Blog do escritor Ferréz

2012 1DASUL & Dexter

O ano é 2012 e o Oitavo Anjo Chega na 1DASUL.

A 1DASUL começa o aquecimento da nova coleção com vários nomes de peso, A primeira lâmina é Dexter, Rapper que traz força e contundência para o Rap Nacional.
Os preparativos para a nova coleção que vai trazer todo um novo departamento de produtos já começou.
1DASUL SB lançamento nacional em Julho, nas lojas próprias e em todas lojas representantes.

mais novidades www.1dasul.blogspot.com

Posfácil

Posfácil

Há uma pequena árvore na porta de um bar, todos passam e dão
uma beliscada na desprotegida árvore. Alguns arrancam folhas,
alguns só puxam e outros, às vezes, até arrancam um galho. O
homem que vive na periferia é igual a essa pequena árvore, todos
passam por ele e arrancam-lhe algo de valor. A pequena árvore é
protegida pelo dono do bar, que põe em sua volta uma armação
de madeira; assim, ela fica segura, mas sua beleza é escondida. O
homem que vive na periferia, quando resolve buscar o que lhe roubaram,
é posto atrás das grades pelo sistema. Tentam proteger a
sociedade dele, mas também escondem sua beleza.
A luz dos postes; a oração do idoso que pede que Deus
ilumine sua vida e a vida dos seus; o menino que não concilia o sono
com a fome; o barulho dos carros passando pela fresta do barraco,
encobrindo a música do disco que fala de muitos na contramão da
evolução social, sendo seus destinos infrutíferos, e sendo seus futuros
tão gloriosos e raros quanto um belo pôr do sol.

Trecho do Livro Capão Pecado

Super EnsaiAço de 2012 nessa sexta

Nessa Sexta-Feira tem EnsaiAço, o livre espaço para o Rap Nacional, Rua Grisson 80 A estúdio Maraca. Capão Redondo.
Só chegar e fortalecer o Rap de quebrada.

Coletânea com preço super especial no local.
Apresentação: Mauricio DTS, Ylsão (Negredo) Martinha (Vila Fundão)

Mudança$ (ferréz)

