Blog do escritor Ferréz

Os órfãos de Dona Néia

Os órfãos de Dona Néia. (texto feito para a Folha de S. Paulo) caderno infantil.

Dona Néia era velha.
Os adultos chamam os velhos de idosos, é politicamente correto.
Isso só não muda o tratamento ruim que os adultos dão aos velhos.
Tratam mal e respeitosamente os chamam de idosos.
Os adultos esquecem que foram crianças.
Os adultos fingem não entender que serão idosos.
Crianças são chamadas de pequenas.
Assim como os anões que também são chamados de pequenos.
Crianças quando vão comprar alguma coisa não são atendidas.
Idosos quando querem descer do ônibus tem que mostrar uma carteirinha.
Um adulto tem que olhar e dizer para atender as crianças.
Um adulto tem que olhar e autorizar para que o Idoso use a carteirinha.
Crianças não tratam os idosos como velhos.
Crianças tratam todos os idosos como avós.
Dona Néia era uma idosa.
Todo dia ela suba uma ladeira, andava por duas ruas e mesmo que sua perna doesse, não parava.
Pessoas velhas tem dores no corpo.
Crianças não tem dores, só quando caem.
Quando se brinca com uma criança ela esquece a dor e para de chorar.
Ninguém brinca com um idoso quando ele chora.
Dona Néia tinha uma filhinha, que cresceu e esqueceu dela.
Essa filhinha cresceu e teve um filho.
O neto de Dona Néia não esqueceu dela.
Dona Néia tem dores, mas o rosto não demonstra.
Crianças demonstram tudo que sentem.
Dona Néia conversa com as crianças pela grade.
Elas dão muita atenção e sorriem.
Os sorrisos das crianças são sinceros.
Depois daquele dia Dona Néia e as crianças conversavam todos os dias.
A ladeira não cansa mais, porque lá no auto estão as crianças.
Dona Néia leva balas, ganha beijos na bochecha através da grade.
Crianças negras, brancas, loiras, brincam juntas.
Adultos gostam de separar por cor.
Idosos entendem melhor o mundo.
Naquele dia o sol estava forte.
O sol age diferente numa criança e num idoso.
Os adultos não vêem o sol, eles tem óculos escuros, vidros fumes e cortinas.
Crianças enxergam melhor o mundo.
Dona Néia sobe a ladeira, um adulto se aproxima.
A boca do adulto se mexe, e ele diz que não é bom fazer amizades com essas crianças.
Dona Néia pergunta ao adulto porque.
Dona Néia começa a sentir dores novamente, pois quando sobe a ladeira não para mais para ver as crianças.
Eles podem se apegar e se iludir, e isso não pode acontecer, porque aqui é um orfanato, diz o homem.
Dona Néia sai, mas não tem mágoas, sabe que ele não tem mais a inocência e nem a sabedoria.
É apenas um adulto.
Ferréz

4 comentários:

aline fatima disse...

ê beleza! Texto loko, Ferrez!
Só quem tem essas imagens gravadas nas pupilas sabe falar a respeito.

Ferrez, sempre acompanho seriamente seus trampos! Mó orgulho!

licença aqui, quando ce tiver um tempinho, dá um pulo no meu blog, ficarei feliz com sua presença.
http://afatima.blogspot.com/

aline fatima disse...

ê beleza! Só quem tem essas imagens gravadas nas pupilas sabe falar a respeito.

Texto loko, Ferrez! Acompanho seriamente seus trampos. Mó orgulho!

Licença aqui, quando ce tiver um tempinho, dê um pulo lá no meu blog, na humildade ficarei feliz com sua visita!
http://afatima.blogspot.com/

Luna Freire disse...

Parabéns Ferrez, pelo texto. Só uma dúvida: a repetição, três vezes o mesmo texto, faz parte da idéia?

Unknown disse...

salve ferrez fmz?
to aki emm casa 00:54 li 3 textos seu um eu ja tinha lido mas voutei a ler q foi da quermersse....
todos muito bom excessao para dona neia muito loco viajei em. escrevi algo relacionado a isso q foi uma musica chamada joia rara nao sei se vc ja a escultou. o tema e parecido.
falo do ser humano q nao se dar o proprio valor ou nao dar o valor ao proprio ser humano proximo.so q com varios outros sentidos tbm .
vc pode me informar onde consigo suas obras?
moro em planaltina df (brasilia )
chapei muito loco sussesso
paz e luzzzzzzzzzz