Blog do escritor Ferréz

Mirisola (de novo)

Salve rapa, depois de falar mal de mim, e pegar carona em toda reportagem que eu saia, e até dar palpite na tatuagem do meu braço, o grande escritor de foto novelas Marcelo Mirisola vem com seus pensamentos brilhantes mais uma vez, agora o Alvo é Mano Brown, leio o texto que foi publicado numa revista digital e veja se Bárbara Gânso está sozinha nas suas opiniões.


Dia 20 de novembro é o dia da Consciência Negra. Feriado aqui em São Paulo. Como sou branco e minha consciência não deve valer grande coisa (que eu saiba não tenho um dia para comemorá-la) resolvi levar a sério a entrevista que Mano Brown, o intelectual do Jardim Ângela, deu para o jornal Folha de São Paulo.Há dezoito anos se esquivando da imprensa a pretexto de conservar a virtude de suas convicções e/ou a pureza do movimento hip hop (ou algo que o valha), Mano Brown, o intelectual, o mito, a lenda viva da periferia de São Paulo, finalmente veio a público.Talvez tenha dado outras entrevistas ao longo desse tempo. Confesso que não acompanhei. Consta que foram poucas. Mas essa entrevista, em especial, foi reveladora."Os pretos - diz Brown - não têm todos as mesmas idéias". Ah, meu Deus. Será que ele fez essa declaração por ignorância ou foi por racismo mesmo? Vejamos. Embora Mano Brown tenha feito esse comentário baseado no estremecimento de sua relação com o rapper Thaíde, a simples generalização, a meu ver, atingiu toda a comunidade negra - o que por si só é um fato gravíssimo: se Brown não foi racista por opção, foi por incompetência. A pergunta é: o que eu, um branquelo entediado com toda essa lenga-lenga, tenho a ver com isso?A princípio, digamos que senti falta de um dia para comemorar minha consciência. Então, na falta de uma, resolvi investigar o que Brown, um sujeito dotado de uma consciência - em tese e oficialmente - superior à minha, teria a dizer sobre assunto.Asneiras, disparates, tolices. Ele deve ter chegado a essa conclusão racista "os pretos não têm todos as mesmas idéias" depois que constatou que pretos podem - inclusive! - pensar como brancos (e vice-versa).Uma multidão de garotos (não só da periferia e não exclusivamente de São Paulo) sem esperança - e intelectuais de alto quilate e igualmente deslumbrados - o tem como um ideólogo, guru. As palavras de Brown têm o peso incontestável da realidade. Nelson Motta o considera um gênio. Não se discute a autoridade de Brown. Porta-voz da periferia que amedronta a classe média, ele - para dizer o mínimo - é a verdade, o código, o cara.Brown votou em Lula pelo "olhar e pelas idéias dele". Seguindo esse raciocínio, o filósofo do Jardim Ângela poderia ter votado em Lembo pelas sobrancelhas, em Alckmin pelo nariz ou em Mercadante pelo bigodão tingido.O problema é que Lula, o candidato a quem Brown pediu votos, às vezes, tem algumas idéias de cores duvidosas e não raro demagógicas. Marta Suplicy também. Foi ela quem inventou o Dia da Consciência Negra . o dia em que Mano Brown proclamou seu desastrado racismo no jornal Folha de São Paulo, 20/11. Entre outras bravatas, o revolucionário Brown disse que está feliz da vida porque os bares da periferia perderam espaço para as pizzarias, salões de beleza e locadoras. Esqueceu das Igrejas. Bispo Edir Macedo deve compartilhar da mesma felicidade de Brown. Mas o rapper vai além. Tem sonhos românticos. Ele sonha com "a população ouvindo música nas ruas, fazendo academia, cuidando do corpo". Talvez inspirado em Galvão Bueno... antevê algumas "metas". Quem sabe não queira ver Felipe Massa cruzando o pódium ao som do Rap da Vitória. Brown é nosso guia. Brown apóia incondicionalmente a prática de esportes... e não "abre as pernas" para a mídia de jeito nenhum. Sei, sei. Sua palavra é lei. De um lado e do outro da Ponte João Dias. Outro dia o furioso Brown foi condecorado por Lula. Não sei se compareceu à solenidade ou enviou algum representante. Che Guevara deve ter dado cambalhotas de orgulho na tumba. O bigodinho e a carranca de Brown, aliás, nunca me enganaram. Alguém precisa explicar a ele o significado do termo facista.Nesse caso não há tropicalização que amenize o racismo (involuntário?) de Brown. Brown é o começo do fim de Sérgio Buarque de Hollanda. Viva a Revolução das Periferias - aliás, a rede Globo e Regina Casé apóiam qualquer iniciativa que venha das periferias, não importa se é a periferia de Ruanda ou do Grajaú. Se é periferia tem talento .E se tem talento tem verba. Tem cinema, tem indicação para o Oscar. Tem droga para os filhos da diretoria. Tem alguma ONG pra administrar o negócio.Brown também acha que o fato de o irmão de cor "se vestir melhor faz muita diferença" . Além de estúpidos "porque pretos não tem todos as mesmas idéias", Brown deve considerar que uma roupinha pode disfarçar a feiura dos seus irmãos pretos.As declarações de Mano Brown, porém, não me espantam. O que me espanta é o medo e a veneração que a mídia tem por esse racista desastrado. Se eu fosse negro, o processava. Mas como sou um branquelo sem consciência (e sem calendário) só me resta lamentar a entrevista e o espaço exagerado que a imprensa - ao longo dos anos e a despeito da aparente falta de interesse - concedeu/concede a Mano Brown, esse títere do desespero. A situação - já fiz essa analogia uma vez - lembra muito os assaltos a mão armada: onde a vítima (ou o consumidor tanto faz) não tem opção diferente da submissão. Os especialistas - todos - nos ensinam a não reagir. E agora. O que se faz? O talento musical de Brown justificaria essa rendição incondicional?Me parece que não é esse o caso. O maestro Júlio Medaglia me fez acreditar que não
Marcelo Mirisola
extraído da: http://www.revistamuro.kit.net/

