Brown justificaria essa rendição incondicional?Me parece que não é esse o caso. O maestro Júlio Medaglia me fez acreditar que não
Marcelo Mirisola
extraído da: http://www.revistamuro.kit.net/

Texto escrito por ocasião do dia da consciência negra, quando Mano Brown concedeu uma entrevista ao jornal Folha de São Paulo, em 20/11/2006.

Esse ai é o cara, Marcelo Mirisola, como não temos um e-mail de contato para debater com ele, quem tiver perto pode encontra-lo na praça Roosevelt, num lugar chamado Sebo do Bac.

Convite para Inauguração

Projeto Periferia Ativa.


Negredo, Mano Brown e Ferréz tem o prazer de convidar toda a comunidade para a inauguração da Biblioteca Êxodos.
Rua Adoasto de Godoi número, 4
Jardim Ipê, continuação da Avenida Sabim, em frente ao metrô Capão Redondo.
Dia 24 de março de 2007
A partir das 11:hrs da manhã.
Proibido entrar com material fotográfico.

Biblioteca Êxodos. Gibis, quadrinhos adultos, livros reportagens, revistas, conhecimento geral, alto ajuda e muito mais, é só chegar e ler.
Em breve inauguração do espaço musical.

Apoio: Talentos Aprisionados, Imprensa Oficial, Editora Conrad, Mutato Editora, Firme e Forte, A Cúpula.
Agradecimento Especial: Hucka (Marcelo Loureiro).
Uma realização projeto: Periferia Ativa e 1dasul

Faça a Rede Globo Chorar



A REDE GLOBO TREME - VIVA A INTERNET !

Leão Esperança:

Circula na Internet um e-mail cuja mensagem vem causando arrepios à Rede Globo:Criança Esperança: Você está pagando imposto da Rede Globo!

Quando a Rede Globo diz que a campanha Criança Esperança não gera lucroé mentira.

Porque no mês de Abril do ano seguinte, ela (TV Globo) entrega o seuimposto de renda com o seguinte desconto: doação feita à Unicef no valor de... aqui vem o valor arrecadado no Criança Esperança).

Ou seja, a Rede Globo jádesconta pelo menos 20 e tantos milhões do imposto de renda graças àingenuidade dos doadores!

Agora se você vai colocar no seu imposto de renda que doou 7, 15, 30 ou mais pro Criança Esperança, não pode, sabe por quê? Porque Criança Esperança é uma marcasomente e não uma entidade beneficente. Já a doação feita com o seu dinheiropara o Unicef é aceito.

E não há crime nenhum. Aí, você doou à Rede Globo um dinheiro que realmente foi entregue à Unicef, porém, por que descontar naReceita Federal como doação da Rede Globo e não na sua?.

Do jeito que somos tungados pelos impostos, bem que tal prática contábiltributária poderia se chamar de agora em diante de Leão Esperança.

Lição:Se a Rede Globo tem o poder de fazer chegar a mensagem dela a tantos milhões detelevisores, também nós temos o poder de fazer chegar a nossa mensagem a milhões de computadores!

EXERÇAMOS ESTE PODER-DEVER, ENVIANDO ESTE TEXTO À LISTA DEAMIGOS E CONTATOS!

Vamos fazer desta mensagem um campeão de audiencia!


-- Carlos Otavio South Gama

Vários Montros

Tá difícil viver aqui, cê sai de uma noite pra uma balada, e no outro dia de manhã tem outro compromisso.
Cê dorme pensando numa novidade, e acorda sabendo de outro, tudo isso mil volts na arena.
Sérgio Vaz vai lançar o Colecionador de Pedras pela Global, isso já torna raro o volume publicado por ele, quem não comprou ou corre, ou daqui a pouco só terá acesso a versão nova. eu tenho 5 lá na 1dasul, quem quiser aproveitar, são os ultimos aqui no Capão.
E o livro pela editora vem com capa nova, apresentação nova, vixe...mas o bom poeta é o mesmo. (ainda bem né?)

Depois da novi, fui assistir o DVD-Musical-documentário-fenomenal-Racionais mc's.
Caralho! a Sindicato Paralelo e os parceiros do Racionais fizeram um produto bomba, eu que só desconfiava, pude confirmar.
aquela história de Jovem Guarda, ie-ie-ie, tropicália era tudo caô.
assiste ao documentário sobre o nosso povo e nosso ritmo e veja Tony Hits, Luizão, Chic Show dominando a vida dos pretos de sampa city.
James Brown, Tim Maia, Zapp, Michael Jackson, num escapou ninguém rapaz.
Depois você ainda tem que ter fôlego para assistir o Doc Capão, um documentário contando a história do meu bairro, ficou chapado, só faltou falar do primeiro livro lançado aqui em 1937 por uma professora, mais isso eu conto um dia, afinal os caras tão mostrando o lado musical da parada.
e ainda tem os extras nos vários shows e até no japão, vixe pirei e me deu carga nova de esperança.
corre e compra que é dinheiro muito bem empregado.

e por fim, me chegou as fotos (finalmente) do lançamento da minha primeira história em quadrinhos com Alexandre de Maio.
agente lançou lá na gibiteca Henfil e foi uma noite muito especial, o gibi está nas bancas e esse ano eu e o Alexandre vamos lançar o volume 2. (nem que seja em fanzine).


bom, por hoje é tudo isso pessoal, até amanhã>...cê num acontecer mais um barato chapado até a tarde.

Ferréz/zona Super

Alteração de Data

Salve.
a data da palestra de hoje, foi alterada para maio, lá no CCBB.
portanto que quer ir, saiba que vai estar rolando um ciclo de palestras e começa hoje no mesmo horário e endereço, mas minha participação é somente em maio.
abraços revolucionários
Ferréz

Minha Agenda de Março

Salve, foi tanto corre que fiz por causa da coletânia que minha vida de escritor virou uma bagunça.
mas tirando os textos amontoados, e as colunas atrasadas vamos a minha agenda desse mês, que é tímida porque recusei muitos convites em favor do nascimento da minha filha (Dana) que está pra esse mês, e cê já viu né? tem que dar uma atenção na família de casa também, ficar só na família da rua num vira.
bom...chega de blá-blá-blá e vamos lá.

Dia 13/3/07 (desculpe postar em cima da hora)
O mundo virtual- mediação de Marcelo Rubens Paiva, lá no CCBB Centro as 19:30
a palestra conta com Beatrz Gonçalves também ao meu lado.

Dia 22/3/07 as 20:00rs
O terreiro com o Hip-Hop
Casa mãe Guacyara - no dia internacional da água e o lançamento da coletânia 1dasul
Rua Anália dolácio Albino, 30 - ao lado da Casa do Zezinho

Dia 24/3/07 as 10:00 rs
Inauguração da Biblioteca êxodos, no projeto Periferia Ativa, Avenida Sabim, Rua Godoy, na Viela Periferia Ativa.

Dia 26/3/07
Teatro do núcleo Ergonautas (Vou postar o endereço em breve)

Só a Família



Quente, hoje a loja recebeu a visita do nosso parceiro, Robson Canto, que vira e mexe cola na grade na zona sul, é isso mesmo muleke da hora, adquiriu a coletânia que também traz seu nome lá.
E por falar em coletânia, fizemos uma reunião hoje na biblioteca, e o Brown disse que tá ouvindo a coletânia da 1dasul, disse que tá ouvindo com mó atenção, e destacou a faixa do Realidade Cruel, bom é ver o trampo sendo compensado, na galeira tá mó corre-corre, tá virando bem e é um sintoma que dá pra observar desde o dvd.
ou seja tudo que agente faz com o coração e bem feito vira.
Também está ai a foto do Davi, que embarcou comigo nesse sonho 7 anos atrás, muleke firmeza que já passou várias dificuldade comigo, até espulso de lugares nós ja fomos juntos.
mas um dia a bonansa chega.
o corre na loka é foda, sem neurosa vamos em frente que o vento é forte e o calor intenso.
Quem pensa que acabou, vacilou, porque agente tá começando agora.
dia 24 inaugura nosso sonho, a biblioteca êxodos, o espaço pra música e todo o projeto Periferia Ativa.
quem viver verá, a revolução chegar, sem câmeras e com muita sinceridade.
nossa voz está no ar.
firmão e fortão.
Ferréz.

O Capão não para.

êta Zona Sul conturbada, o bixo tá pegando...e claro pela cultura, agora o evento é no Parque Sto. Dias, vamos estar juntos lá, para valorizar o Raggae e a cultura de rua, segura ai o que vai rolar, e vê se cola lá com a patroa e as crianças para um verdadeiro domingo cultural no parque.

Mataram o Capitão América

Enquanto o presidente americano finge que se importa com a américa latina, ele aguarda ancioso a conversa sobre o Etanol.
Enquanto isso lá nos states alguém meteu bala no Capitão América, e ele foi declarado como morto, sem chances de voltar (espero) parece até um presságio do que está por vir com a maior "potência"do mundo.

