Cidade de Deus, texto especial para a nova edição do livro de Paulo Lins
Cidade de Deus (Texto especial para a nova edição do livro)
Chora o filho, a mãe e também o tradicionalissimo avô, o sistema falhou, os herdeiro vacilou.
Um deles escapou, se matou de trabalhar mas estudou, não serviu pra ser massa de manobra, mas não parou, foi em frente e com a caneta inspirou.
Paulo Lins escreveu o livro morando na boca de fumo da quadra 13, comia mal, dormia mal, e perdia um amigo todo dia, era estudante universitário em meio a tudo isso, ganhava meio salário mínimo da Faperj mas como todo bom morador de favela, fazia a sivirologia, dava aulas e vendia roupas de mão em mão.
Inspirou, retratou de forma fiel e marcou, foi traduzido pro mundo e se espalhou, andou tanto com a palavra que melhorou, não é só o Machado de Assis que tem essa cor, fez academia pra esse tanto de branco se intitular escritor.
Paulo Lins pegou a bandeira e levantou, fez critica assim que entendeu, que a morte de Biko, que a cadeia longa de Mandela, que a ira de Mariguela não foram atoas.
Fez da sua arma uma caneta esferográfica que raja mais que as munições traçantes do Rio de Janeiro, traficou informação, montou enredo, pesquisou vivendo desde muito cedo.
Eles criaram símbolos, estátuas, livros, músicas, ídolos, lapidaram suas histórias para que parecessem verdadeiras, heróicas, para provar que foram benevolentes, que construíram esse país e por isso tem direito a tudo, enquanto os outros olham admirando, mechendo a boca vazia enquanto o herói da elite degusta.
Mas um do povo soube fazer sua parte, e eternizou os seus, contou suas histórias também, os eternizou.
Sem julgamento, sem panfletagem, escreveu por dom, por amor, por nescessidade de querer gritar, mas teve que ouvir o toque de recolher da favela, imposta por quem nunca pisou nela.
Na pulsação do seu órgão mestre, deixou fluir pelas mãos a sua ação intelectual inspirada na incerteza, suas histórias vivas de beleza e tristeza.
Escreveu Cidade de Deus no meio do inferno, no desassossego de não saber que teria mais um dia para narrar mais uma parte do seu compromisso.
Tentando ser invisível, de aluno agora educando os seus iguais no disbaratino, saindo ileso durante o dia para terminar mais uma página.
Pegou a caneta como quem pega uma enchada, cavou bem fundo como a ancestralidade dos que antes só tinham a ferramenta do corpo.
Os guardas não podiam tocá-lo, o juiz não podia condená-lo, o sistema ficou em danger, e por ultimo a pior humilhação, tiveram que publicar, multiplicar.
Abusado, tolerado por saber encaixar as palavras, digitador do caos moderno, herdeiro de Carolina de Jesus.
Cidade de Deus agora tinha sua história escrita, não seria mais esquecida, sua fase no estilo tradicional, povoada de samba e pelos malandros do morro, usando a expressão neofavela para descrever o que se passa hoje por lá, como o caso das drogas que descem do morro e vão direto para os privilegiados.
Por ser escrito por quem é o tema, o texto não é monótono, não cheira a tese, é sim algo vivo, tudo isso junto e misturado foi aclamado pelo crítica, mas principalmente eleita pelo público com uma das mais importates produções da literatura brasileira atual.
Ferréz
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