Blog do escritor Ferréz

Desterro chega a loja 1DASUL

Salve, para todos que estão perguntando via face ou e-mail sobre o meu trabalho em quadrinhos junto com o De Maio, chegou mais exemplares na loja da 1DASUL, no Capão Redondo, Aveninda Comendador Sant'anna 138. Qualquer dúvida só ligar no 5870-7409. Também chegou vários livros da Literatura Marginal, como o novo do Fuzil, e a biografia do Sabotage.

Pão doce (Ferréz)


Pão Doce                                                                                           
                

Acordo sempre às seis.
Hoje não sei por que dormi até as seis e vinte.
Cuspi na pia a pasta de dente que esfreguei rapidamente com o dedo.
Faço isso todos os dias.
Peguei o ônibus lotado, passei por uma dona e meu pau deu uma fisgada.
Lembrei da notícia do Cidade Alerta: "tarado leva 50 estocadas com estiletes no cadeião".
Meu pau murchou na hora
Passei para a parte de trás.
Me apoiei na barra de alumínio, que alguém trouxera, que estava antes do último banco.
Olhei para os peitos de uma gordinha sentada logo à minha frente.
Imaginei uma espanhola.
Adoro espanholas, ainda mais quando os seios são fartos.
Logo lembro de minha mulher. Ela tem os peitos pequenos, nem nisso dou sorte.
Ontem, durante a discussão que já é rotina, percebi que não basta elas terem nosso tempo, nosso corpo, elas querem mais, elas querem nossa alma.
O que você está pensando aí? É noutra vadia, né?
Eu estava pensando o que tinha ganho de seis anos naquele emprego, e não numa vadia, embora não fosse má idéia.
A maioria das traições são as mulheres que provocam na gente, elas estimulam a gente com essas perguntas, até o dia em que você realmente começa a pensar em vadias.
Cheguei no trabalho e fui tomar café.
O gerente é baiano, eu sempre humilhava os meninos que também eram baianos.
Deus é muito sacana, hoje estou pagando.
O gerente me olha e no olhar diz: "eu sei que você chegou atrasado, eu sei que você me humilharia se pudesse, mas eu sou a porra do gerente, e se você moscar  eu vou fuder a sua vida e vai começar se você decidir tomar café".
Tudo isso num olhar, hein? Não sou burro, fingi que ia beber um copo d’água e saí sem tomar café.
Comecei a mexer nos paletes.
Os paletes são estruturas de madeiras, onde eles armazenam as mercadorias.
Às vezes os caminhões encostam e há dezenas de paletes cheios de arroz, paletes com feijão.
Esses dias descarreguei dois caminhões sozinho. Quando tentei parar um pouco, olhei para trás e lá estava o gerente.
Seus olhos me diziam: "se você encostar para descansar, eu vou fuder sua vida, vou comer sua mulher na sua frente".
Trabalhei até onze horas. Estava quase desmaiando de fome, o mercado cheio de comida, tudo que é tipo de alimentação, mas se nos virem comendo é justa-causa.
Pode ser um Danone ou pode ser um caroço de feijão.
Uma vez, um menino foi mandado embora, ele devia ter uns dezoito anos e tinha um filho recém-nascido.
Pegaram ele comendo uma goiaba, ele foi mandado por justa-causa.
Com dezoito anos e sujou a carteira, nunca mais arruma emprego na vida.
Era mais justo se dessem um revólver para ele junto com a devolução da carteira de trabalho.
Já vi dezenas de bacanas roubando.
Às vezes eles pegam queijos caros, às vezes roubam doces ou latinhas de patê.