Já na vida real, os jornais mostram que o Brasil não ficou pacato perante a visita do presidente do mundo, confere ai:
"Multidão furiosa marcha contra Bush", diz jornal
As manifestações contra o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, que chegou ontem ao Brasil, são tema de destaque da principal reportagem do jornal americano Washington Post sobre a visita, intitulada "Multidão furiosa marcha contra o presidente no Brasil". Para o jornal, as manifestações da quinta-feira em São Paulo e a dura resposta policial são "o presságio de uma visita potencialmente volátil para o presidente".
O jornal argentino La Nación também comenta as manifestações, dizendo que "os 30 graus de temperatura que fazia pouco depois do meio-dia em São Paulo pareciam mais entre os milhares de pessoas que se concentraram na central avenida Paulista".
"Inicialmente convocada para comemorar o Dia Internacional da Mulher, a mobilização logo se converteu no principal foco de protestos contra Bush nesta cidade", diz o texto do correspondente do diário.
A reportagem observa, porém, que "a uns dez quilômetros dali, o hotel reservado para a estadia de Bush parecia um quartel militar". "Dois caminhões do Exército bloqueavam a entrada e dezenas de soldados patrulhavam os arredores. A custódia presidencial conta com mísseis portáteis, apoio de helicópteros e armamento mais leve, como metralhadoras e pistolas", diz o jornal.
Debate sobre socialismoA visita à América Latina pode ser interpretada como "um confronto entre o capitalismo aberto defendido por Bush e a visão socialista promovida pelos líderes esquerdistas, que cresceram em poder e popularidade", afirma reportagem publicada nesta sexta-feira pelo diário The New York Times.
O jornal observa que, apesar das tentativas do governo americano de negar que a visita tenha como objetivo conter a influência do presidente venezuelano, Hugo Chávez, o roteiro parece "pelo menos em parte" organizado para isso.
A reportagem relata os comentários do presidente americano contra o "modelo alternativo de desenvolvimento" pregado por Chávez e sua defesa de "mercados abertos e governos abertos" na América Latina, mas diz que "mesmo os anfitriões brasileiros de Bush parecem divididos sobre sua mensagem".
"Apesar de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estar se encontrando com Bush nesta sexta-feira para assinar um acordo sobre o etanol e ter previsto uma visita a ele em Camp David no dia 31 de março, o esquerdista Partido dos Trabalhadores que ele lidera escolheu apoiar e participar das manifestações anti-Bush", afirma o jornal
Bom, pelo menos num passou batido todo esse caos, voltamos com mais notícias na próxima vizita dos nossos colonizadores.
Ferréz

A Coletânia saiu.


Salve

Depois de um ano e oito meses trampando nela, a coletânia 1dasul finalmente chegou nas lojas.

já está na galeria 24 de maio, nas lojas Canal 24, Porte Ilegal e mais 14 lojas.
Também já está disponível na Loja Flórida na galeria Olido.
e em alguns dias pelo site www.bocadaforte.com.br.
A distribuição é setorizada, ou seja vai sair em pontos específicos, e só estamos dando prioridade para pessoas que valorizam o hip-hop brasileiro.

Além é claro de estar na loja da 1dasul lá no Capão, também na loja do Negredo na Sabim e daqui a uma semana está chegando em Minas, Brasilia e vários outros estados.

Hoje embarca uma cota para o Rio de Janeiro Também.
A coletânia "Us qui são representa"é um lançamento feito pela 1dasul fonográfica.
Distribuição: (11) 5870-7409

É o rap resistindo a todos os funks, axés, carnavais e mais outras modas.

Só músicas inéditas, e a partir de terça feira você também pode conferir a música na 105 fm.

é quente quente, lançamento na Cooperifa em breve dou a data, também na Casa Mãe Guacyara e no projeto Periferia Ativa.

salve.

Ferréz

Vestido com as armas de Jorge (Ferréz)


Vestido com as armas de Jorge

Estilete com dois lados.
Assim é a roupa que separa.
Classifica e disfarça.
O respeito de pai não se herda.
Mas tomam o sangue do povo na taça.
E em todo proletário em guerra se tem uma ameaça.
Pois a fome não se cala.
Nos classificam, nos denominam, nos separam por raça.
Mas há os que não se abaixam.
Os pratas da casa que pregam a palavra pra conter a arma
- e com o intuito do guerrilheiro que usa a alma e a espada.
Há um detalhe que não passa: a farda.
Somos um lado da guerra.
E de predadores temos tudo.
A maldade, o sofrimento, as armas.
E a raiva da caça.

Para Crianças e melhor idade.


Salve, dentro de alguns dias sairá na Folhinha (caderno especial para crianças na Folha de S. Paulo) um texto meu especial para crianças e a melhor idade.

Um miniconto que fiz com muito carinho e principalmente muita responsabilidade para com nossos herdeiros e nossos idosos.

o dia da publicação eu aviso aqui, e claro...como sempre, depois eu publico o texto também.

ah! outra novi, em algumas semanas estaremos inaugurando a biblioteca do projeto Periferia Ativa.

Fiquei hoje o dia todo junto com o Cebola, o Tó, o Wilsão e o Arnaldo separando livros entre, romances, quadrinhos, arte, história e literatura marginal, que terá um sessão todinha só pra ela.
Vocês não imaginam como é lindo, só as crianças nos ajudando enquanto os adultos nos bares jogando suas máquinas caça niqueis, o bagulho tá doido, muita cerveja, bilhar, baralho, maconha, mas uma coisa é certa ainda tem a esperança e isso agente vê nos olhinhos dos pequenos quando pegam num livro.

ficou chapada a biblioteca, onde tem que ser, dentro da comunidade e não em algum lugar quem não precisa, o endereço eu passo dias antes da inauguração.
Agradecimento a Hucka que apoiou todo o projeto, também ao Gel que tá fazendo o grafite, a Sofia que deu uma puta força, a Conrad, Vozes, imprensa oficial, Marcelino Freire, Lourenço Mutarelli e ao Buzo que doaram livros.
A Devir ficou devendo, prometeu alguns títulos e não cumpriu, mas nada como um dia após o outro dia.
Firmão.

Ferréz

www.ferrez.com.br

Salve,
agora no site www.ferrez.com.br, está na íntegra o texto Lisístrata: sexo, drogas e greve.
o texto só será publicado no site, e já está disponível assim como os textos que fiz na Caros Amigos durante esses cinco anos que lá estive.
no site também você pode baixar as músicas do meu primeiro disco, Determinação.
é só entrar na parte de músicas.
também tem a nova música do TRef, meu projeto junto com o Maurício (detentos do Rap) e Odair (Negredo).
além de também poder ler e copiar os textos que fiz para Folha de S.Paulo, Trip, Revista MTV, e muito mais. dá um pulo lá, porque ninguém pode falar agora que não tem acesso a leitura, porque é caro e tal.
o site tem dado muitas respostas boas, principalmente de escolas e pessoas que não tinham acesso ao meu trabalho, agradeço a todos, e esse ano o site será bem mais atualizado.
Ferréz.

Lei da maioridade e o carnaval



Salve


Nada melhor do que para resolver toda essa crise na segurança pública, leia-se: injustiça social.
do que comemorar com um belo carnaval, patrocinado por muitos desses "monstros"retratados pela mídia.
Gil Rugai era favelado? Suzane era favelada? e o aspirante a médico que metralhou todo mundo no shopping? bom, de exemplos tem vários, entre os Edelbrandos da vida, até os Lalaus, entre Collors e Pts inteiros que estão na listas.
mas o que aparece na tv? jornal do Sbt, uma reportagem começa sobre a mairidade penal, então a repórter aparece com uma favela ao fundo e diz: os jovens que cometem esses crimes, geralmente vem de lugares como esse.
eu juro pra vocês que me senti numa matéria do repórter éco, onde se mostra no habitat de algum animal.
mas deve ser alucinação carnavalesca da minha parte, já que ninguém se pronunciou contra, e tem tanta entidade ai com nome de favela, será que alguma delas vai fazer algo? talvez se tiver como tirar algum do caso.
agora se não render nenhum projetinho, ai não podemos fazer nada.
enquanto isso, vamos ver nossos iguais empurrando os carros super coloridos com os modelos da globo, da band etc em cima, rebolando e dizendo bem alto - eu quero que se foda.....


é carnaval. viva.


Ferréz

Novo Lançamento em Portugal

Salve, depois do Capão Pecado, agora é a vez do Manual Prático do ódio sair em terras portuguesas, a capa ficou show, apesar que sou suspeito pra dar palpites, mas confere ai.
Além das livrarias de lá, está a venda também em vários sites, os mais famosos são: www.webboom.pt , www.bertrand.pt e www.fnac.pt
o melhor preço está no Webboom : EUR 13, 97. que eu não sei quanto sai em reais.
esse foi o ultimo trabalho que fiz com a minha amiga Ray Güde Mertin, antes dela falecer no final do ano, com certeza vai ter um lugar bem grande no meu coração, Valeu Ray, nas nossas conversas você sempre me elogiava, e eu sempre falava que o melhor livro, é o que está por vir, por você e por pessoas com a sua índole, é que vale a pena fazer o que fazemos.
essa lâmina será guardada com todo carinho, pis tem meu nome como escritor e o seu como minha agente.
Ferréz.

em breve

Salve
em breve está chegando o que já plantamos a 4 anos.
será inaugurada a biblioteca do projeto periferia Ativa.
2 andares, 4 computadores, mais de mil livros, entre clássicos, contemporâneos e os quadrinhos.
livros para todos os gostos, um espaço só de escritores negros, uma brinquedoteca e muito mais.
dentro da comunidade da Vila sabim,
em breve daremos a data para a festa maior da nossa cultura.
Ferréz/Negredo/Mano Brown/Periferia Ativa/Thalentos Aprisionados.

