Entre convênios e conveniências (Ferréz - Revista Caros Amigos de dez/2008)
Não vamos aqui nem falar dos hospitais públicos, fato já determinado pelo fracasso do governo em dar um atendimento digno a população, mas sim vamos falar dos famosos convênios.
Esse texto começou a ficar pronto na minha cabeça, quando depois de já ter mais de um ano no convenio da Sancil, recorrer a um hospital em Santo Amaro, foi a primeira vez que precisei usar o plano.
Qual não foi minha surpresa, quando cheguei ao hospital, e vi uma fila de espera com mais de 50 pessoas, fiquei em pé ao lado do painel da senha, que era feita por um mostrador digital.
As pessoas estavam todas olhando para um programa de televisão e eu junto com a Elaine conversando sobre outras coisas quando vi que já haviam se passado 25 minutos sem ninguém ser chamado, então fui para o balcão e perguntei o que estava acontecendo.
- Estamos sem sistema senhor.
Perguntei por que não chamavam oralmente os números, ela me informou que os médicos também estavam ocupados.
Ou seja, todo mundo ali esperando e não sabiam o que estava acontecendo. Afinal o que estariam os médicos fazendo para não atender mesmo sem “sistema” toda aquela gente? Uma hora e meia depois desisti, e sai do hospital, em atendimento e sem convênio já que quebrei a carteirinha e quase o hospital.
Pior, foi quando precisei do convenio de novo, agora para minha filha, fui ao hospital as 3 da madrugada, tinha tanta criança que parecia brincadeira, e a enfermeira girando pra lá e pra cá, e a criançada chorando.
Demorava 20 minutos para chamar cada senha, minha filha chorava sem parar e fui ao balcão e perguntei se era algum tipo de brincadeira aquilo, a atendente não entendeu e eu falei que ninguém tava ali de brincadeira, que pra alguém sair de casa com uma criança as 3 da madrugada era emergência com certeza, ela continuou no mesmo ritmo, preenchendo relatórios calmamente.
Quando chegou as 4 e pouco da madrugada eu me irritei, peguei minha ficha e fui lá no médico, passei pelo segurança que só me olhou e fiquei com a ficha na mão só esperando o paciente sair da sala do médio.
Minha filha não parava de chorar um minuto, e estávamos desesperados.
O médico ficou me olhando de dentro da sala, a mesma atendente veio, olhou pra mim e disse pro segurança.
- Fica de olho ai, pra ninguém por ficha na frente.
Eu fiquei muito puto, mas não queria problema com ela, meu negócio era o médico, que nem esperou o paciente sair, e acho que mais por medo do que por realmente ver a situação da minha filha, me perguntou o que eu queria.
- minha filha ta passando muito mal, quero que o senhor olhe ela.
Ele me chamou pra dentro, olhou a pequena e passou os remédios e também um medicamento para ser aplicado na hora.
A aplicação do medicamento nem vou detalhar, para que minha filha no futuro não fique constrangida quando ler esse texto, mas foi algo medonho e grotesco e envolve um uma enfermeira bruta.
Então a Elaine sugeriu que era melhor agente levar no Hospital Campo Limpo mesmo, foi o que fiz, sai de um hospital onde tinha convenio e fui resignado para um publico.
Cheguei lá me espantei, tinha pouca gente e fui atendido em menos de 4 minutos, fizeram um pré-atendimento nela, vendo temperatura, pesaram e tudo o mais.
Depois de mais 5 minutos a médica atendeu a minha filha num consultório todo colorido, cheio de bichinhos e com um atendimento muito superior, acabou receitando outros remédios e disse que a causa do mal estar era outra.
Quebrei a carteirinha do convenio dela também e no outro dia fui procurar outro, mais caro, e na tentativa de um melhor serviço.