Mudança$

O Subsolo da galeria 24 de Maio é um lugar meio asfixiante, eu não consigo me acostumar, acho que me lembra os fornos das padarias que trabalhei, sempre no fundo do comércio, sempre com poucas janelas e fechadas, ou mesmo o Bob’s e suas máquinas de fritar batatas, os tosters, chapas etc.
Então fico um pouco, faço o fechamento da loja, compro uma água pra mim e pro atendente, e logo decido fechar a loja meia hora mais cedo, o menino fica alegre, eu sei o que é isso, quebrar a rotina dá uma satisfação tamanha, então saímos da galeria, conhecida como Galeria do Rock, e o andar que tem minha loja é chamado de Espaço do rap, embora hoje só tenha sobrado 4 lojas de cd’s de rap, mas pelo menos as lojas de roupa também tem a cara da cultura Hip-Hop.
Então tomamos rumos diferentes, ele vai para casa eu vou tomar um café expresso, tomei um curto e preferi não comer nada, mais pra frente vocês vão entender o porque.
Comecei a caminhada, sentido Roosevelt, um lugar meio boêmio, com mesas para fora dos bares, alguns peças em cartaz e muito vai e vem, o que sempre me chama a atenção é o prédio da esquina, que tem um tipo de minis estaca de ferro na calçada, é um ante mendigo, coisa de paulista PSDBista.
Vou para o final da rua, noto a praça sendo reformada, mas as construções estão grandes demais para ser só uma praça, dizem que é para abrigar floriculturas, vixe! negócio.
Chego no Gual, ele é o capitão do maior espaço de quadrinhos que conheço a HQ Mix, ele é o mesmo cara que junto com seu irmão Jal fez o prêmio que valoriza tanto a HQ nacional, mas isso é outra treta.
Logo na porta eu vejo sua grande companheira, a Dani, o cigarro na mão, legal ver ela porque a algumas semanas quando fui lá, a Dani disse que o cara dono do prédio não quis renovar o contrato, queria mais de 200% de aumento, e tudo porque do lado montaram um salão pra madames, e cobraram um puta valor, agente que compra gibi não consegue ralar com a beleza então tá tudo assim meio no risco.
Logo que dei um abraço nela minha alegria se foi, vi as caixas e perdi a postura, muchei feio, todo mundo que tava na porta notou, mas eu explico, eu também tenho comércio, e sei o duro que é cativar os clientes, fazer os amigos em volta, construir todo um pensamento, e a HQ mix tem muita a ver com a 1dasul, pois agente fez toda uma ideologia em volta, a livraria do Gual é cheia de visitas ilustres, grandes desenhistas frequentam o espaço e o público tem chance de ficar nessa convivência, agente vai chegando e logo é apresentado a alguém que tem um blog, que te apresenta a alguém que tem uma coleção de gibis nacionais, que por sua vez lhe apresenta alguém que coleciona programas de rádio. Várias madrugadas eu já passei por lá, sempre com muito papo sobre qual revista é a melhor da semana, que editora apostou mais nas HQs esse ano, e por ai vai.
Só na HQ Mix, tem um espaço todo dedicado para os fanzines e revistas nacionais, foi lá que durante anos encontrei grandes histórias escritas e desenhadas por Pernambucanos, Baianos, Sergipanos, Mineiros, com esse espaço você consegue ter todo um enriquecimento nacional, gente que nunca seria acessível se não fosse por esse espaço.
Foi na HQ Mix, que olhando os quadrinhos fui abordado por nada menos que o Thaide e cheguei a indicar 2 revistas para ele antes de ele me reconhecer, uma coisa muito engraçada mesmo.
Bom, voltando aos tempos modernos, tudo tava encaixotado, a Dani foi lá pra dentro e gritou.
Gual! o Ferréz tá aqui!
Ele desceu e me deu aquele forte abraço, e começamos a conversar.
Dava para ver que ele estava animado por um lado, pois vai para o Pacaembú, num lugar em frente a FAAP, nova casa, nova espaço, mas também dava para sentir que era muito triste sair, como disse eu também tenho comércio e a coisa mais triste é fechar as portas, a alguns anos, quando vi que a obra do Metrô não ia pra frente e estava acabando com todo o movimento em Santo Amaro, na galeria Borba Gato, decidi que era hora de fechar, primeiro fiz toda a contabilidade e realmente quando chegou nos 60% de queda, nem funcionário dava mais para pagar, então eu mesmo fui trabalhar na loja, fiquei nisso por 3 meses e não deu mais, hoje não consigo nem olhar para a nova loja que está no lugar de onde antes era minha loja, então sei como dói, como é foda mesmo passar por isso.
Tentei segurar mas despistei um pouco e fui prum cantinho, onde algumas lágrimas caíram, revi ali naquelas caixas todos as madrugadas que passei, os sorrisos que dei, as conversas, e senti um orgulho também por ter feito parte dessa história, já que na perifa escritor é tão sozinho para falar desses assuntos.
Revi as minhas idas lá com meu parceiro Ricardo Sêco, que sempre dizia que não ia comprar nada, mas sempre comprava, ou mesmo as vezes que fui levar livros da Selo Povo pra lá com o Marcelo Martorelli, os amigos da quebrada que cheguei a arrastar para lá, como o Maurício o Ronaldo e o Cebola.
Nessa nossa última conversa ali na Roosevet, eu eu Gual falamos dessa higienização que o sistema faz questão de promover, falamos do afastamento social que sem tem hoje, onde a figura do tiozinho do bar, do tiozinho do cabelereiro vai sendo trocado pelo atendimento padrão, impessoal e rápido.
O afastamento daquilo que mais nos deixa com a sensação de que estamos de fato vivos, o convívio com o outro.
Hoje, olhando pra algumas revistas que aqui na minha casa me fazem companhia, escutando meus discos também comprados ainda por uma atendimento tão pessoal, por um atendente que foi ficando amigo no decorrer desses tempos idos, igual ao Gual, a Dani, o Floreano, que me deram uma casa longe do Capão, que me fizeram companhia durante aqueles sábados solitários, onde um escritor saia do extremo da Zona Sul para ir buscar não só revistas, mas poder exercer a amizade, conversar e dar risada, e depois poder comer um bom prato de comida no restaurante da esquina (entendeu porque eu só tomei o café aquela hora?), que por enquanto ainda está lá, por enquanto, pois em breve do jeito que anda, uma rede de fast food logo entra em seu espaço.
Quem perde é a Roosevelt também, que fica menos cultural, menos alegre, menos aconchegante.
A luta continua, todos querem uma cidade que cresça, mas que não esqueçam o principal, o convívio com o seu igual.
Para a HQ Mix, o que posso fazer, o que sei fazer é continuar indo lá encher o saco, esteja ela onde ela estiver, mas também posso escrever um texto, que é a única coisa que acho que sei fazer, assim, escrever bem pessoal, com carinho, com detalhe, para que alguém leia e saiba, que enquanto existir gente boa, a luta continua.
E existe.