Poster da Coletânia

Salve rapa, vai ai o modelo do poster da coletânia 1dasul, que sairá esse mês nas lojas, com vários talentos do rap nacional entre eles: Realidade Cruel, Prof. Pablo, A Família, Detentos do Rap, Negredo e os iniciantes R.D.G, Tref, Otraversão, Dj Dri, porque o Rap sem o novo num é nada, e sem valorizar os clássicos é menos ainda, vida longa ao rap mais contundente do mundo.
o Rap brasileiro.
as pessoas que gostam de ler meus textos, me desculpo por postar aqui outros assuntos, mas os sites de rap estão mais preocupados com outros assuntos, como os gringos, e não dão espaço para a nossa cultura, então aqui é um dos únicos lugares que tenho chance de falar desses projetos.
abraços

Ferréz/1dasul

Canto da sereia (texto feito para o blog literatura periférica)

Canto da Sereia

Entrou pela primeira vez, talvez não fosse a última, talvez.
Ali dentro não tinha nome, não tinha cometido nenhum crime, era um número.
Não tinha que explicar nada, nem contar histórias.
Era simplesmente um número.
Não achou nenhuma cela com conhecidos, e o guarda começava a forçar uma escolha.
Olhou o velho pacato no xadrez, mais dois no canto jogando baralho.
Ouviu o impacto da água sobre outra água, balde no vazo.
Tinha outro no banheiro.
Era ali mesmo, o guarda estava impaciente.
Entra logo ladrão.
Cumprimentou com os olhos, nada mais.
O velho continuava encostado na parede, olhos para um copo com água em um pequeno banco de madeira.
Chegou no velho e disse que era temporário sua estada naquele barraco, que amanhã procuraria com mais calma algum barraco onde tivesse um amigo.
O velho abaixou a cabeça e levantou em sinal de compreensão.
Os outros companheiros o chamaram para entrar no jogo, preferiu não, era cedo demais para algum contato.
Chegou a hora da janta, o bandéco foi entregue a cada preso, o velho nem olhou, somente esticou o braço e pegou, abriu e começou a comer lentamente, foi a primeira vez que tirou os olhos do copo d água.
Ficou contente com a refeição, mesmo com o arroz cru e quebrado.
A fome era a fome. O caos era o caos.
Antes mesmo de anoitecer pegou no sono, se encolheu num canto da cela e deixou as pálpebras descerem.
O sol estava batendo em seu rosto, abriu os olhos e contemplou o amanhecer, o velho estava bem a sua frente, olhando para o copo.
Dali a 4 horas iria para outro barraco. Só sair para o banho de sol e faria os contatos necessários para localizar os parceiros.
Viu os presos apostando copos com água, quem perdesse bebia um copo, não tinha paciência pra jogos, nunca teve, na verdade nunca gostou muito de perder, e a perda da liberdade já era mais que suficiente.
Faltava duas horas, já tinha contado as barras do xadrez de traz pra frente, já tinha mentalizado todos os prejuízos que teria com sua prisão, já tinha pensando em como seria seu primeiro dia em liberdade embora isso estivesse distante, mas pensaria em mais o que.
O velho não tirava os olhos do copo com água, não tinha ido ao banheiro uma única vez, não tinha sequer deitado? Será que ele havia dormido? Será aquilo algum tipo de loucura?
Faltava dez minutos, e começou a andar de um lado para outro, os minutos pareciam horas, silêncio total, de vez em quando alguém bebia um copo de água perdido numa aposta.
O sinal tocou, as celas foram sendo abertas uma a uma, ele pegou a pequena sacola, onde estavam um par de chinelos e duas camisas e antes de sair, olhou para o velho e não resistiu.
O que o senhor tanto olha ai nesse copo com água heim?
O velho ergueu a cabeça bem lentamente e disse.
Estou aqui a 22 anos e ainda não sei nada, e você chegou agora e já quer saber das coisas?
Ferréz é autor de Capão Pecado, Manual Prático do ódio, Amanhecer Esmeralda e Ninguém é inocente em São Paulo, todos pela editora Objetiva

O pão e a revolução (Ferréz)

O pão e a revolução (conto do livro Ninguém é inocente em São Paulo)

Coloram dois universitários no balcão, me afastei.
Estava no bar do Donato, um tiozinho pela ordem.
Com o bar havia sustentado os cinco filhos, nenhum virou malandro.
Notei os dois estudantes bebendo Coca-Cola e curtindo a vida agora.
Mais tarde, eles iam no “eu amo tudo isso”, tomar um lanche, fodam-se.
Um homem mancando se aproximou.
- Me paga um pingado e um pão, moço.
- Pão com quê? Perguntou um dos universitários.
- Pode ser com manteiga.
- Esse é o problema, meu amigo, pouca pretensão, por que não pede um pão com queijo?
- Preten... o quê? Perguntou o homem que mancava.
- Deixa quieto. Respondeu o outro estudante, meio impaciente.
Donato olhava a cena enquanto lavava os copos.
- Não pode ser assim. Informação é para ser distribuída, pretensão é você querer ter algo, explicou o outro universitário.
- Eu quero um pingado e um pão com manteiga, falou o homem que mancava e tinha uma mancha no olho.
- Faz assim: por que você não pensa em vender uns doces, sei lá, fazer algo melhor com sua vida do que pedir?Disse um dos caras.
- Deixa o homem, porra! Falou o Donato, meio alterado.
- Mas a gente só tá tentando dizer que ele devia revolucionar a vida dele.
- É, por exemplo, estudar, se empenhar, ter preparação para quando chegar a oportunidade.
- Mas ele só quer um pão com manteiga, gente! Falou quase gritando o Donato que havia criado cinco filhos.
Eu fiquei de boa, tomando meu café com leite, pensava num conto, mas me faltava algo.
- Então que ele se empenhe mais, isso é uma sociedade capitalista, não tem espaço para todo mundo.
- É isso mesmo, a vida é assim, a não ser que façamos a revolução. Brandiu o outro estudante.
- Eu só queria um pingado e um pão com manteiga, moço. Falou o homem mancado, com uma mancha no olho e um curativo no braço.
- Mas é isso, meu amigo, que estamos falando.
- É, ele não entende, tem que acontecer uma revolução.
O Donato interrompe a conversa, meu conto tá quase terminando, deu um pingado para o moço que abriu um sorriso e, mesmo antes de agradecer, foi lhe dado também um pão com manteiga.
- Tá vendo, é isso que não pode, tem que dar estrutura, dar a vara e não o peixe. Falou indignado o universitário.
- É isso mesmo, você está agindo com assistencialismo, não devia. Completou o outro estudante. E, mesmo antes de completar a frase, Donato o interrompeu e terminou a discussão.
- É o seguinte, seus doutorzinhos, eu trabalho aqui há vinte anos, todos vocês tem esses papos, esse homem tá nessa vida a todo esse tempo e quantas turmas já passaram por aqui, e essa tal de revolução não veio até hoje.
Terminei o café.
A faculdade da vida é mil grau.

êta enganação.

Salve, eu num guento, me desculpa mas assim não dá, a CUFA (Central única das favelas) que com esse nome "deve"representar muita gente do nosso povo, manda uma nota de agradecimento, tirando os agradecimentos a Globo, depois a Globo e depois ainda a um funcionário da Globo, veja a matéria na íntegra, e conte os nomes dos periféricos lá.

NOTA DE AGRADECIMENTOFalcão Internacional (Prêmio Rei da Espanha)
A CUFA vem por meio desta nota agradecer a todos os parceiros que nos ajudaram nesse projeto ( FALCÃO - MENINOS DO TRAFICO), projeto que começou a 8 anos e que deverá ter seu próximo ciclo com a exibição do documentário na integra em 2009. Queremos agradecer sinceramente a Rede Globo pelo carinho ao inscrever o nosso documentário em alguns concursos e festivais como jornalista Vladimir Herzog, Embratel, CNBB, que alias fomos vencedores, só para citar alguns. Fazemos também um agradecimento especial ao Jornalista Frederico Neves ( Rede Globo ), que é a pessoa que vem usando seu registro de jornalista para fazer algumas dessas inscrições, que por vezes causa nos produtores dos festivais algumas dúvidas em relação a paternidade do projeto, não sabendo a quem creditar a autoria da obra.Nosso agradecimento eterno aos familiares e favelas por aonde passamos. Ratificamos também nosso compromisso de doar para os projetos da Cufa todos os valores que por ventura advenham desse projeto.Nosso agradecimento especial ao roteirista Rafael Dragaud (um dos Fundadores da Cufa, diretor do Prêmio Hutúz, curador do Hutúz Filme festival e funcionário da emissora Globo) a quem nós da Cufa confiamos mais esse trabalho e que esteve sempre empenhado na edição e concepção ao lado dos irmãos e não menos importantes e profissionais: Carlos Eduardo Salgueiro e Frederico Neves. Fica aqui nossa lembrança dos longos meses que passamos juntos para definir o que de melhor deveria ir ao ar, e parece que acertamos.
Afirmamos que será injusto esquecer de outros nomes importantes, mas seria injusto da mesma forma deixar de citar esses personagens decisivos em momentos distintos desta obra, algumas inclusive arriscando suas vidas. Esse projeto não foi pautado em dinheiro ou coragem, mas em amor . Amor aopróximo.
Agradecimentos:
Ali Kamel
Anderson Quak
Ângela Sander
Antônio Amaral
Arthur Lavigne
Astério Pereira
Beto Carreiro
Cacá Diegues
Carlos Henrique Schroder
Carol Delgado
Cláudia Raphael
Dimitri Caldeira
Eduardo Salgueiro
Fausto Silva
Flávia Oliveira
Frederico Neves
Giorgio De Luca
Henrique Mathias
Katia Bárbara
Katia Lund
Kenya Pio
Luis Erlanger
Luiz Nascimento
Luiz Roberto Pires Ferreira
Mano Juca
Marcella Peçanha
Marcia Leite
Marina Maggessi
Miguel Vassy
Nega Gizza
Nino Brown
Paula Lavigne
Pedro Lacaille
Rafael Dragaud
Rafael Ruas
Rafael Vandstadyt
Renata Moutinho
Ricardo Macieira
Rodrigo Felha
Roberta Salomone
Siro DarlanVerônica Dorey
CUFA - Central Única das Favelas

Coisa ruim sempre vem em três.

