Universo Geek, negócios e colecionismo no Brasil.
Poder ir a grandes eventos como a Comic Con, a famosa CCXP,
sempre é um aprendizado, dessa vez quando cheguei na periferia de São Paulo,
muita gente me perguntou como foi o evento, ele ganha cada vez mais importância
a cada ano, mas não é fruto de sorte. Muito trabalho, programação, e parceiros
envolvidos para que o mundo geek ganhasse essa importância.
O grande responsável é o multi gerador de conteúdo Omelete,
que num trabalho pioneiro vem soltando seus tentáculos que culminaram no CCXP.
Pequenas iniciativas também foram crescendo, o trabalho de
alguns jornalistas divulgando essa cultura, que alguns anos atrás era ridicularizada,
sempre se mostrando só as famosas “fantasias” ou cosplayers como são chamados.
Eu como bom nerd, andei muito na feira, voltei com as costas
travadas, fiquei horas em pé no artists alley, como é chamada uma praça onde
ficam os artistas nacionais e internacionais, assinando prints, fazendo skets e
dando autógrafos.
São momentos como esse que fazem a feira valer a pena, os
stands estão cada vez mais gigantescos, caprichados, mas também com filas imensas,
é impossível curtir 10% do evento em cada dia.
O que não vou deixar de criticar foi o acesso do
estacionamento, tinha que andar muito, até ai tudo bem, desde que não tivesse
uma passagem da full experience na sua cara, a full experience é um cartão
digamos de “elite” onde se paga bem mais caro e você tem direito a ir uma noite
antes de abrir a feira, acesso livre aos artistas e também brindes e tal. Pra
mim tudo bem até ai, mas porque uma entrada bem na cara do estacionamento
reservada só pra quem pagou R$ 6.999,00? Pode dar regalias? Claro, o cara pagou
isso tudo, mas pra que o “povão” tem que sofrer de contrapartida?
Também não curti o stand da Riachuelo Geek, sempre tem cara
de apropriação da cultura, diferente de marcas como Irons Studios, Toys
Collection e outras, a major Riachuelo não me faz engolir seu lado nerd, mas
foi um dos lugares mais concorridos do evento.
O mundo dos heróis está cada vez mais popular com filmes,
séries e tudo isso começou nos quadrinhos. Quando alguém pergunta por que não
fui ver o novo filme da Marvel, a vontade é dizer que já li tudo isso a pelo
menos 20 anos antes, sei o final, o andamento da história e tal, mas me controlo
e digo logo que ainda vou ver, muito trampo explicar que Jack Kirby criou tudo
isso e mal tinha dinheiro pra pagar sua hipoteca.
Um grande negócio se constrói mesmo assim, e o tamanho do
mercado está sendo construído aos poucos, peguei dois depoimentos para essa
matéria, um do jornalista Alexandre de Maio, que também é desenhista e
envolvido nesse universo, e outro do JP da Social Comics, simplesmente o
primeiro e maior serviço de streaming do Brasil, e que pertence ao Omelete
Group.
Lendo uma matéria do Danilo Ferreira Zanini no face, me
acendeu ainda mais a vontade de escrever sobre esse mercado, sou colecionador
desde os 7 anos, nunca imaginei que poderia andar num espaço com gente com o
mesmo gosto que o meu, passar por inúmeros desenhistas e profissionais do meio,
conversando, conhecendo, dividindo experiências, esse é o maior triunfo da
CCXP.
O mercado está em grande expansão, temos uma marca de
colecionáveis brasileira, a Irons Studios, coisa impensável antigamente. Temos
uma franquia de roupas nerds, a Piticas que está em dezenas de shoppings, e uma
agência para talentos nacionais como a Chiaroscuro Studios.
Falta algumas vertentes, e tem espaço de sobra pra
crescimento, espero que o texto tenha somado de alguma forma, afinal a palavra
crise parece não grudar no lado geek da força.
Veja a opinião de Alexandre de Maio e JP.
- Eu sinto falta no mercado de quadrinhos de ver mais
trabalhos autorais ganhando visibilidade, sinto falta de representatividade de
negros, lgbts nas HQs, sinto que vem mudando mas precisa avançar mais. E outro
ponto importante nesse mercado seria uma boa distribuidora de HQs
independentes, tanto nas bancas, como nas livrarias.
Alexandre de Maio (desenhista, jornalista do Catraca Livre).
Eu acho que o mercado geek no Brasil, e no mundo, está em
constante ascensão. Ainda tem muito pra crescer por que estamos falando de fãs,
de paixão, não é como comprar um sabonete por exemplo. Só que especialmente no
Brasil precisamos valorizar o que é nosso. Olha quantos quadrinhos são
publicados no país por artistas independentes, muitos com histórias incríveis
que não deixam por nada os estrangeiros. Uma vez tive uma reunião com um diretor
de conteúdo de uma grande emissora. Na ocasião ele comentou que a filha dele
não tinha nem ideia do trabalho que fazia pois vivia grudada na Netflix. Eu
disse a ele que em vez de fazer novela eles adaptassem histórias de quadrinhos
Brasileiros que com certeza ela iria achar muito legal. A gente fica sempre
naquela incógnita o ovo ou a galinha. O público não reage tanto a conteúdos
nacionais ou é por que não temos investimentos nos conteúdos nacionais para o
público reagir? Acho que temos de ter mais quadrinhos nacionais adaptados para
cinema, games, mais incentivos para autores, escritores. Mais eventos
específicos, enfim. Temos bastante potencial e um mercado considerável, só
temos de desenvolvê-lo. Talvez esteja começando esse movimento, mesmo que de forma
modesta, mas já é um primeiro passo. Quem sabe daqui a alguns anos a gente não
tenha filmes, séries, games brasileiros bombando pelo mundo? JP, Social Comics
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