Texto escrito por ocasião do dia da consciência negra, quando Mano Brown concedeu uma entrevista ao jornal Folha de São Paulo, em 20/11/2006.

Esse ai é o cara, Marcelo Mirisola, como não temos um e-mail de contato para debater com ele, quem tiver perto pode encontra-lo na praça Roosevelt, num lugar chamado Sebo do Bac.

12 comentários:

C E N A 7 disse...

"Os pretos não têm todos as mesmas idéias”
Lógico! Quem no mundo pensa igual... (os brancos?! os amarelos?! os pretos...?!) se pensasse, se fosse assim, tava tudo certo!
Ninguém pensa igual, mas quem se identifica na correria se encontra nos caminhos da vida, e com certeza fará coisas boas junto prum bem comum, não tem como agradar a todos...

Não é de hoje que o inimigo tentar (quer) jogar nosso povo um contra o outro...
"Hei! Senhor do engenho eu sei! Bem quem você é..."

Tamu Junto Ferréz! Sempre to lendo as paradas aqui.

Salve!

Michel Cena7

Marcelo Fonseca disse...

Caro Ferrez,

Tenho acompanhado seu blog á um tempo, e esse filho de Dona Maria e Seu Expedito, oriundo do Parque Sônia (aí seu vizinho) , fica agrdecido pelo que lê.
Existem aqueles que prestam um deserviço á informação, existem aqueles que são desinformados mesmo, mas o pior dos piores é aquele que se outorga o direito de ser uma "voz".Camuflado por uma fachada de jornal "serio"...

Ao apedrejar Brown, por trás das teclas de algum lapttop , cuspindo aos borbotões palavras de ódio, o Sr. Mirisola, mostra que cada vez mais quer ver esse país dividido, entre os que "tem acesso", e os que entram pela "área de serviço".

A Folha de São Paulo á tempos tem tomado esse carater dúbio de liberdade de expressao, ao ponto de colocar pessoas sem noção em suas redações. Ai esta minha critica, o sujeito, se coloca como "sabedor" do assunto, é nitido "leigo" sobre o tema e joga pedras onde imagina o telhado ser de vidro.

Meu caro, fico grato. Postar isso é incentivar a molecada que se articula, que bota a boca no mundo, e mostrar pra muito filho da puta que se acha o bacana, que a "comunidade do outro lado do rio" tem visão de mundo e prinicplamente ciÊncia dos mecanismos que se usa para manter o povo realmente á margem.

hoje cruzei 2 rios pra ver meus pais ai na quebra. sai da sul faz coisa de 5 anos pra batalhar meu espaço, nunca esqueço de onde venho e ao ler isso, tenho mais orgulho de quem sou.

mais uma vez muito obrigado,
um abraço,

Marcelo Fonseca
P.S.: estive na Argentina em janeiro, uma das coisas que mais me deixou contente foi ver um de seus livros editados por lá.