Salve
Vocês já ouviram falar que coisa ruim só vem em três? porra to achando que isso é a mais pura verdade, eu odiei dar a notícia da morte do Disco D, e já tava com outra pra falar, dessa vez de uma pessoa que foi muito mais próxima e me ajudou muito na carreira, além de ter somado para a construção da biblioteca do projeto perifeira Ativa, e não só isso, era um dos maiores seres humanos que conheci, a alemã Ray Gude, que era chamada de Raynha dos escritores brasileiros, quem tem livros traduzidos sabe da importância do seu trabalho e da sua agência, além da elegância que ela esbanjava, sempre falando baixinho e comedidamente.
A morte de Ray, levada pelo câncer foi a segunda notícia ruim do ano, tanto que até demorei para postar, fiquei abalado porque ela tinha me mandado um e-mail no final do ano, e eu respondi mas não recebi a resposta, coisa que ela nunca deixava no ar. depois num bilhete da Muareen veio o recado, ela havia falecido.
agora a terceira (e tomara que seja a última), fiquei uma semana lendo o ótimo álbum "o Fotógrafo"uma viagem no Afeganistão, e estava doido para indicá-lo a todos, pois é a obra fotografia+quadrinhos+jornalismo mais fantástica que já vi, e quando fui pesquisar o preço para indicar que é R$ 41,40, direto pelo site da conrad editora, que está num preço muito bom, por se tratar de uma obra de capa dura, e de fotografia, descobri que Didier Lefèvre havia falecido, a apenas 4 dias.
ele fez três albuns, o primeiro está disponível pela conrad, ai vai um release do trabalho.


O Fotógrafo - Volume 1 Guibert, Lefèvre e Lemercier Fotografia e quadrinhos para contar a Guerra do AfeganistãoO Fotógrafo é uma das principais provas de que o jornalismo em quadrinhos associado à obra de Joe Sacco já está virando um gênero. O livro lança mão das possibilidades estilísticas das fotos em preto e branco e da versatilidade dos quadrinhos para produzir um trabalho novo e relevante. O livro conta a história do fotógrafo francês Didier Lefèvre, que em julho de 1986 partiu para o Afeganistão acompanhando uma equipe dos Médicos Sem Fronteiras. Naquela época, o país estava em guerra, com tropas da União Soviética lutando contra os guerrilheiros mujahedin (que mais tarde instalaria o Talibã no poder). Lefèvre achou a experiência tão marcante que resolveu transformá-la em livro.Dividida em três volumes, a obra traz o relato pessoal da experiência de Lefévre no país, com as dificuldades e perigos enfrentados pelo profissional e pela equipe de Médicos Sem Fronteiras. A história é contada através da mistura de fotos em preto e branco do autor e quadrinhos assinados por Emmanuel Guibert, com diagramação e cores de Frédéric Lemercier. O primeiro volume chega ao Brasil em novembro pelas mãos da Editora Conrad. A edição brasileira contará com prefácio da diretora de MSF no Brasil, Simone Rocha, que também já esteve em missão no Afeganistão em 2004, quando durante dois meses visitou seis províncias de carro. Atualizando o conceito de jornalismo em quadrinhos, O Fotógrafo é essencial tanto como arte quanto para entender a complexa história do Afeganistão. Nº de páginas: 88 páginasFormato: 23x30 cmISBN: 857616-204-0N.Total de edições:03 exs
e aqui está a notícia oficial sobre sua morte, uma grande perda para os quadrinhos e a fotografia.

O fotógrafo francês e personagem principal do álbum O Fotógrafo, Didier Lefévre, morreu na noite entre os dias 29 e 30 de janeiro, vítima de um ataque cardíaco. Com 49 anos, Lefévre ganhou, no dia 27, o Angoulême, mais importante prêmio de quadrinhos da Europa, pelo terceiro volume de O Fotógrafo. Casado e pai de dois filhos, Lefèvre tornou-se mundialmente conhecido pelas coberturas fotográficas que realizava nas missões da ONG Médicos Sem Fronteiras, visitando ambientes em guerra para o auxílio das vítimas civis dos confrontos.
Sua primeira viagem ao Afeganistão , em 1986, rendeu-lhe a série em quadrinhos (ilustrada por Emmanuel Guibert e diagramada por Fréderic Lemercier) O Fotógrafo. A obra, em três volumes, mistura fotografia em preto e branco com a linguagem ágil dos quadrinhos para retratar a realidade de uma guerra cujas conseqüências são sentidas até hoje no país. Acompanhando os MSF, Lefèvre esteve em países como Libéria, Kosovo, Sri Lanka e Camboja.
A Conrad junta-se aos familiares, amigos e colegas de Lefèvre, lamentando a perda de um talentoso fotógrafo que declarava aos amigos: “Eu fotografo com o coração.
fica ai meu grande sentimento, principalmente porque os albuns de Lefévre são uma grande viagem para se entender o complexo ser humano.
meus sinceros sentimentos.
Ferréz

Realidade Perversa (texto feito para o relatório da O.N.U)

Realidade perversa (texto feito para o relatório da O.N.U)

Pretensão de ter algum respeito, pelo menos na viela onde você mora. Pra isso alguns viram policiais, outros bandidos, e outros preferem a vida mais difícil, a honesta.
Levantar as quatro da madrugada, e lutar o dia inteiro, fritando filé mignon pros outros e sem ter um ovo para dar aos filhos, cuidando da segurança da elite e sem ter segurança no próprio bairro, o povo enche o transporte coletivo, e só volta pra periferia a noite, onde não tem paciência nem para ver o caderno do filho.
A sensação é de desespero, quando chega o fim do mês e você não tem dinheiro para manter a dignidade.
Só queria ter isso, só queria ter aquilo, ter de tudo pra não dar mais tanto valor apenas no pão com manteiga.
No corpo cansado é visível o desgosto, o olhar perdido ao longe, o desemprego é o assunto da maioria, a falta de dinheiro já é rotina.
Policiais petulantes passeiam gastando a gasolina do estado, com arma na mão apavora o mais humilde, da estiletada na cara, rasga a barriga do menor, que não soube dizer porque estava naquele horário na rua, talvez tivesse vergonha de dizer que está ali porque seu pai chega bêbado e o espanca toda noite.
O tráfico continua, o homicida continua, pois a justiça aqui tem um preço.
Pode vim a civil, pode vim a rota, rajada, rajada mesmo só se não tiver idéia, porque o resto o dinheiro compra.
Qual o lado real dessa guerra? O das reportagens policias numa TV que aliena mais o povo, ou o desfile do ladrão de carro importado e ouro no pulso, que com sua aparência convence o menino que a escola não é o caminho?
A cultura criminal já se apossou das nossas vidas, difícil é falar de amigos sem dizer a palavra finado na frente, difícil não falar de cadeia, de briga, de pistola.
O que plantaram pra gente? Desesperança, o que vão colher? Uma geração inteira de psicopata que no começo da vida não teve outro caminho a seguir. Sendo empurrado como um boi para o matadouro.
A escola é quatro horas, a vida é vinte e quatro, o pai não cria o filho, a rua sim, a elite financia a miséria e no final todos se trombam na guerra ai fora.
É muita treta, morar num lugar que ninguém se respeita, onde os ratos desfilam pelas ruas, onde seu filho brinca com a água do córrego, e no final querer competir no mercado de trabalho com o filho da elite que fez inglês desde os cinco anos de idade.
O que estamos plantando para nossos filhos aqui? Não temos nem a consciência de uma cultura, não temos nem como contar nosso passado, então como olhar o futuro?
A vida é um retorno ao grande nada aqui na zona sul de São Paulo a vida é uma grande piada, embora agente quase nunca de risada dela.
Assim como todas as periferias de São Paulo e do Brasil em geral, as leis são outras.
Homens nervosos, com armas na mão, que nunca olham no olho da população, despreparados e desorientados, quantos eu já vi com o sintoma da droga, cheirados até ficar mordendo, aquela arma engatilhada, apontada para um suspeito que no máximo deve ter 12 anos de idade.
Uma coisa gera a outra, e o campo de concentração moderno não tem diversão, é paranóia o tempo todo, ficar sentado na frente do bar, fumar um cigarro, e quando tiver mais idade ir para o baseado e dali para a farinha.
O traficante distribui a droga que a televisão já vendeu a muito tempo, convencendo durante anos que por mais que agente se esforce nunca vai ser como eles.
Eu no meu pequeno mundo não julgo ninguém, porque sei como é duro viver como um zé ninguém, e tantos optaram por viver como rei pelo menos até os vinte anos, vida de ladrão não dá aposentadoria, mas a rapper já fala, quando o filho chora de fome, moral não vai ajudar.
A periferia não é um bloco, somos vivos, somos diferentes, e no fundo temos o mesmo sonho, um futuro melhor, sem covardia, sem drogas, sem sofrimento e sem mortes.
Mas o homem prostituiu tudo e hoje felicidade não é gratuita.

Ferréz, 29 anos, é morador do jardim Amália (Capão Redondo, zona sul – SP) autor dos livros Capão Pecado, Manual prático do ódio e Amanhecer Esmeralda e Ninguém é inocente em São Paulo (objetiva).