Uma vez, o segurança pegou um velhinho que estava roubando uns chocolates finos.
Levou ele, falando alto e tudo, no meio de todo mundo, até chegar no gerente.
O segurança foi mandado embora no outro dia, o velhinho era gente bacana, cheio da grana, e nessa gente a nossa gente não encosta, ele já devia saber disso.
Eu mesmo preparei uma cesta cheia de coisas caras para o entregador levar à casa do velho.
Era um presente do mercado, e um pedido de desculpas pelo “engano”.
Só não tem o mesmo tratamento os pobres.
Uma vez, pegaram uns meninos roubando chocolates, um tava com uma barra dentro da cintura e o outro com uma caixa.
O gerente chamou todos os funcionários para presenciar, e depois o segurança começou a humilhar os meninos, fez eles comerem o chocolate de uma vez, e depois vomitar.
A gente não queria ver, mas o gerente mandava olhar.
Os meninos vomitaram tudo, e o mercado perdeu os chocolates de todo jeito.
Eu estava na minha seção e não conseguia dar conta, quanto mais eu repunha a mercadoria, mais as pessoas compravam.
Acabava o macarrão, eu buscava o palete e, quando chegava o arroz, também estava no fim.
Logo que repus o arroz, o feijão e o óleo estavam no fim também. Toda vez que eu tentava passar com o carrinho, as pessoas reclamavam. Estava incomodando todo mundo.
Geralmente estava todo suado quando o dono da rede de mercados parou na minha frente junto com o gerente.
Eu li nos olhos do gerente: "agora eu vou fuder sua vida, vou arrancar seus dois olhos, vou colocar no meio do seu rabo".
O dono da rede ia de surpresa fazer uma fiscalização, sabe, né? Pôr os pingos nos is.
Ele me olhou dos pés à cabeça.
Em seguida, comentou algo com o gerente.
O gerente disse: "é, doutor, infelizmente a gente avisa para eles manterem a higiene pessoal, mas esse povo é meio burro".
O dono da rede disse: "certo, mas tudo tem limite, esse homem está fedendo".
Foi então que o gerente me mandou para o banheiro e pediu para que eu tomasse um banho e colocasse um perfume, eu fui.
Me lavei por uns dez minutos, peguei um perfume do açougueiro emprestado e usei nas axilas, tive que colocar as mesmas roupas suadas e fedidas.
Caminhei pelo corredor, era final de mês. As pessoas se amontoavam, eu já não conseguia conter minhas lágrimas, se eu visse o gerente acho que lhe daria um soco.
Foi então que comecei a andar pelo corredor cada vez mais rápido e cheguei na porta do mercado, olhei para a claridade lá fora e continuei caminhando, fui andando até o final da rua, eu estava livre, livre de verdade.
Não voltei para buscar meus direitos, mas minha mulher estava enchendo o saco, começou a insistir para que eu fosse buscar ao menos a cesta-básica.
Cheguei na recepção, perguntei da cesta-básica. A atendente me olhou como se eu tivesse roubado algo seu e me disse: "você não tem direito".
Eu insisti e disse que havia trabalhado quase o mês todo.
Ela repetiu: "você não tem direito".
Sai, resolvi pegar um ônibus e ir ao Parque do Ibirapuera, sempre achei tão bonito aquele parque. Lá, vi uma fonte muito linda que jogava a água para o ar, ela era como eu, jogando as coisas para o ar.
Anos mais tarde, soube de um amigo que aquela fonte foi muito cara e que havia sido paga pelo dono da rede de mercados que não quis me dar a cesta-básica.


