Blog do escritor Ferréz

Agradecimento nesse Final de Ano

Salve, venho por essas humildes palavras deixar aqui o agradecimento por todos que acompanham esse blog, ele já serviu pra muita coisa, intriga, denúncia, propaganda, convite, celebração e principalmente para colocar meus textos, a muitos anos atrás montei o blog como resposta para o vazio que sentia entre uma coluna para a Caros amigos, afinal era uma vez por mês que escrevia lá, depois de muito tempo o blog foi ficando tão importante para mim como jamais imaginei, pois as pessoas me paravam na rua para comentar as notícias, outros me mandavam e-mail para publicar lançamentos. Com minha saída da revista o valor do blog aumentou mais, hoje são em média 400 visitas diárias, coisa que me orgulha muito. Também a alguns meses entrei para uma casa nova a Revista Fórum, onde escrevo todos os meses, e também tem o face do Ferréz escritor e o face da 1dasul, onde tô sempre pondo novidade. No decorrer desses anos, esse blog me trouxe muitas alegrias, uma delas foi arrecadar alimentos para uma ocupação, outra foi poder denunciar a matança quando ouve os atentados anos atrás, nossa foi tanta caminhada, 1.080 posts. Que o ano de 2013 seja ainda melhor para o que fazemos, mostrar o lado da quebrada, mostrar o ponto de vista de quem está na periferia, não ser um porta voz, mas ser um instrumento para que a notícia daqui saia sem maquiagem, reportando a verdade e também ficção que é a cara de todo escritor. Muito axé a quem fortificou a caminhada desse blog, ao Aice que fez o primeiro visual, ao Domenic que fez o novo, a Thais que fez o logo, e a todos que somaram, compartilhando e divulgando esse humilde trabalho, que é fortificar nossa eterna periferia. Paz e feliz 2013 Ferréz

Um ótimo presente

Que tal dar de uma só vez: Senso crítico, diversão, humor, tesão e aventura?
Nas livrarias, lojas 1DASUL ou pela internet www.rapnacional.com.br

