Blog do escritor Ferréz

Posfácil

Posfácil

Há uma pequena árvore na porta de um bar, todos passam e dão
uma beliscada na desprotegida árvore. Alguns arrancam folhas,
alguns só puxam e outros, às vezes, até arrancam um galho. O
homem que vive na periferia é igual a essa pequena árvore, todos
passam por ele e arrancam-lhe algo de valor. A pequena árvore é
protegida pelo dono do bar, que põe em sua volta uma armação
de madeira; assim, ela fica segura, mas sua beleza é escondida. O
homem que vive na periferia, quando resolve buscar o que lhe roubaram,
é posto atrás das grades pelo sistema. Tentam proteger a
sociedade dele, mas também escondem sua beleza.
A luz dos postes; a oração do idoso que pede que Deus
ilumine sua vida e a vida dos seus; o menino que não concilia o sono
com a fome; o barulho dos carros passando pela fresta do barraco,
encobrindo a música do disco que fala de muitos na contramão da
evolução social, sendo seus destinos infrutíferos, e sendo seus futuros
tão gloriosos e raros quanto um belo pôr do sol.

Trecho do Livro Capão Pecado

2 comentários:

canbeck disse...

...essas palavras refez meus pensamentos, li dua vezes o livro, 100 palavras de agradecimento! grande abraço irmão das canetadas.

http://canbeck.blogspot.com/

Guilhermé disse...

Coincidência, li seu livro faz uns quinze dias.
Não adianta se debruçar sobre análises e contextos históricos e conceitos sociológico se não se tiver contato com a realidade diária.
Essa ponte só a literatura de ficção pode construir.
Só uma parada, na edição q eu tenho, na contracapa tem uma crítica do estadão, eu acho, q chama seu livro de literatura oral. Literatura oral porra nenhuma! É literatura e pronto!
Pra mim, essa "oralidade" é uma forma de dissociar a literatura marginal da chamada "erudita".
Mas isso é sequela, o livro é excelente!
Valeu.