Conto do livro: NInguém é inocente em São Paulo

Não venha me convencer da sua convardia




Tem gente que é foda, abandona a própria classe e se mistura na classe dominante, até ai cada um cada um. Mas fazer seu ponto de vista querer ser o certo ai é demais. Mudar de classe não é mudar a sociedade. Isso é fazer um serviço nojento pra burguesia, é um desserviço pro nosso povo, pois coloca o que eles são como nosso objetivo.
Isso mais parece teoria da prosperidade que revolução, se você mudou de opinião, depois de ter ganho uma quirela, o mínimo que podia fazer é ficar calado, não esbravejar que o assunto “crime, cadeia, pobreza, violência” está esgotado.
Agente só para de falar de uma coisa quando ela acaba, ou quando agente desiste.
Eu já sei qual você optou.
A luta continua, enquanto agente viver nessa sociedade caótica e desigual, a luta continua, não importa o lado que você pensa que agora faz parte.

Ferréz

Dicas de leitura

Dicas de leitura

Esse ano de 2013 foi muito corrido, mas mesmo assim consegui ler ótimos livros, estou durante todo o ano lendo o Walden do Henry d. Thoreau, interrompi a leitura várias vezes pois estou usando muito esse livro para pesquisa, além da leitura, virou mesmo um livro de estudo.
Uma ótima história, real do autor que abandonou tudo e foi viver no campo, próximo ao Walden, esse exemplar da editora A, vem com Desobediência Civil, outra grande obra do Throreau, vale a pena essa leitura para os manos que gostam de aperfeiçoar a ideologia, e também é uma obra inspira muito a escrever.
Estava um dia desses falando do Bernardo Carvalho para um amigo meu, o Amaral, e fomos juntos na livraria comprar um livro dele, achamos somente o Reprodução, foi triste pois uma grande livraria dentro de um shopping não ter praticamente nada de literatura nacional, uma vergonha.
Voltando do Rio, na hora que o avião decidiu decolar de novo faltava só 20 páginas para terminar, li esse livro de forma frenética, parece que a obra voou nas minhas mãos, uma escrita muito diferente e que realmente me cativou, indico para quem quer além de se divertir, claro, poder ver uma forma narrativa diferenciada.
Outro livro surpreendente e que eu estava esperando a muito tempo é o primeiro romance de Marcelino Freire, e acabei indo no lançamento de Nossos Ossos.
Quando cheguei em casa fui folhear e ai já viu, a escrita de Marcelino me pegou e não quis largar mais, no outro dia terminei a leitura, realmente a escrita é muito enxuta, sem enrolação e a história muito bem pensada, ganhamos um ótimo romancista, espero que ele continue com seus contos, que já são lidos por todos os vinte cantos desse pais. 
O livro traz uma narrativa cativante, e grandes surpresas no desenrolar da história, ou seja um romance bem completo.
A capa é de Lourenço Mutarelli, e ainda tem um texto do Paulo Lins, ou seja formação de quadrilha.
Agora não só para fanáticos por quadrinhos, mas também para quem deseja conhecer um grande pedaço da história editorial dos Estados Unidos, o livro Marvel Comics a História Secreta, é super indicado.
Todos sabem que sou fã de quadrinhos e estudo muito a fundo a nona arte, esse livro foi um deleite, cara de verdade. Agora sim fizeram uma biografia detalhada do que foi aquela redação, precisa urgente fazer um da DC comics, minha empresa favorita de talentos desenhados. Indicado para quem gosta de história das editoras, saber do dia-a-dia de uma redação e também quer saber mais sobre Stan Lee, Steve Ditko, Jack Kirby etc.
Bom, sempre fui um grande leitor do ser King, o mestre do terror, e não tive como resistir em comprar o novo: Sob a Redoma, que saiu pela Suma de letras, impressiona suas 958 páginas, mas eu já cai dentro,  tive que dar uma parada, pois comecei a ler o Escritos `a margem do Paulo Roberto, mas logo vou voltar para essa obra que já virou seriado. Stephen tem mesmo uma escrita impressionante, onde você parece que acabou de entrar num filme, literatura para se divertir mesmo, e para isso foram feitos livros como esse.
Bom por último, segue um pouco do livro de Ricardo Lísias, Divórcio, uma história muito boa sobre seu casamento e suas decepções, esse livro não me deixou larga-lo até poder consumir tudo, e logo depois fui para o Céu dos Suicidas, que também me agradou muito, estou com outra obra dele aqui, o Livro dos Mandarins, e descobrir o trabalho de Lísias foi uma agradável surpresa, realmente foram dois livros que valeram a pena ser lidos esse ano, indico primeiro o Divórcio para você entender mesmo o estilo desse autor, que também faz um fanzine bem legal chamado Silva.

Bom, é isso, queria deixar registrado sobre esses trabalhos entre outros que li, pois vejo muita carência em resenhas de livros, isso não são resenhas, mas um pouco do que achei de cada obra, também chegou as minhas mãos o Café espacial, obre em quadrinhos que tem uma proposta bem legal, a editora Pixel lançou nas bancas uma edição linda de O Fantasma, personagem clássico de Lee Falk, e também outra obra de Falk que é o Mandrake, estou lendo os dois e indico para os fãs mais antigos ou até os novos que querem conhecer um pouco mais de histórias clássicas. 
Também continuo lendo a saga Antes de Watchmen e espero que a maldição que o Alan Morre jogou em quem comprar esse livros não pegue.
Até a próxima, boa leitura.

Ferréz


Ferréz em Marília dia 6/11

Mais um evento, mais uma viagem em prol da nossa literatura, que a estrada esteja aberta para agente chegar de boa nessa nova etapa, de grão em grão fazendo assim um mar de futuros leitores.
Esquenta não Marília, tamo chegando.

Datilógrafo do gueto

E assim é a quebrada onde no dia-a-dia é buzão lotado e cheiro de churrasco, palavras feitas para meu parça Paulo Lins, na sua nova edição do Cidade de Deus, segue um trecho.

Chora o filho, a mãe e também o tradicionalissimo avô, o sistema falhou, os herdeiro vacilou. Um deles escapou, se matou de trabalhar mas estudou, não serviu pra ser massa de manobra, mas não parou, foi em frente e com a caneta inspirou.