Deus foi almoçar - Capítulo 1

Deus foi almoçar Capítulo 1 Aprenda com o abandono É dia, alguém leva outra pessoa para juntos não chegarem. Alguém leva toda a culpa para outro inocentar. Alguém descobre que tudo que tem é nada. É dia, alguém atravessa uma linha tênue. Estou sozinho agora, em algum lugar minha pequena dorme, e finalmente estou sozinho agora. Meu nome não é o mesmo, e nem foi antes, mas eu tenho alguns motivos para não querer ser chamado. Cruza a sala, ao banheiro ele chega. Mais atenção as coisas que geralmente já viraram rotina. Barbear. Em algum lugar uma letra de amor é escrita, e uma poesia é rasgada. Em alguma casa, um pequeno espelho reflete um nariz que podia ser mudado. A descarga foi dada, a porta fechada, o zíper puxado, o chinelo recolocado, o botão abotoado, a descarga terminada, o ralo lotado, o rosto parado, o calor acumulado no assoalho, a vida passada, o futuro usado. Saiu. A estrada, o caminho, as luzes, tudo a sua volta era algo pintado, uma cidade cenográfica. Quando saio para caminhar, sempre nosprimeiros minutos recrio tudo a minha volta, e não sou eu mais o que já fui, e não sou eu mais o que todos querem que seja. Em alguns minutos, nos primeiros passos, eu sou simplesmente alguém andando, usufruindo do grande nada. Como nada daquilo parecia real, era prisioneiro de um pretenso e não conseguido conforto. Lembrou-se da época de férias, tentava sentir a liberdade. Na praia em um ano, no sítio em outro, longe da casa, do conforto que seu pai passou a vida toda construindo. Agora era só um corpo indo comprar SL em algum dos 1.127 mini mercados do governo espalhados pela cidade, depois voltaria cheio de caixas e comeria, comeria rápido para ir ao trabalho, arquivar, arquivar documentos que não podiam ficar ao tempo, tentava potencializar seu trabalho, achar alguma importância para que fizesse sentido ir lá todos os dias, na maioria das vezes não encontrava nenhum motivo, mas mesmo assim ele ia. O ônibus demorou uma eternidade para chegar, não se arrependeu de ter ido a pé, mas ter que pegar ônibus para voltar lhe angustiava, queria mudar a rotina, sempre o mesmo farol, o mesmo posto de gasolina, ao menos no ônibus daria para ir lendo, claro que ele pensou que iria sentado, pensou errado. Chegou no serviço com dez minutos de atraso, na porta do arquivo a secretária da central esperava para recolher alguns documentos, disse um leve bom dia e abriu a porta, ela entrou e viu os documentos na mesa, perguntou se podia levar, Calixto balançou a cabeça afirmativamente depois resolveu explicar. Esperou muito? Acabei me atrasando um pouco. Não senhor, acabei de chegar, por falar em atraso, já lhe falaram Senhor Calixto que o Feng Shui ajuda na vida da pe ssoa? Hã? Que por exemplo Yoga dá mais vivacidade? Não. O senhor é muito reservado, não que isso seja um defeito mas, por exemplo no seu caso até uma religião como o a Assembléia de Deus seria bom, tira dor, a solidão, e até a amargura da pessoa. Calixto olhou para ela, um olhar gelado, não entendia o que estava acontecendo, quem ela pensava que era, não sabia nada dele, nunca tinham trocada sequer três palavras durante esses anos todos, aquela era a conversa mais longa que já tinha tido com alguém em toda a empresa, continuou olhando e disse um obrigado forçado, ela então disse qual documentos precisava e o nome do segurança, o caso era insólito, segurança do hospital Pinel, João Luar Saxies ficava todo o tempo de serviço olhando os internos, quando num dia perdeu a razão, os amigos diziam que de tanto vigiar louco acabou se tornando um deles. Calixto foi até a terceira prateleira, começoou a procurar e começou a localizar os papéis, pegou um envelope e entregou para ela. Ela tentou voltar ao assunto da religião, Calixto virou as costas e foi para a outra sala, quando voltou ela não estava mais lá. Sentou junto a maquina de escrever, a mesa toda cheia de papeis, notas fiscais que deveriam ter sido preenchidas, ele pensa naquela estranha conversa, religião, de repente ele poderia ir a algum culto, ou reza pra ver se melhorava mesmo seu astral, na cidade do Valdomiro, ou numa das fazendas dos dissidentes, mas se eles tiram amargura, dor, solidão, o que restaria dentro dele? Prepara-se para o relatór io, põe três folhas de papel na máquina, ajeita entre elas duas folhas de papel carbono. Bate 15 teclas seguidas e na 16ª erra, assusta-se, levanta, vai ao arquivo, tira algumas pastas, consulta o termo do antigo relatório, a mesma palavra que ele usava de seis em seis meses, mas que nunca lembrava, senta e começa a datilografar novamente. Abre a gaveta, pega o liquido que faz ele ter nova chance, muda de idéia, abre a gaveta, de dentro retira uma borracha dura, já pela metade, apaga o pequeno erro, repete nas duas cópias, dá uma soprada para afastar os inoportunos farelos da borracha. Bate mais 26 teclas, erra no acento, volta para a gaveta, faz a mesma merda novamente,retira a borracha, volta a borracha, assopra, morre aos poucos. Anda pelos corredores e verifica as janelas, todas fechadas, tranca a casa, sai. Resolveu descer dois pontos antes e continuar andando, para num pequeno bar e compra uma lata de cerveja, quando foi abrir, o anel da lata deu um pequeno beliscão em seu dedo. Bebia a cerveja, andava e dava uma chupada na ponta do dedo que estava ardendo. A casa se aproximou, bateu a mão no bolso e enfiou, pegou na colher, deixou-a lá e foi para o outro bolso, retirou a chave, entrou e foi tirando os sapatos, colocou a lata no braço do sofá. Notou o canto da estante nesse dia, tentou se apegar a alguma coisa para não olhar novamente para o que podia ser o portal que sempre o atraia, mas ele não teria coragem de olhar, não naquele dia. Começou a perceber os discos, olhar calmamente para as fitas de vídeo, via o excesso de coisas, tomou a decisão de não adquirir mais nada. Sentimentos que se transformavam em produtos, tempos passados que refletiam alguma desculpa de lembrança. Sabia que o entulho dentro da sua cabeça já o afetara muito durante a madrugada passada, não precisava começar revirar tudo novamente. Passaram alguns segundos, tudo voltou ao normal, pegou a foto na estante, limpou a poeira, estava da mesma forma, os poucos cabelos raspados, o óculos, o ralo cavanhaque sempre torto, a camiseta azul já desbotada, olhou para si, levantou o braço esquerdo e tocou no queixo, o mesmo cavanhaque, passou a mão pela cabeça, o mesmo corte, há quanto tempo ele era ele mesmo já não sabia. Pensou em sair, mas já andara demais, estava na hora de ficar em casa, só assim não seria um transeunte passando rapidamente, esbarrando, incomodando, não seria a maquiagem da mulher vaidosa, o menino apontando e rindo de algo que ainda não entendia. Prometeu não sair tão desprotegido, afinal eles acham sempre que sabem algo, mas a profundidade do que mostra só ele controla. Não que isso funcione, afinal com a idade tinha certeza de que já tinha várias personalidades. Quando passo em frente a uma casa de relaxamento sou puto, quando ando em frente a uma igreja sou santo, faço o sinal da cruz, quando visito minha mãe, deito no sofá, sou criança esperando o café com leite e o pão com manteiga esquentado de uma forma que só ela sabe fazer, quando vou na casa de algum amigo, se for do tempo da escola, até os apelidos da época são usados, se for a casa de vizinhos, as brincadeiras do bairro. Não é por consideração que visitamos alguém é por querer sentir algo que valha a pena. Se a felicidade é um ponto de vista, Calixto estava cego. Deus foi almoçar - Ferréz - Editora Planeta.