Unknown disse...

O Safado num tem coragem de dexa nem um e-mail...
Ainda vem questiona se ele tem consciência ou não, A INVEJA MATA, TEM MUITA GENTE RUIM...

FELIPE BARBOZA LOURO
hipliphop@yahoo.com.br
fehiphop@gmail.com

Adriano disse...

A burguesia tá incomodada! Que bom, quando eles não gostam é porque estamos no caminho certo!

Marco Antônio Bin disse...

sabe, ferréz, encheu o saco esses caras que querem dar uma de paulo francis. como não têm texto, nem idéias próprias, tentam se nivelar pela futrica miserável... não temos de perder tempo com esses mirisolas da vida!

professor andré luis gonçalves pereira disse...

Ferréz,sou seu admirador ...no entanto apesar de enxergar muitos vícios pequenos burgueses no texto de Mirisola concordo em duas coisas:
1.Não podemos achar que nossa meta é vestir roupa melhor pra ficar diferente o que importa é o intelecto(e a barriga cheia),não a aparência
2.Votar em lula pelo olhar é no mínimo pregar a despolitização
3.Temos que lembrar que negros e brancos pobres devem se unir para lutar pelos interesses comuns,mas os negros ricos(ínfima minoria) pertencem a outra classe social e reproduzem o preconceito(Vide O pagodeiro medíocre netinho)

Ancestral disse...

Caro Ferrez,
Comecei a acompanhar a polêmica do Texto do Mirisola por ter um conto publicado na Revista Muro na mesma edição. Conheço o Mirisola e outros autores que publicaram seus contos e poemas na mesma revista. Alguns de nós não temos espaço e estamos batalhando por isso sem pretensões, só trabalho. Para mim, posso dizer poucas palavras, a melhor coisa que aconteceu foi o estímulo a conhecer teu trabalho, assim cheguei a teu blog. Concordo com os demais comentários, pois "jogar uns contra os outros" é tomar partido dos "senhores de engenho" mesmo. Surpreendeu-me principalmente o resultado de teu trabalho e de teus irmãos no resgate do orgulho da rapaziada que te acompanha e que batalha a vida na Zona Sul. Isso sim é revolução desarmada. Também frequento o Sebo do Bac (outro batalhador) e posso dizer que é um dos poucos espaços que conheço aqui pelo centro aonde as idéias podem ser mantidas junto às opiniões de cada um na paz. No mais, pra finalizar, concordo com o coemntário do "bullit" não temos tempo a perder com futricas, mas você bateu legal nessa agressão gratuita que recebeu. No mínimo ganhou um novo leitor e admirador de teu trabalho. Longa vida e um abraço.
Daniel (cavana@uol.com.br)

Reação Urbana disse...

Ferréz passei por um site e li essa indignação do senhor Mirisola junto com outros que denomino como "senhores das palavras" e postei o seguinte comentario -não sei se vão aceitar - "quanta baboseira,quantas palavras jogadas ao vento, "mentes brilhantes" discultindo Mano Brown, não sei se fico feliz ou triste,feliz porque a redoma que protegia a burguesia fula foi rompida, e triste porque os senhores das palavras continuam sendo só os "senhores das palavras" porque se vocês fossem algo mais que isso pegariam seu carro, ligavam o ar condicionado, colocariam uma musica classica e iriam no jardim angela ou qualquer outra "favela" pra saber o que o Mano Brown fez e faz para ser ouvido e aclamado por milhões, sem o aval dessa corja manipuladora que atende pelo nome de "Midia" e muito menos de vocês "senhores das palavras" "PAlavras sem ação, são só palavras".

Anônimo disse...

Será que só eu percebi que Mirisola está fazendo uma crítica a um comentário preconceituoso e infeliz do Mano Brown para o jornal? Será que as pessoas esqueceram as aulas de interpretação de texto do colégio?
Jesusalva.

fab disse...

E qual seria o proconceito no comentário do Brown, achar que as pessoas negras têm pensamentos divergentes?
Isso é preconceito?
Realmente você fugiu da aula de interpretação de texto, querida, você e o almofadinha futriqueiro.

Unknown disse...

Se mano brown fosse desastrado mesmo , ele não estaria tão preocupado. Vamo que vamo que a elite ta com medo.

Adriano Nascimento disse...

Obrigado, caro Ferréz por publicar um texto DE GRANDE valor do genial Mirisola!