Viva a nona arte.

15 de janeiro de 2012.

Mídia mente (Ferréz)

Mídia mente

Embora o título seja outro, um conjunto de palavras parece que me perseguiu durante o ano todo de 2011, intolerância a lactose.
Mas o que realmente fico notando nesse conjunto, é a palavra intolerância, meu problema é intolerância a mídia mesmo, por exemplo, como pode o mesmo telejornal que mostra o helicóptero invadindo um terraço vazio, fazendo um show totalmente fake orquestrado pelos policiais, para prender um bicheiro que até agora não acharam, o mesmo telejornal fala da Mega Sena, que ela tá acumulada, que ainda dá tempo de jogar, mostra o que fazer com tanto dinheiro, 50 casas de tantos milhões, tantas viagens, e até dá dica no site para quem ganhar poder entrar e ver como gastar esse dinheiro.
Depois vem a matéria da “limpeza” da Cracolândia, onde mostra um monte de gente, no caso os viciados correndo da polícia, o comando da PM é tão idiota quanto o Prefeito, que orquestra uma “limpeza” dessas, e não leva um médico, um psicólogo, um psiquiatra, e vão jogando o povo na rua, e no depoimento o irresponsável que fala pela PM, diz que tem várias parcerias, uma delas é o Choque, grande merda levar o Choque para espantar gente que nem consegue andar direito.
O espetáculo continua, e o imbecil fardado, diz que quem quiser ser encaminhado para o hospital, assim será. Tá bom, um viciado, vai chegar num policial e dizer - Senhor me interna ai?
Ah! como diz o Datena, me ajuda ai.
O mesmo prefeito que está com os bens penhorados, agora manda “limpar” a Cracolândia, e fica assim, as viaturas estão lá para não deixar ninguém voltar.
Tá foda, difícil missão, tá sendo agredido quem é a vítima, mas está livre quem promove a opressão, e usuários estão na rua, e o consumo está igual, só que mais espalhado pela cidade, vão andando, de um lado pro outro, e a PM olhando, fingindo que está agindo, Vira e mexe revista alguém, não acha nada, tá tudo na mente.
Uma repórter bem nascida, diz que é difícil saber o que é móveis ou lixo, e mostra casas todas quebradas, onde eles dormiam.
Agora vão dormir nas ruas da cidade, boa medida, inteligente medida, parabéns pela estratégia.
A Dilma prometeu acabar com o crack, mas quem tá tentando fazer barulho é o Kassab, época de campanha chegando, então vamos fazer qualquer coisa de qualquer jeito mesmo.
Gilberto diz que a polícia estando lá, facilita outros serviços como a internação obrigatória, mas cadê o tratamento? cadê a conversa, a prevenção?
Deve estar nos 90% de verba que foi para Pernambuco, enquanto Minas afunda em lama e chuva.
Mas tá tranquilo, cinco ganhadores estão bem, Neymar é o cara, e agente vai trombando com um monte de andróide na rua todos com as mesmas conversas.
Conversas padrão, repetidas.
A Mega acumulou, você já fez sua aposta?
E o Neymar heim, você viu o barco dele? E ele dançando ai se eu te pego?
E o Ronaldo é verdade que tá com dengue?
Bom, da minha parte, que não aguento assistir mais esses canais, vou ver o milagreiro Valdomiro inaugurar sua nova sede de 240.000 metros, chamada de Cidade Mundial, toda paga com doações dos fiéis.
A Igreja Mundial tem um gasto de 30 milhões para se manter, mensalmente meu chapa, e no dia 1 de 2012 a nova sede foi visitada por 3 milhões de pessoas. Oh¡ Glória.

Ferréz é datilógrafo, autor de vários livros, entre eles, Manual prático do ódio e Ninguém é inocentem em São Paulo, atualmente termina o romance Deus foi almoçar.