Zé
Zé
Zé Bahia não manda nada na quebrada.
Abaixa a cabeça pra polícia e pra bandido na quebrada.
De dentro do barraco ouve a malandragem.
- Esse carro é bem louco, é de bandido.
Zé firmeza se irritou um dia com o barulho da moto, o malandro não parava de ficar passando com o escapamento aberto.
Zé fudido da vida mandou o menino voltar de ré.
A noite Zé ficou na moral, bandidagem circulou perto do seu barraco.
Zé que antes era José Aparecido de Oliveira, mudou de nome quando entrou na obra, Zé da porra, Zé Largarto, Zé da pá (deu uma pazada num pião metido a forgado).
E finalmente Zé tiozinho. Com a velha sacola da World Tênnis e um conteúdo de alumínio.
A policia hoje parou o Zé, chamou de Zé Buceta, perguntou onde era a boca, ele apontou pra própria boca, pensou que era teste de embriaguez, mas viu que não era quando tomou um tapa, a bolsa a tiracolo caiu, o policia chutou, alguém gritou.
– é trabalhador, é um Zé povim! Um Zé qualquer!
Os hollerits se espalharam, voaram pelas quebradas.
O outro policial tomou a sacola a tiracolo, abriu a marmita, a população chegou perto.
- É trabalhador, seus coxinha de bosta!
Os agentes de cinza se enfezaram, encheran-se de fezes.
Agora que o governo mandou por a cor vermelha de sangue no veículo, eles tinham mais motivos para serem nervosos, fortes, quentes como o vermelho. Quentes como o inferno.
Um deles puxou o 38 cromado, abriu a marmita do Zé, enfiou a ponta do revólver dentro, cutucou, cutucou, espalhou a mistura e não achou nada, retirou o cano, fechou e deu para o Zé esculachado.
A população estava revoltada.
- Tantu bandidu na rua e us fi dégua ai pára um trabaiador, um Zé ninguém de merda.
- Tão abusando du Zé, qui é um coitado, se fose um bandido não faziam isso.
Os agentes da lei saíram, Zé humilhado entrou no meio do povo, se misturou pra ver se o aperto no peito parava, mas não parou.
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