Luzes no Abismo
Tudo que é óbvio enruga minha pele
Irrita minha índole
As várias variáveis do mesmo
Contaminam-me as veias
Causam febre e tremores.
Eu vi sedas e granadas nas estradas
Arranquei os cravos do não-pecador
Quebrei os vitrais da grande queda
E com os cacos rasguei meus pulsos.
Quis eu a morte digna
A vida intensificada.
Disse-me meu coração:
Encerra os livros
Esqueça as escrituras
E ponha-se no caminho!
Foi lá que aprendi a sangrar e gozar
Com insuperável intensidade.
Singrei tantos mares selvagens
Tantos continentes imaginários
Que me tornei borboleta
Morcego e fera.
Com mandíbulas de prata
Corroí as vertigens da lei
Com o fogo da língua
Submeti as serpentes encantadas.
Os néons não mais me seduzem:
São apenas gases nobres em tubos pré-fabricados
por mão-de-obra miserável!
Tudo que é v azio me atrai:
É terreno livre
Planície deserta
que espera ser preenchida.
E eu tenho sementes, minhas mesmas,
germinadas com chuvas interiores!
Sei amar minha solidão
Não temer meus ossos expostos,
Aprendi a costurar meu próprio joelho
Quando me arrebento nestes abismos de ecos profundos...
Cernov
Cernov é escritora e lançou o livro Amazônia em chamas pelo Selo Povo.
Um comentário:
Sensacional!
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