A primeira vez (Especial para a Revista Fórum)

A primeira vez. Sai de casa 2 horas antes como sempre faço quando vou para Pinheiros, em uma hora e 20 estava na Fórum, como não estou dirigindo por causa das dores, aja paciência. Entrei na redação e logo ele veio com seu sorriso, casa nova, novas expectativas, isso é muito louco, pois fiquei 10 anos na Caros, tive prazer de trabalhar com o Sérgio, com a Marina com o Thiago. Mas hoje é uma nova etapa, eu com a cinta por causa da hérnia, e o Rovai me chamando para fazer a reunião num almoço, segurei a dor enquanto caminhava pelas ruas arborisadas, bem diferentes da minha quebrada. Fomos na Mercearia São Pedro e me senti um pouco como os escritores da Vila Madá, mas só durou um almoço, em uma hora eu estaria no Capão de novo. Agora era só escrever o primeiro texto para a Fórum, e começar essa nova caminhada, durante esse tempo longe de uma revista mensal, eu sempre preparei textos todos os meses, acho que nunca perdi o costume. A revista é um meio que gosto muito, a internet é legal, o Face dá um puta acesso, mas as fotos, o texto montado, o cheiro do papel, foda. Sabe você num dobra uma página de um blog e leva para mostrar a um amigo. O prazo é sexta-feira, como sempre sem muito tempo para não ficar mamão, a vida é contramão. Pros periféricos Deus fez o mundo sem canto, todo rendondo pra nenhum de nóis se esconder. Peguei um trecho de um texto já feito, o literatura vilã, falava da cena atual da quebrada, olhei, mexi, retoquei, multilei e não senti firmeza para ser o primeiro. Olhei e peguei outro texto, num sei se rola, e vou fuçando o computador até que sinto a primeira pontada, depois outra em seguida, eu olho para os livros na estante, e tudo começa a girar. Sentido Santo Amaro, hospital. Elaine me deixa no pronto socorro e vai fazer minha ficha, a cinta me aperta eu vou tomar água, mas volto, o hospital está lotado, não tem uma cadeira vazia, eu pego minha carteira de convênio pra ter certeza de que tenho um. Pego o número, vou para outra sala, lotada também, um painel com números, gente olhando, uma TV com uma programação onde um jovem liga para o médico e recebe conselhos em casa, dicas de vida saudável, gente andando na praia, comendo salada e sorrindo, ficção. Eu penso no texto, tenho que entregar no prazo é o primeiro, e periferia num pode errar, tudo pra gente é mais foda de explicar. Uma hora sentado, nada. Vou a sala da médica, pesso licença, explico a dor, ela fala que minha fixa não chegou, eu saio e olho outras salas, vejo fixas num acrilico, vou ver se a minha está lá, um homem de jaleco aparece, diz que não posso mexer nas fixas, explico que só to vendo se a minha ta lá, ele diz que não posso nem estar ali. Regras eu grito, regras pra caralho. Volto pras cadeiras, a médica aparece, acreditou na minha cara de dor, me chama, eu explico que a operação foi marcada muito longe, em Dezembro, e estou com muita dor, ela questiona, diz que tinha que ser antes, vai pedir minha internação, mas antes vai ter que ligar. Em seguida escreve e me entrega, eu vou para a medicação, só tem uma cadeira, sento. Uma enfermeira com cara de desgosto me olha, e diz que não posso esperar ali, eu mostro a receita. Tramil na veia, Buscopam na veia. Duas horas se passam, as pessoas chegam e saem, alguns choram, outros gemem. Outra enfermeira vem, com papéis, eu precisava escrever o texto, olho os papéis, não vai dar tempo de entregar. Joga uma garrafa no colo, contraste. - O senhor toma e depois vai fazer tomografia. Eu tomo, ela volta, eu devolvo a garrafa, ela diz que demora três horas para fazer efeito e poder fazer o exame. Três horas depois eu volto do exame, vou a sala da médica, ela diz que demora mais uma hora para chegar o exame. Já é de noite, eu estou lá desde as 11 da manhã, não comi nada, a fome aperta, vou a portaria. O senhor não pode sair assim com as medicação. Recebo a notícia, vou ser internado, devo ficar em jejum, lembro da carne que comi na Mercearia, eu não acredito, vou ter que ficar num lugar improvisado, não há vagas. Uma cortina de plástico uma maca e uma cadeira, eu deito, me furam para por o soro, eu começo a pegar no sono. O homem de jaleco que tinha discutido comigo aparece, ele vai avaliar minha hérnia azar dos infernos, está com três enfermeiras, ele mexe, eu grito, ele aperta mais, eu grito, ele aperta mais ainda, e depois diz que não vou poder operar, que o certo é usar a cinta e agendar a operação, eu ignoro, então ele diz que a equipe de operação que vai decidir. Acordo a meia noite, alguém está gritando, na frente da recepção também tem gritos, alguém fazendo barraco, as enfermeiras riem, debocham, gente que entra, gente que sai, enfermeiros falando de seus carros, do motor, da inspeção veincular que não deu certo. Penso na inspeção, você marca a hora, vai lá e num espera nem minutos, tudo funciona, no hospital não é assim. São 3 horas da manhã, eu me reviro na cama dura, o lençol fino tenta segurar o frio em vão, eu penso num texto, algum tempo to escrevendo sobre a América latina, mas numa ia ficar legal pra estrear com ele, tinha que ser algo escrito mesmo no calor da fita. Um homem grita, diz que está na mesma cama a 2 dias, não aguenta mais, ninguém fala de sua transferência, ele se desespera, começa a chorar. Eu levanto, preciso ir no banheiro, desde que deitei ninguém veio falar comigo, pego o soro saio. Acordo, são 6 da manhã, tem um senhor com um ferimento no ombro, ele geme ao meu lado, eu sou o 10, ele é o 9, levanto novamente, um jovem no 5 me olha, me reconhece, eu pergunto de onde, ele diz que assistiu o dvd 100% favela, está com problema no coração, eu falo da hérnia, ele lamenta, eu vou ao banheiro novamente e volto. São oito da manhã, o médico da equipe cirurgica chega, faz os mesmos toques na frente da hérnia, me olha e diz. Sr. Se todo mundo que achar que deve operar for operar ai não tem jeito, a sua hérnia ainda não tá estrangulada, da para ficar ainda, marca a operação com calma. Eu retruco, digo da dor, digo do cansaço. Isso aqui é uma emergência, só operamos em caso de estrangulamento. procureio o Sus, eles operam, mas não põe a rede, e essa rede é nescessária para quem é gordo, se não a hérnia volta, o tecido se rompe, mas eles não tem a rede, fui ver o preço da rede R$ 3.000,00 vou corri atras do dinheiro, mas não adianta, eles não aceitam o paciente comprar a rede. Quantas pessoas passaram por isso? Começo a pensar como é feito essa conta no governo, quanto que vale uma vida. e penso se tem matemática deles pra todas cirurgias, e vejo que estamos num labiritno. Levanto, são 10 horas da manhã, visto a cinta novamente, vou para casa, sento no sofá com o computador na mão e vou escrever o texto. Passei a vida toda vendo por aqui gente com a perna necrosada, com a barriga inchada a ponto de explodir, e me perguntava proque essas pessoas não se cuidavam, mas o hospital faz você voltar com a doença pra casa, parece que fala assim. - É sua volta com ela, em vez di dizer. - Vem aqui vamos resolver.

