Blog do escritor Ferréz

poesia

EGOÍSMO

Esse momento
ficará

aqui

esse pensamento

ficará

na
minha
lembrança

e quando
ler
saberei o
que significa

concreto

concretismo
papel
em
branco
preen
chido.

ferréz

A leitura e as amizades.

salve

foi na madrugada de ontem que resolvi falar do livro que estava lendo, primeiro dei um break e fui escrever um trechinho do meu trampo novo que como formiga vai avançado, construindo com cuidado o próximo livro.
tá foda, Bukowiski 24 horas por dia, estou terminando o "crônicas de um amor louco" e já tá na imensa fila a parte dois do livro. esses dias baixei na net uns poemas do velho Buk ditos por ele mesmo, é uma satisfação imensa caçar isso e achar...e tem gente que fica gastando tempo só com pornografia, tem tanta coisa a pampa.
agora eu estou passando as madrugadas editando um clipping que vou usar nas minhas palestras, estou muito contente pois voltei a fazer poesia concreta, que é uma velha paixão que eu tinha abandonado, mas vortei... e to adorando.
e esse trampo é sobre isso, em breve também vou por algumas letras do meu disco novo, tá rap até o osso, muito ritmo e poesia pra alimentar a alma.
no demais estou com o Fernando pessoa me esperando, já to ficando com saudade dos versos de pessoa, mas eu e ele vive se comunicando através das palavras, agente vai se falando.
Ferréz.

Festa DVD na Favela

A 1dasul, a Talentos aprisionados e Negredo Produções tem a honra de apresentar;

a gravação do DVD na favela Godoy.

numa união nunca vista antes no rap nacional, três produtoras se juntam para fazer a maior festa de rap do ano, dentro da favela e filmada totalmente pelos melhores profissionais do Brasil em matéria de captura de imagem e estrutura.
Sofia traz todo os suporte juntamente com o grupo Negredo, que acaba de lançar seu primeiro disco (gravadora Atração) e Ferréz que faz parte da produção e agenciamento dos grupos.
os três selos: Negredo Produções, 1dasul, e talentos aprisionados, mostram que além de tudo a união faz a força, coisa que está meio fora de moda no nosso movimento.
dia 10 de setembro, na favela Godoy, em frente ao metrô linha 5, Capão Redondo.
a entrada é só R$ 3,00 e um quilo de alimento. e todo dinheiro é usado para o projeto Periferia Ativa, que já tem uma biblioteca dentro da comunidade e quer ampliar o espaço para instalar outros complementos culturais.
agrademos aos grupos: Detentos DTs, Colt 44, Záfrica Brasil, Consciência Human, Realidade Cruel, RDG, Ferréz, Muralha sul, Dj Dri, que vão estar cantando ao vivo.
venha participar dessa festa, onde pela primeira vez a favela se une e produz sua própria história.
a partir das 15:00 hs.
apresentação dj Guga da Rádio 91.1
E AINDA.....UMA ATRAÇÃO SURPRESA....QUEM SERA????

divulgação: 1dasul fonográfica
shows c/ Detentos dts e Negredo (11) 5870-7117 ou 922-59988

literatura marginal

salve, depois de três anos, finalmente saiu o livro Literatura Marginal, pela editora Agir e pelo Selo L.M. os autores são 10, a mais fina nata da literatura da margem, entre eles estão nomes como: Gato Preto, Preto Ghóez, Eduardo (facção central) Dona Laura, Ridson, Maurício Marques, Santos da rosa, Alessandro Buzo, Luiz alberto mendes, Erton Moraes.
o livro está chapado, e não deu muito trabalho organizar textos tão bons, eu coloquei um puta prefácil que em breve coloco aqui pra vocês.
é só colar nas livrarias e conferir, quem diria heim...que nossa revista fosse crescer e virar um livro, meus agradecimentos a Caros Amigos que sempre acreditou no fita, ao Guilherme azevedo que editou o ato 2 da antiga revista e ao R.O.D. que somou muito nesse livro.
os autores estão ai, mais a margem do que nunca, só que agora com voz.
Ferréz