Texto Especial e inédito para o Blog Literatura Periférica

Salve manos e manas de bom coração,
fiz um trampo novo e até agora inédito, com todo carinho, quem quiser ler pode digitar www.literaturaperiferica.blogspot.com que é o blog dirigido pelo parceiro Buzo, lá o texto já está disponível.
vamos lá, prestigiem também os outros talentos do gueto, e aproveita e veja também as novidades do poeta Sérgio vaz no: www.colecionadordepedras.blogspot.com e vamos que vamos.

Ferréz 1dasul/lado zona show do mapa.

Metrópole de Aço (publicado na Folha de S. Paulo)

Metrópole de Aço

Mesmo que eu nunca tenha usufruído da suas posses, mesmo que você não tenha dado direitos iguais há seus filhos, mesmo assim, feliz aniversário.
Mãe, eu não te culpo, faltou eu ter a maldade necessária para vencer, mas faz mó cara que eu não escrevo, acho que com todo seu poder, você entende, pois no final, toda rua de São Paulo quando não é contra mão é sem saída, pelo menos para nós que além do poder público ficamos a mercê do poder paralelo.
Sou o menino que passa carregando a carroça ao lado de um carro importado, mais caro que toda minha vida de salário, e estou indo para a esquina onde os rostos manchados por uma vida dura fazem bifurcação.
Sou o menino que assopra a fumaça do baseado como as fábricas fazem durante todo dia, e também sou seus funcionários lá dentro trancados que na maior parte do tempo são mudos e surdos.
Corro pelo trânsito caótico, de quem num tem tempo para abaixar o vidro e nem perceber que ainda estou vivo, desço a ladeira da indignação para chegar num bairro alagado, mas a culpa é nossa mesma, na hora do voto não fazemos o saneamento básico. Sou a idosa que vive de pegar lata vazia pra sustentar os dois netos.
Como nunca fui aposentado, fico a maior parte do dia imaginando o que é viver como o salário de um deputado, também imagino uma bomba que explode e chega a causar efeito no prato vazio de um pai sentado no lixão olhando o filho que nunca ri.
Você sabe que tem filho seu que dorme ao relento, mas mesmo assim o terminal de ônibus diz a todo momento para não dar esmolas, então vamos distribuir pistolas.
Pobre gente que na terra da garoa tenta ver algum sentido na vida.
Passo com minha caixinha de chiclete na rua de um ladrão de gravata que ora e de policial mal remunerado que chora, quando vê que seu igual é um trabalhador sem expressão e sem futuro.
Vejo o concreto, e perante as famílias sem o básico na avenida de tantos fins de semanas trágicos, eu sou apenas mais um rapaz comum.
Na metrópole de aço, colecionador de pedras é o que todos nós somos.
Sou a mãe que reclama da falta de emprego e quando percebe que o filho sem rumo só tem a rua como recurso eu entro, ligo o televisor e viajo na novela
Sou o evangélico com o bolso vazio e muita fé, que olha os imensos cartazes dos bancos e pensa no diabo.
Continuo a caminhar, vendo as guerreiras se prostituírem bem perto da avenida Oscar do luxo, onde a elite branca brinca de Nova York, perante o carro blindado que fica sempre estacionado na zona sul.
Me enfio por onde começa a rua do desespero, no alto de pinheiros, onde um mendigo morreu pra não incomodar mais o dono da mansão.
Sou o alcoólatra que antes morava na rua sem nome e no barraco sem número, expulso pelo verdadeiro proprietário, dono de algum condomínio fechado, que da penitenciária só tem uma diferença, os moradores pensam estar livres.
Mãe, você oferece tanta coisa que sei que não e pra mim, então porque você mente assim mãe?
A senhora sempre cozinhou, na mesa farta, queijos, vinhos, pães, e porque mãe só alguns podem entrar nessa casa? Não adianta ser a capital da fartura se essa fartura é pra uma minoria.
Mãe você adivinhou meu destino, não tem nenhum inocente aqui, mas me diga porque quando você me escreve, só me manda impostos? Seu coração não atende mais nem as emergências, não tem médicos que me curem a dor da solidão que seus prédios autos me causam.
Mãe, você é costureira e continua a fazer a colcha de retalhos, tentando mesmo que seja em vão juntar todos nós num mesmo lugar para depois chamar de lar.
São Paulo se tornou um lugar para os duros de coração, para os outros quem sair por ultimo feche a escotilha.
Mãe, num vou mentir, você ilude as pessoas de bom coração, dizendo que tem oportunidades na sua casa, mas todos sabemos que o preço é auto, quantos eu já vi tirando 6 anos num cadeião, ou mendigando por não achar emprego? Você mata os meninos e envelhece as meninas além de esconder o que te incomoda, como os cemitérios, as prisões, os doentes mentais Acho que você faz isso comigo também mãe, você me isola, porque não pode me dar o que prometeu.
Quando você me mostrava pras tias, elas me apertavam, me beliscavam, me mordiam, porque machucamos as coisas que admiramos?
Na hora que preciso eu não tenho o mesmo tratamento que meus primos, quando ouve aquele desabamento eles ficaram em hotéis, porque eu tenho que ficar com os outros num pátio de colégio?
Isolado aqui na minha aldeia, talvez eu nem seja um filho legítimo, afinal só sei que meu pai é baiano, talvez eu seja somente um bastardo, mas mesmo assim, feliz aniversário.
Do seu filho, Periferia.

Salve Menino Mal

é quente,
amanhã sabadão, eu vou dar uma caminhada logo pela manhã, uma grande caminhada, mas quando tiver olhando em volta, o verde da estrada de Itapecerica, eu vou estar sabendo que é o dia do aniversário do nosso escritor do abraçado ao rancor.
isso mesmo, amanhã, sábado dia 27 João Antônio faz 70 anos.
quem puder, ore, quem quizer beba, quem não acredita viva, porque um dos três ele faria.

tamu junto João, 70 anos de muitas letras.

Ferréz

perda no rap






Salve, hoje me chegou a notícia através do meu parceiro Sérgio Glasberg, que o Produtor Disco D faleceu.
produtor do 50 cent, e também do grupo brasileiro Braza, o talento do menino era nato, através do Sérgio agente tava numa conversa sobre um trabalho musical, não deu tempo nessa vida, mas agente se tromba em outra.
fica ai a nossa singela homenagem a um grande músico, e dono de um grande sorriso.
apenas 25 anos, mas com certeza foram 25 bem vividos.

Salve Disco D.

Ferréz/família 1dasul/rap brasil/hip-hop sp.

Ferréz na Folha

Salve Parceiros.
é quente, dia 25 é o aniversário de Sampa, e nada melhor que dar um texto contundente para seus moradores mais ilustres, os periféricos.
então dia 25 sai na Folha de S. Paulo um texto inédito meu, sobre a cidade do pecado, o nome do texto é "Metrópole de Aço", quem puder conferir, depois posta aqui o que achou, quem deixar passar batido, depois de uns dias eu publico aqui no blog.
é isso ai, expressando o que pensamos sempre, em qualquer trincheira, afinal a guerra tá definida.
Feliz aniversário São Paulo, se conseguir assoprar as velas.
Ferréz



Acabo de ler mais um livro sobre Canudos, dessa vez um Silva que nem eu, o José Erenilson da Silva que nesse romance história narra a aventura épica de Antônio Conselheiro.

O sonho que vira pesadelo, que o Brasil insiste em esconder está em grandes livros, um deles é Os Sertões de Euclides da Cunha, que tem uma importância história fudida, mas na moral é muito preconceituoso, aqui vai um trecho:

Canudos era o homizio de famigerados facínoras. Em dilatado raio do povoado, talavam-se fazendas, saqueavam-se lugarejos, conquistavam-se cidades. Os desordeiros volvima cheios de despojos para o arraial, onde ninguém lhes tomava ocnta dos desmandos.

outro trecho é pior ainda:

Faces murchas de velhas - esgrouviados viragos em cuja boca de ser um pecado mortal a prece: grenhas maltradas de crioulas retintas, cbelos corredios e duros, de cabolcas, trunfa escandalosas de africanas.

e me desculpem mas dá nojo continuar, o relato feito pelo almofadinha Euclides pro vezes juga Antônio Conselheiro e seu povo, que na verdade era as vítimas.

Os Bravos de Belo Monte morreram matando, não se renderam nem se renderiam jamais. Defendia um idela, um sonho de liberdade. olhe as fotos, veja você mesmo, pesquise o assunto e verá uma grande aliança da elite, da igreja e dos governantes para exterminar qualquer tentativa de algo novo, será que alguma coisa mudou?

os guerreiros de Belo Monte queriam um pedaço de chão, um pedaço de paraiso, algo que pudessem olhar e ter orgulho, em vez disso ganharam a guerra.

que o Brasil que continua negando sua verdadeira história, um dia pessa perdão por massacrar tanta gente inocente.

na Gazeta de notícias, Machado de Assis escrevia:

Protesto contra a perseguição que se está fazendo a gente de Antonio conselheiro. em que consiste a doutrina desse homem? deve exercer uma fascinação muito grande. trato de conselheirismo e por causa dle é que protesto e torno a protestar. precisamos conhecer as feições do Conselheiro, essa celebridade cujo nome faz baixar os nossos fundos em Nova york e em Londeres. Caso destruam Canudos e dizimem seus habitantes, que nos ficará depois da vitória da lei?

depois de alguns dias desse texto, a cabeça de Conselheiro foi levada pelos soldados.

história é foda, dá revolta, mas também nos abre os olhos.

