Criada pelo rapper e escritor Ferréz, a 1DASUL não está nas passarelas, nos tititis dos fashionistas, muito menos na pauta ou editoriais da moda brasileira, apesar de ser a primeira e única grife criada e produzida na periferia de São Paulo. O berço é o Capão Redondo.
“ Universo, galáxia, sistema solar. São Paulo, zona sul, esse é o lugar”. Quem anda pela periferia de São Paulo, ou em festas hip hop pode facilmente encontrar alguém vestindo a camisa da marca da periferia. 1DASUL, com muito orgulho. Ao contrário de outros subúrbios, os habitantes da imensa zona sul de São Paulo não sofrem de baixa auto-estima e nem vestem moletons da Califórnia…
A marca que surgiu há 11 anos acaba de estrear um novo site multimídia, antenada que só ela.
É uma moda solidária, cooperativada. Antes o que era apenas uma confecção de roupas, hoje extrapola para outros produtos, conta Ferréz, escritor e agitador cultural, que conseguiu dar voz própria aos habitantes do Capão Redonda e Jardim Ângela. “1DASUL – Todos somos um só pela zona sul é esse o significado. A idéia é divulgar a zona sul como um lugar bacana pra se viver. É uma marca de autogestão, produzida na periferia, para ser vendida e usada na periferia. A idéia é que as pessoas se orgulhem daqui e consumam o que é feito aqui mesmo ou em outras periferias”.
A marca valoriza o lugar. Hoje fazemos vários produtos recicláveis, de protetor de tanque, cadernos, a pézinhos de moto, cartão postal, vinho… Começamos com mochilas, bonés, bermudas. “ As camisetas com slogans são a identidade e viraram moda, um must , disputadíssimas por suas mensagens políticas: Mídia mente – Capão pecado – Bom dia Vietnã, Bom dia Capão…..
Além da moda outro canal de expressão é a internet
Quer ler sobre o Itaim Paulista, entra no blog do Alessandro Buzo . Quer ler sobre o cotidiano do Capão? Entra no do Ferréz . “ É a periferia retratada por ela mesma. A gente falando da gente, de dentro. Isso é uma mudança tremenda. Nós somos o tema. Começamos nos livros, na rua falando poesia, agora estamos na internet “, completa.
Não faltam autores para retratar um dia a dia que não é só violento, como mostra a TV, tem saraus, shows, quermesses, eventos, shows de hip hop e escritores que ninguém vai divulgar… E surge uma nova literatura: “ Há todo um movimento de autores independentes fazendo uma cena diferente da literatura e boas coletâneas como Cenas da favela, de Nelson de Oliveira, Literatura marginal ( Agir ), Nascer 9, de Rondônia…”.
Ferréz comemora os bons números da internet: “ Antigamente a gente fazia fanzine, vendia um a um. Hoje qualquer um pode te ler em Pernambuco, de outro estado, é um meio muito rico pra um cara que tá longe ter acesso a seu texto. Agrega muito! É uma vitória: 317 mil acessos, desde que começou o blog há um ano e meio atrás, 15 mil por dia! “.
Muito além da moda, a marca se tornou uma resposta do Capão Redondo e outras áreas para a violência que lhes é creditada, fazendo os moradores terem orgulho de onde moram e lutarem para um lugar melhor, com menos violência e mais esperança.
Autor: Mona Dorf - Categoria(s): Entrevista, Redes Sociais Tags: 1DASUL, Alessandro Buzo, Capão Redondo, Ferrez, hip hop, moda, periferia, zona sul
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