Já passei por médicos videntes, que só me olharam e já receitaram remédio, já passei por médico juiz, quando falei o que sentia ele perguntou se eu queria atestado. Também passei por um médico que mal olhou pra mim e com uma simples batida nas minhas costas falou que eu tinha hérnia de disco, mas o caso mais estranho foi um atendimento que tive no hospital no Socorro.
Fui lá reclamando de dores no peito e falta de ar, entrei na sala junto com a Elaine, quando a doutora perguntou o que eu tinha, falei. Ela olhou pra mim e disse que não ia pedir exames, mas que eu tinha que ir averiguar isso direito. Bom, eu fiquei olhando pra caneta na mão dela e para um talão na mesa, foi quando ela disse que não ia me receitar nada, pois eu não precisava, também disse que não era necessário passar nenhum medicamento e me falou para ir a um hospital, assim que possível e agendar com um médico.
Sai de lá, fui a uma padaria tomar café, pois estava de jejum, pensando em fazer algum exame se fosse necessário.
Tomei o café, entrei no carro e comecei a ir embora, foi quando me toquei do ridículo da situação, passei numa médica que não me examinou sobre as dores, não pediu exames e ainda me mandou ir a um médico, inacreditável! mas bem conveniente, pelo menos para ela.
Ferréz é escritor e esportista, afinal agora faz caminhadas longas para ser bem atendido.
6 comentários:
Um dia Cheguei no Hospital Arthur Ribeiro de Saboya no bairro do Jabaquara as três horas da tarde, e sai nove e meia da noite, por sorte fui bem atendido no final, por sorte. Outra vez na mesma baga... digo no mesmo hospital chegamos eu e meu irmão as 10 da manhã e sai as três da tarde e meu irmão ficou lá ainda, já que eu tinha um compromisso. Meu pai foi internado no mesmo hospital duas vezes, em uma delas ficou na emergência, ou melhor no corredor adaptado pra ser a emergência.
Já num convênio fiquei exatamente uma hora, esperando sair uma autorização de atendimento. Saúde no Brasil é uma coisa drástica.
Abraços Ferréz.
pra vc ver, mano.
mas os barões podem pagar por convênios que é "só chegar" e ser atendido, com todas as pompas.
temos é que bater palmas para os médicos e médicas que, mesmo em meio ao caos que o governo impõe ao sistema de saúde público, se esforçam para atender bem.
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ola ferrez...bom oestava no blog do tico santa cruz e ele indicou um livro seu..entao resolvi t procurar eja gostei muito do q li... parabenss
Eu fico pensando,até quando nós vamos ficar nesta inércia?..até quando?de aceitar esses abusos assim!?ano passado quando aumentou o valor do bilhete do metrô,estava na fila para entrar mais um vez num metrô lotado e imaginei "é se nós, num ato público de estar contra esse aumento pularmos todos as catracas do metrô"achei gênial,mas me senti inútil diante daquela multidão de conformidades da qual eu as vezes faço parte.é foda!..prazer em te conhecer, um abraço Ferréz
Certas coisas chegam à um ponto que se tornam cômicas... certa vez, também com falta de ar, fui num hospital aqui do interior, entrei na sala e falei para o médico que eu estava com falta de ar, ele me examinou e disse que não era nada, eu tinha falta de ar psicologica...
Ferréz, mudando um pouco de assunto - por mais que não devesse, afinal, o tema que você aborda merece total atenção e é de total importância e gravidade - gostaria de te fazer uma pergunta sobre tua Literatura. Me diz aí: No teu conto chamado "Era uma vez" (de "Ninguém é inocente em São Paulo"), tu falas dos limites e dos impasses da escrita. Qaula tua perspectiva em relação ao processo de criação literária, tendo em vista esse conto, especificamente e tua ora como um todo? Valeu, cara! Continue dando voz a quem essa dita "cultura" branca, intelectual, classe média, marculina e católica romana resolveu calar! Abração!
Marcos de Andrade Filho
Recife-PE/Brasília-DF
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