Vamos Brinca até quebrar

Vamos brincar até quebrar

Acordou cedo, gritou.
-Zica Maldita!
Lembrou de seu pai, como a maioria viveu a vida inteira sem a sua presença.
Num tinha café pra tomar de manhã, mas já vai ouvindo um monte do irmão mais velho.
- Cê tá vacilando de madrugada, você sabe que os P.M. sobe o gás.
- Eu sei, mas eu voltei sedo.
- Então vamos sumariar.
- Quantos de nóis eles acha que vai matar?
- Sei lá, seja P.M. ou civil, do movimento ou honesto, é tudo verme, só dá milho a vida inteira, depois faz trairagem com os irmão.
- Mil grau, sei que tá frenético, qual que é a urucubaca?
- Sou residente, sou residente do Capão.
Quem lhe deu um sorriso hoje, talvez alguém de longe, uma mina que ele viu igual a uma atriz de novela e quando chegou ao entardecer ele voltou pra rotina.
A mina que tanto amava estava grávida, duvidou que era seu, discussões e finalmente uma noite de amor, a ultima.
Cinco tiros.
Embaixo do lençol branco havia sonhos, ilusões, perguntas sem resposta.
Mas o repórter policial só vê ali mais uma manchete sensacionalista, só pensa no Ibope, em vencer a cópia da outra emissora, prá pobre a muito ele diz: Só tem glória quando o caixão desce e o sofrimento para.
Agora embaixo do lençol branco só está um corpo, que vira e mexe recebe flashs, toda a glória que sonhou em vida, ele tem na morte, finalmente vai sair no jornal, é alguém importante.
Em baixo da terra fica o final da agenda da vida.
Vão transar, vão gostar, sem camisinha, periferia aumenta, mas esse tipo de matéria não interessa.
Sem planejamento do estado o feto agüenta menos, e pães são usados por milhares de pais de famílias para substituir o almoço e janta.
Rapaz, São Paulo é a terra prometida, rapaz, hoje somos suicidas.
E o irmão dá um longo abraço e diz mais uma vez pra ter cuidado, tá indo pro centro, servir os patrões que pagam mal e alimentam a miséria.
O fim é sangrento, o começo nem comento, talvez uma pitada, talvez um tapa na cara, quem sabe é porque viveu, o irmã fica assim, dentro do buzão com uma pesada preocupação.
E pior que a bala perdida é envelhecer sem expectativa.
Pensou o que? Que bandido enche ônibus?
Não existe dor dividida, a dor é minha e da minha família, ele pensa e sente muita falta do pai.
Hoje todos os sonhos, virarão comentários maldosos perante os pés do finado.
Uma amiga disse que do auto do avião somos todos parecidos, somos luzes e só.
Luzes simplesmente, nem barraco, nem prédio, só luzes, mas aqui desse lado do mapa sempre tem uma luz a menos.
Firme e forte, vivão e vivendo, batendo e não correndo, se é trabalhadô vai ser humilhado, se é correria vai ser arrebentado.
- ah! tí fudê prá lá, nem acordei e você já falando de polícia, deixa quieto. Era o que ele queria falar, mas quando o irmão abria a boca ele respeitava, pois sabia o tanto que ele se humilhou para os outros para trazer o sustento pra dentro de casa.
Quando chega na rua, nada de novidade, casas grudadas uma a outra, pessoas presas por grades que elas mesmas colocaram, sujeira no asfalto e poluição na mente de todos os habitantes, ele sabe que no final sua importância é pelo emprego que teria, mas está com o baseado no bolso e num quer mais pensar em nada, vai pegar uma brisa, penso no bebê, pensa como ele vai ser, talvez sua cara, talvez sua cor, ai tromba um nóia.
- Tem um real?
- Caraí, nem cumprimenta e já vem com essa porra de 1 real?
- Desculpa aí, mas tem não? E soltou um sorriso banguela.
- Não.
- Então responde pra mim um coisa.
- O que?
- Lembra do Vadão?
- Vadão...aquele vacilão que eu arrebentei lá no samba?
- É, ele mandou isso aqui de presente pra você.
Ainda viu o revólver reluzente, ainda ouviu um relâmpago no céu, ou seria o barulho da arma, que foi comprada por quem paga imposto, que é mantida pela elite que não distribui a renda, e que é municiada pelos políticos desse pais. E finalmente disparada por um igual ao alvo.
Ele não teve o que falar, deu um toque de mão na vida e se despediu, saiu com os olhos cheios de água sentimental.
O irmão chegou aos pés do corpo, conselhos vazios, memórias de criança, uma lágrima para cada lembrança.
O sistema planta uma vida medíocre, para colher corpo no chão
Não é jardins, é jardim comercial, jardim Ângela, jardim das rosas, os meninos monstros que não tem compaixão, que são vistos com tarja preta, mas só queriam ter um brinquedo na infância.
O sistema então num belo dia, pega toda uma população, brinca, brinca e depois joga fora.

15/2/05texto feito para a revista 2005