Ferréz

Novidades na Biblioteca Ferréz (Osasco)




Biblioteca

Ferréz



















Essas fotos foram tiradas por Rosi Ribeiro, na Biblioteca Ferréz em Osasco.
lá trabalham além dela, a Daniela e a Zilda que cuida da educação e dos trabalhos escolares, além dos 2 computadores serem usados para pesquisas o acesso é livre.
também tem leitura diária dos jornais e reforço escolar.
e com sempre tem uma exposição rolando, a utlima que vi foi do grafiteiro Fhero.
quem quiser vizitar a biblioteca Ferréz, além de ter acesso a tudo isso, vai viajar no lugar que é todo feito para agente, é só colar na Rua Ciro dos Anjos, 80
Vila Osasco - Osasco.
fones: 3698-5601/3698-5727

e ainda lembrando que em breve vamos inaugurar a Biblioteca Nego Dú, (que vai ficar na minha responsa) e o estúdio êxodus (que vai ficar na responsa do mano Brown), tudo isso no projeto Periferia Ativa, na Sabim, rua Godoy.
e ai, qual a desculpa pra não ler agora heim?

abraços
Ferréz

hoje a Cooperifa pega fogo

Salve rapa, hoje mesmo, hoje a cooperifa pega fogo.
essa quarta feira vai ser quente, quente, muito quente.
presenças confirmadas, Sidney (campeão de jitsu), Marcelino Freire, Negredo, eu também e além de todos os talentos da Cooperifa ainda vai rolar um show do Gog.
putz grila é muita coisa pruma quarta feira.
só na perifa mesmo, quem puder colar, já é. quem não puder eu sinto muito, mas vou curtir muito por todos.
agente se vê na quebra.
Ferréz

Eita Porra, o sarau vai explodir na quarta.

Salve,
é isso memo nêgo, na quarta o sarau vai pegar fogo, tô voltando agora da biblioteca da periferia ativa, que tá sendo pintada pra inauguração (calma eu aviso aqui quando for a data) e o comentário é um só.
show do Gog no Sarau da Cooperifa.
e tem mais, confirmaram presença (pelo menos pra mim) Marcelino Freire, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Paulo Coelho, Robson Canto, Pezão e vem até gringo, to negociando com o Gorki e com o Bukowski e tá quase fechado.
Vai perder? vai ficar no BBB? azar o seu, eu vou tar lá, e uma pá de mano e mina de bom coração também, vamos fazer da perifa uma só voz, de indignação e de esperança, quem viver verá, quem não, rezará.
Ferréz

Salve Rapa
agora é sem volta.
A coletânia 1dasul já foi pra prensa, êta coisa difícil é fazer o disco, finalizar, ligar pra todo mundo, estúdio, letra, ave maria, quem já passou por isso sabe.
mas finalmente a criança vai nascer, é questão de 20 dias agora.
independente, sem porra de atrasa lado nenhum, porque já finalizei vários trampos, mas na hora agente entrega pro zotro, então fica tudo assim, agente num recebe, (tem distribuidora me devendo uma quantia tão irrisória que dá vergonha) mas é assim mesmo, agora num tem desculpa é tudo nosso.
vamos ver, só tem que tomar cuidado, porque se der certo....ah! ai eles nunca mais vai ver nada nosso, temos que tomar o rumo da nossa história.

em breve, mais um capítulo dessa luta estará em nosso dia a dia.
Ferréz
Tenho acompanhado os textos de Ferréz diariamente em seu blog, e a cada um que leio sei que aumenta mas a responsabilidade de quem escreve, e aumenta a auto-estima de quem lê.
Se já não bastasse tudo isso, também é impossível degustar suas palavras, sem que a alma saia ferida ou incomodada.
Suas lâminas são mais afiadas do que parecem.
Não recomendo sua literatura aos desavisados, os cortes são profundos.
Ao lê-lo, sempre, lembro do fime "Edward mãos de tesoura, é isso.
O resto é perfumaria, o resto é miudeza de armarinho.
firme na luta e no respeito,
Sérgio Vaz

Faleceu um dos melhores

Até mais Leo Gilson Ribeiro, a literatura fica mais pobre com certeza.
Faleceu na tarde do dia 11 de janeiro, aos 77 anos, o jornalista e crítico literário e teatral Leo Gilson Ribeiro, editor da seção Janelas Abertas de Caros Amigos. Tendo sido alto executivo da Olivetti, Leo Gilson, nos anos 1960 optou por ser crítico literário na imprensa, tendo passado pelo Jornal da Tarde, muito influente na época, e pelas revistas Realidade e Veja. Era doutor em literatura pelas universidades de Hamburgo e Heidelberg e amigo pessoal do escritor Guimarães Rosa e da poeta Hilda Hilst; com toda essa bagagem, tornou-se um dos críticos literários mais influentes e mais respeitados do país. Foi premiado com o Jabuti em 1968 e com o Esso (de reportagem) em 1969.

Durante toda a sua vida Leo Gilson foi um batalhador pela cultura das letras no Brasil. Atacava ferinamente as traduções malfeitas, as edições improvisadas – procurava impor o respeito ao leitor. Combateu incansavelmente a incultura nacional, procurando difundir a boa literatura por todos os meios a seu alcance. Profundo conhecedor da literatura universal, não se conformava com o fato de os brasileiros não terem maior consideração pela sua própria leitura; achava, por exemplo, perfeitamente cabível que o poeta Carlos Drummond de Andrade fosse considerado como sendo de estatura mundial e merecedor do Nobel. Além dos muitos ensaios publicados, escreveu livros de crítica literária entre os quais se destacam “Cronistas do Absurdo” (ed. José Álvaro, 1964) e “O Continente Submerso” (Editora Best-Seller,1988). No teatro escreveu a peça “Balada de Manhattan” que recebeu o Prêmio Governador do Estado em 1971 e traduziu textos de Tennessee Williams e Steven Berkoff.

Politicamente, Leo Gilson era acima de tudo um defensor da liberdade, e se opôs, por exemplo, ao regime soviético, por sua censura aos escritores, e, ao regime cubano, além disso, pela homofobia de seus dirigentes principais. Mas também compartilhava dos sofrimentos da grande maioria da população brasileira e mundial, e, levado por sua conversão ao budismo, lutava também incansavelmente pela melhoria das condições de vida dos povos, pela paz e pela solidariedade internacional.
a Caros Amigos perde um grande jornalista e os amigos perdem um grande amigo, até mais parceiro.
Ferréz


O sepultamento se dará amanhã, dia 12, após velório, no Mausoléu dos Jornalistas, no Cemitério São Paulo, em horário ainda a ser estabelecido. As informações sobre os horários, do velório e do sepultamento, serão dadas pelos telefones (11) 3819 0130 (Revista Caros Amigos) e (11) 3032 5986 (Cemitério São Paulo).

Vida em manutenção (texto inédito)

Vida em manutenção.