Nova Coleção 1DASUL

Já a venda nas lojas do Centro, galeria 24 de Maio, ou no Capão Rendondo e em todos os 14 pontos de distribuição da marca 1DASUL. LOJA CAPÃO 5870-7409 LOJA CENTRO 3222-8387

Corre Monstro

Nosso lançamento da obra Desterro.
Salve, um corre monstro nesse final de ano. A nova coleção da 1DASUL SAI ESSA SEMANA, com muitos artistas daqui assinando os trampos, fechamos com uma nova oficina na quebrada e o público tem aprovado as novas roupas.
Enquanto isso, o Site Rapnacional.com.br está vendendo o livro Deus foi Almoçar pela internet, só clicar e comprar, também estão com o Capão Pecado por lá.
O Desterro chega no centro amanhã na parte da tarde, tem sido um sucesso de vendas na loja do Capão e desde o lançamento agente num para de ouvir comentários positivos sobre essa História em quadrinhos que fizemos com muito carinho e dedicação. 1DASUL, FIRME E FORTE.

Esse mês na Revista Fórum

Esse mês tem um texto meu inédito na revista Fórum, o texto fala da dificuldade de viver em São Paulo e compara os carros a caixões. A revista Fórum está em todas as bancas, e traz matérias sempre de cunho social e com uma ideologia ímpar na mídia Brasileira. estreei uma coluna por lá chamada Litera-Rua, que tem como foco o ponto de vista de quem vive desse lado da cidade. É só conferir. abraços. Ferréz