Um dia desses fui junto com um amigo no bom prato, projeto tão lembrado durante a campanha política. Cada um faz seu paternalismo de um jeito.
Lá a realidade é só uma, saquinho de farinha no bolso pra misturar com a comida, gente que chega as 10 da manhã com medo de perder a fila. Um senhor logo começa a falar comigo. – Fio, porque eles num faz janta também? Porque eles num dá um café da manhã?
Eu balanço a cabeça e finjo não saber a resposta enquanto não tiro os olhos daquele senhor, que na pele mostra o tanto que já sofreu.
E não é só isso, e o que será que eles comem no sábado e domingo? Então antes de sair eu pergunto, ele reponde com uma palavra. - Pão.
Por um momento penso que a sobremesa do bom prato bem que podia ser um livro.
Paro a viagem, vou pegar a real sobremesa, uma mexerica, que estava com uma casca difícil de tirar, fui saindo de boa e trombei outro amigo e logo perguntei.
- mas você num ta trabalhando?
- to sim, naquela loja ali na frente.
- e porque come aqui?
- você sabe né, economizar os tickets pra mistura e pra feira.
- e você?
- bom, eu sou escritor, num preciso falar mais nada né?
Dou um abraço no amigo e saio pensando na cena que vi ontem, os camelôs apanhando no centro da cidade, sempre a mesma coisa, vai chegando fim de ano o bicho pega, lembro do chefe das subprefeituras falando que aquilo não era vendedor ambulante, que eles só vendem coisas contrabandeadas, boa conversa, discurso de quem nunca passou uma dificuldade é sempre comovente.
Ele é daqueles que nunca pagou pra tirar a carta de motorista, nunca tenha dado um qualquer pra um policial evitar a multa, nunca prejudicou alguém no escritório, nunca falou mal de alguém e fez uma conversa virar problema, nunca tenha ficado calado quando soube de um esquema maior. Não ele não. Ele é o onipresente nesse momento, o senhor da verdade absoluta, assim como vários homens entupidos de retórica.
A vida aqui fora é outra, se você não a vive, não sabe do que se trata.
Dizem que sou revoltado, quando falo em algumas questões ficam abalados, mas tantos olham e não enxergam.
Senhor, formigueiro humano, compra de natal, eles usam seu nome em vão, constroem templos gigantescos, massacram os mais humildes mentalmente com histórias distorcidas, quem for inocente jogue a primeira cruz na rua.
Tudo virou comércio, seu sonho não é mais ser, é ter, iates, cavalos, gados com chips enquanto crianças perdidas não valem uma casa de abrigo. Sinto muito, mas a modelo sem calcinha é a notícia da semana.
Genival veio me dizer um dia, que não tem espaço para coisas positivas na mídia, eu aprendi com você Genival, vende tanta Caras, vende tanta Tititi, vende tanto porque eles são os ricos que meu povo adora.
O tema se tornou recorrente, favela, violência, seqüestro, roubo.
Mas na propaganda do disque denúncia é só seqüestro, crime contra pobre num conta, num adianta denunciar, agente quer é seqüestrador.
Eu sei que todos falam da guerra, mas se isso é uma guerra, porque não vejo vencedores nem ontem nem agora?
Consumismo desenfreado, pra não ficar chateado toma o meu cartão, compra algo.
Qual o tamanho do seu sonho? Ele tem 2 ou 4 rodas, tem estilo? Ou você tem ou não tem. Ele é azul, metálico? Ele é slim? talvez seja digital, prata? Veloz? Talvez seja leve, fácil de transportar e de teclar, pode ser de esquentar, também pode ser que ele frite coisas, ou só as cozinhe, mantendo assim as proteínas. Talvez você leve ele no pulso.
Talvez você coma ele. Seu sonho dá para enrabar? Talvez você monte nele, seu sonho seria um par de olhos? Belos e fixos dentro da sua alma?
Más notícias pra você, felicidade não vem com nota fiscal.
O problema do Brasil minha pequena Lisístrata é esse. Que trabalho vão me dar? Onde vou me encaixar no mercado? Tem vaga mais pra ninguém não, ta difícil pra você ta difícil pra todo mundo, você tem que ser criativo se quiser comer.
Estou falando do que vejo, um monte de gente que nem você indo pro mesmo caminho, fila pra emprego, trafico, roubo de gravata ou sem, é tudo a mesma coisa, só diminui ou aumenta o grau de humilhação, no final uma coisa sustenta a outra, ou do que viveriam tantos advogados, promotores, delegados, juízes?
Falam em matar, falam em palavras que não fazem curva, mas só atiram em iguais a vocês, somente um motivo, banal, qualquer coisa e bum! Acabam com uma vida, mas nos muros de todo o morro, nomes de políticos, uma esmola sequer, e lá estão vocês envolvidos, não vêem que eles são os reais inimigos? Com seus ternos caros, suas caras de porcos, suas mentes mais sujas que os córregos que nos cercam? Eles são os inimigos, são os mentores por traz de toda essa miséria, toda essa violência, e pior meu filho, quem elege eles é você, é como se alguém te desse a incrível oportunidade de você mesmo se prejudicar.
Vamos fazer um acordo? parar de matar a esperança, distribuir o falso troféu de uma vida curta, alimentando essa cadeia de parasitas, que só vêem agente traficando, que só vêem agente se prostituindo, quando na verdade não tem mais gente honesta do que aqui.
honesta sim, todos como meu amigo Paulo, trabalhador que sonha com seu carro ano após ano, tem muitos. Venha na favela de madrugada e veja quantos ônibus saem lotados pela manhã? Ou vocês vão me falar que é tudo ladrão, ladrão meu querido não enche ônibus.
Mas criminalizar o gueto é necessário, ah! Isso não pode parar, se não o povo vai se revoltar com o que heim? Temos que linchar o pé de chinelo, para o colarinho branco se candidatar de novo.
Temos que começar de novo, reformular tudo, se fala tanto do tráfico, e os barbitúricos, e os tarjas pretas?
Agente só vê o que quer meus amigos, mas ninguém aqui está com a razão, ela já fugiu desse país a muito tempo.
Uma coisa não legitima a outra, mas opressão demais num cheira bem. Num sei muita coisa não, mas tenho certeza que se tem que escorrer tanto sangue por isso, se vamos morrer, que seja por rasgar a constituição, afinal ela só serve pra quem tem dinheiro.
A nossa vida não tem que ser uma filial do Afeganistão, se tiver que ter uma guerra que seja contra quem oprime e não contra outros oprimidos.
Um dia agente vai entender porque não tem ensino, porque é mais barato sermos treinados segurando uma pistola e matando outro periférico.
Caixinhas, todos somos separados em caixinhas, mas a pergunta é. Quem embala tudo isso?
Mudar daqui é mó mamão, mudar a favela é difícil, mas agente tem que tentar, tem que continuar nossa pequena parte nisso tudo, eu fiquei aqui, minha filha vai nascer aqui, eu quero que esse seja o melhor lugar do mundo pra ela e pra todos os que vão continuar aqui, quem é não comenta, essa é a pegada, eu continuo acreditando que a revolução será silenciosa e determinada como ler um livro a luz de velas em plena madrugada.


Ferréz (direto do campo de extermínio)


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Pegou um Axé (Ferréz)

Pegou um axé. (Do livro Ninguém é inocente em São Paulo, Editora Objetiva)

Cheguei cedo naquele encontro.
Minhas mãos estavam suadas.
O nervosismo sempre me acompanhou, desde a época do colégio.
Quem diria que fosse terminar a faculdade tão cedo?
E ninguém acreditava que aquele garoto acanhado fosse entrar no maior jornal do país.
Também as coisas não foram tão trabalhosas.
Uns telefonemas do meu pai e pronto.
Mas saiba que eu estudei pra caralho, viu?
Trabalhou a vida inteira no meio, então nada mais justo que indicar o filhão.
Profissão filho, o caralho, eu ralei, mané.
Eu ralei pra caramba mesmo, uma vez até tive que lavar banheiro num acampamento.
Foi um dia que a empregada se injuriou com a bebedeira da gente.
Bom, só sei que estou quase indo.
Vai ser a maior aventura da minha vida.
Por isso fumei um baseado antes.
Mereço um pouquinho de emoção.
Todo dia ficar naquela redação dá nos nervos.
Tudo isso para pagar a casa na praia.
Pra ser sincero, se tivesse um maconha e uma farinha de vez em quando tava bom.
Mas fui arrumar mulher, e aí já viu, elas sempre querem alguma coisa.
O gasto com cabelo é fichinha perto da nova decoração que ela quer na casa.
As amigas fazem o mesmo com os maridos.
Meu tio me dizia que putas são mais honestas, já cobram logo adiantado.
Isso forma uma rede, onde elas querem, nós damos e ninguém é feliz.
Todas as amantes estão esperando o casamento dos seus pretendentes chegarem ao fim.
Conheci uma mina na facu que ficava molhadinha quando via homem casado.
Devia ter um museu para os vários tipos de mulher nesse mundo.
Bom, acho que é ele.
Preto com roupa larga, só pode ser.
E aí, tudo bem?
Tudo bem, rapaz, demorou um pouco.
É que o relógio da rua é de outro ritmo, tá ligado?
Sei.
Odiava aquele tipo de conversa, mas por uma matéria a gente até conversa com eles.
Começamos a andar, eram tantas gírias que eu estava prestando atenção somente nos finais das frases.
Acho que eles são todos iguais.
No final, se essa reportagem vai ficar muito boa, posso até continuar e desenvolver uma pesquisa.
De repente fazer um livro, afinal esse assunto está na moda. E melhor ainda, aprovar na lei de incentivo e já sair com o livro pago, isso é que é malandragem.
Figura estranha, não pára de falar, também são 500 anos de pobreza.
Falta de dinheiro deve gerar uma deprê neles do caralho.
Por isso eles usam também tanta droga.
Vai ver o pai deles não trabalhou que nem o meu.
Fiquei sabendo que eles ficam só bebendo e jogando bola.
A visão vai ficando pior, quanto mais a gente anda, mais barraco vai aparecendo.
Começo a me arrepender de ter insistido na idéia.
E se isso virar um pesadelo, o que vou fazer?
As ruas são inacreditáveis, buraco por todos os lados.
Bom, qualquer coisa eu digo que ajudo uma ONG.
Isso, posso até pensar em fazer uma ONG, isso dá dinheiro demais.
Posso até dizer que tenho um policial na família.
Não, melhor não, sei que eles têm ódio de polícia.
Esse rapaz não deve ser mau, afinal foi minha tinha que indicou.
Ela tem uma empregada que é vizinha dele.
E no final esse pessoal do hip hop acha que pode mudar as coisas.
Não podem nem pagar a pensão pros filhos e querem mudar alguma coisa.
E esse negócio de sistema, de jogo.
Um dia eles acordam e notam que a coisa é assim mesmo.
Pra uns terem muito, a maioria tem que se fuder sem nada.
Bom, parece que finalmente chegamos.
Bar do Zezinho é o que ele disse.
Começou a me apresentar para a rapaziada.
Firme e forte.
Tô legal e vocês?
Então, o doutor é jornalista.
Sou, sim, mas sou do bem.
Do bem era aquele tal de Tim Lopes, há, há, há.
A risada ficou generalizada, não conseguia achar graça mas comecei a rir.
Sei lá o que passava na cabeça daquela gente, estava quase todo mundo chapado.
Se eu escapasse dessa talvez nunca mais iria para um buraco daquele.
O neguinho que era meu contato pediu para que eu entrasse.
Fomos caminhando para o balcão do bar.
Lá, ele me serviu um refrigerante.
Disse que os outros caras do grupo logo estariam lá.
Fiquei mais aliviado, pelo menos não demoraria mais.
Se eles não tivessem chegado logo eu teria saído fora.
Bandas de rock são tão legais de entrevistar.
E eu pagando mó veneno ali, naquele boteco fedido.
De repente chegaram mais três neguinhos.
Eles falaram os nomes, e seguraram firme na minha mão.
Comecei a entrevista.
As primeiras perguntas foram sobre a profissionalização do rap.
Mas eu queria logo é partir para a violência.
Eles deveriam ter dezenas de histórias desgraçadas.
Eu já tinha as perguntas na ponta da língua.
O que os policiais tanto procuram aqui?
Por que eles agridem vocês?
Eles discriminam vocês pela cor?
Quem comanda o tráfico?
Mas para isso eu tinha que ir devagar.
A Edilene disse que eles são bem sistemáticos.
E eu sabia que ia conseguir que eles abrissem a boca.
Eram meio ingênuos.
E por traz daquela marra toda, só tinha quatro meninos com um sonho.
Ser um grupo de rap famoso.
Foi quando vi aquele menino com um facão nas mãos subindo a escada para o andar de cima do bar.
Pensei em perguntar, mas quando ele já estava no ultimo degrau, disse.
Desse não sobra nada.
Comecei a tremer, mas tentei disfarçar, fiz logo várias perguntas sobre o tal do hip hop e eles foram respondendo.
Confesso que não entendia nada, só via as bocas se mexendo.
Não conseguia parar de pensar.
Era assim que eles eram.
Com certeza havia um cara seqüestrado lá em cima e aquele menino talvez fosse machucá-lo.
O que eu poderia fazer?
Tentei lembrar das propagandas do Disque-Denúncia, o número era muito comprido, não vinha inteiro na minha mente.
E se eu pegasse o meu celular, talvez até me roubassem.
Mas não me deixariam vivo, roubo seguido de morte.
Foi quando um homem se aproximou com uma serrinha de cortar cano e também subiu.
Meu Deus, coitado daquele homem, talvez fosse até um ex-amigo de faculdade.
Talvez o pai da Caru, minha esposa.
Afinal o pai dela era banqueiro.
Os negrinhos continuavam a responder às perguntas, divagando sobre a cultura da periferia.
Eu estava suando frio e quase desmaiei quando vi o homem que havia subido com a serrinha descer já todo sujo de sangue.
Tentei lembrar de algum trecho da música do Racionais que me servisse para argumentar a favor da minha vida, mas tudo sumiu da minha mente.
Eu só escutava essas músicas quando tava na balada.
Por um momento minhas vistas escureceram.
Eu fiz um grande esforço para não desmaiar.
Lembrei do meu cachorro Frank.
Dos meus peixinhos Josef e Ernesto.
Lembrei dos filmes do Woody Allen.
Eu só queria comer uma Pizza-Hut novamente.
Talvez mais uma ida ao Caribe.
O homem que havia subido com a serrinha desceu todo sujo de sangue.
Agora no fundo da minha alma eu sabia que não sairia dali com vida.
Eu ficava ouvindo Korn o dia inteiro e agora não sabia uma frase de rap para salvar minha vida.
Uma vez vi um neguinho na TV, ele era do rap também, mas não lembro o nome dele.
Os meninos do hip hop agora estavam parados à minha frente.
Certamente não entendiam o que estava acontecendo comigo.
Eu sei que estava quase entrando em choque.
Tinha que me acalmar.
Lá de cima vinha muito barulho, vozes misturadas.
Meu Deus, o que estariam fazendo com aquele homem?
Pedi para que cada um falasse um pouquinho da sua vida.
Eles começaram a contar dos primeiros empregos.
Imaginei o homem amarrado, implorando pela vida.
Não lembrava do neguinho que vi na TV, eu não tinha nome nenhum para falar, para me valorizar.
Os neguinhos agora falavam das dificuldades com a família.
Principalmente com o pai que sempre bebia.
Eu não conseguia me concentrar.
Talvez tivessem abrindo ele como se abre um porco.
Uma senhora se aproximou da escada e gritou.
O rim é meu, o Bahia me deve.
Foi nessa hora que minhas pernas fraquejaram.
Sempre pensei que todos merecem uma chance.
Eles mereciam, eu também, aquele homem também.
Porra, justiça social do caralho, tão esquartejando o homem.
Os meninos me seguraram antes de eu cair por completo no chão.
Me arrastaram pra uma cadeira.
Eu pensando nos rins do pobre do Bahia.
O que será que esse tal de Bahia havia feito?
Talvez estupro.
Os meninos do hip hop tentavam me dar água.
Talvez tivesse roubado algum morador, ouvi dizer que eles não perdoam isso.
Eu só conseguia imaginar os rins do homem nas mãos da velha.
Fizeram eu beber um pouco.
Percebi que a água estava com açúcar.
O homem que havia subido com a serrinha e que estava sujo de sangue se aproximou.
Eu fingi não vê-lo, ele perguntou se precisava de ajuda.
Tentei pronunciar alguma palavra, mas nada saía.
Meu pequeno cachorro Frank, como ele gostava de dormir comigo.
Minha querida esposa reclamava, mas eu insistia em dormir com ele.
O último livro que estava lendo.
A prestação do carro novo dela.
Tantas coisas, talvez um filho.
Mas fariam isso comigo antes.
Os malditos iam me picar também.
Me sentia como no filme "O Massacre da Serra Elétrica".
Povo desumano.
Talvez seja por isso que eles viviam sofrendo.
Esses tipos de coisas eles traziam da África.
Lá era legalizada essa porra toda.
Meu pai dizia que eles eram amaldiçoados.
Meus amigos nunca mais me veriam.
Comecei a notar os rostos do meninos do rap de novo.
Estava voltando a mim.
Metade do pessoal do bar começou a subir as escadas, todos passavam por mim apressados.
Seria agora, era a hora que eu imaginava.
Aquela porra de lugar era como nos países onde a pena de morte é legalizada.
Todos queriam ver o homem morrer como se fosse um show.
Eu lembro de ter parado no terceiro Pai-Nosso.
Eu tinha tantos planos, talvez o meu próprio jornal.
Tanto estudo, tantos cursos, para acabar nesse buraco.
Começaram a descer, eu desmaiei de novo quando vi todo aquele sangue nas mãos deles.
Duas horas depois acordei.
Havia uma balança no balcão do bar.
Uma faca cortava a todo momento uma grande peça de carne.
Pessoas saíam da fila com sacos cheios.
Os meninos do hip hop haviam desistido da entrevista, estavam todos ao meu lado.
Era um coisa que a comunidade sempre fazia, me explicaram.
Comprar um boi e dividir as partes.


(Esse conto e mais 17 estão no Livro: Ninguém é inocente em São Paulo, editora Objetiva).

Purque só pruz bacana fí? (texto Inédito)

Purque só pruz bacana fi?

Hoji sou ladrão, artigo um cinco sete...
Carái, de novo essa porra?
Hoji sou ladrão, artigo um cinco sete...
Porra fi, só sabe cantar essa.
Eu sei outra.
Quem ta te chamando na conversa?
Deixa.
Cóu qui é?
U homi na estrada recomeça sua vida...
Carái, essa é muito véia.
Qui nada, então lança uma ai?
Num sô canto.
Mas lança ai fi!
Carái, para cum essa porra de fi.
E você, só com o Caralho na boca?
É mesmo Hugo, só vive lançando Carái.
Ta bom, ta bom, vamu faze o que hoje?
Sei lá, vamu no novo shopi.
Faze o que? Apanha do segurança di novo?
Fi, ele bate em nóis mais não.
Bate não? E os cascudo que tu levou neguim?
Foi de vacilação do Hugo, que caiu pela rampa.
Também, rampa de alejado do caralho.
Mas e ai, vamo faze o que?
Num sei, olhar carro de novo?
Ta foda Marcinho, nóis ta ficando grande já.
Grande? Tenho 8 ano porra, e você?
Eu tenho 9 igual ao Hugo.
É memo fi, já fumei até baseado.
Grande merda, baseado de bosta de vaca.
Ai fi! tira biqueira do cara não, lá eles vende um dá hora.
Quem dá hora é relógio, neguim.
Para de me chamar de neguim.
Porque?
Tipo ta me tirando.
Acho que cê ta ouvindo muito rap, ta até pensando qui é gente.
Sô gente sim, e... se liga ai.
Carái, olha que pegada mostro.
É uma academia de musculação.
Vamu cola lá e vê?
Vamu.

Sim?
Agente queria só olhar, moça.
Bom...pode ir lá na frente e ver, ta vendo aquele vidro?
To sim moça.
Então, olha por ele, depois raspa fora daqui.

Ta bom moça.
Olha que loco.
Pode crê Hugo, que bagulho dá hora.
É piscina isso ai!
Pode crê, piscina com vários boy.
Num é boy não fi, aquele cara ali mesmo ele mora lá na favela.
Pode crê, o irmão dele joga uma bola no campinho.
É, se ele ta aqui é porque o bagulho num é de boy.
Isso num tem a ver, e se ele for boy?
É...pode ser.
Carái.
Bem loco né?
Calor desses, dá até vontade.
Pode crê, água geladinha.
Olha Hugo, até babou.
Sai pra lá filha da puta.
Ta nervoso? É o sol nu côco.
Ei! vocês? Por favor, já viram, agora pode sair.
Nossa moça, só tamu olhando.
É, mas já olharam muito, isso aqui num é Febem não, agora rua.
Rua é o caralho, corre rapa!
Ei! Volta aqui.
Que bom, porra muito louco, carái que gostoso, porra afunda de novo, puta que pariu, viva caralho, gostoso pra caralho, corre não tia, aqui ta pela ordi, joga água na cara do Hugo, olha isso, to nadando de cachorrinho, isso sim é chapado, pode crer que gostoso, para de falar e vamu ralar, ah! É? Então me pega agora, eu te pego fi, sei nadar de costa, isso ai é boiar, há há há.

Então Senhor policial me fala o que ta acontecendo.
Tudo bem, mas num bate no menino agora não, espera agente levar os outros dois pra casa deles, depois o senhor educa ele.
Tá, mas me fala o que aconteceu.
Bom, segundo o relato da Dona Cíntia, recepcionista da Academia American, esses menores tavam olhando a piscina pelo outro lado do vidro, ai de repente eles correram, passaram pela catraca e invadiram o recinto, ou seja pularam dentro da piscina.

Ferréz