Blog do escritor Ferréz

Lords of Krump Clip Oficial 1DASUL

Lords of Krump é o nome do grupo de dança formado por jovens moradores do Capão Redondo, a 1DASUL inaugura sua nova campanha apresentando um clip do grupo, com música do Negredo e Z'africa Brasil.



1DASUL
coleção Representarua
Produção Executiva: Ferréz e M. Jolnir
Realização Quadra 11

1DASUL é uma marca criada na periferia de São Paulo, na região sul em 1999 e produz cultura e fomenta o comércio local, mais detalhes no site www.1dasul.com.br

A natureza de Nêgo J.



A natureza de Nêgo J.

Pediu para agente ir com ele, ninguém botava muita fé no que falava.
Não era nada sério, tipo o cara não tem palavra na quebrada, era mais uma coisa assim, como ele brincava muito, pouca coisa era tida como verdade.
Não sabia bem o que queria da vida, não que isso também importasse, afinal não faria diferença se ele quisesse ter outros planos, sua vida era mais ou menos como a dos outros moradores, parecida assim como uma folha carregada pelo vento.
Já tinha três filhos, o nego na frente do nome não era bem o efeito da sua cor, era um apelido mais por falta de criatividade, afinal tantos, pernambucos, cearás, que não tinha mais vaga pra ninguém.
Era estranho sim o jeito que se vestia, chapéu de couro, botas longas, sempre com a camisa aberta e de bermuda jeans, quem olhasse ao longe já veria que aquele homem não se olhava no espelho, muito menos escolhia roupa para usar.
A casa perto do córrego também tinha um ar de abandono, os filhos viviam brincando no escadão que dava acesso a Cohab. Subiam e desciam correndo, com um risco tremendo de caírem dentro do córrego.
De uns tempos pra cá começou a aplicar nesse carro véio, um Corcel cortado na traseira, adaptado tipo caminhão, com um monte de madeira servindo de baú.
Dentro dele tinha tudo, quando fazia bico de pedreiro carregava, pá, enxada, andaime. Quando decidia catar papelão era outros quinhentos. Quem nunca viu Nêgo J. molhando a imensa pilha para pesar mais.
Como morava próximo a Cohab sempre olhava para o morro cheio de lixo, pensava que podia ser uma floresta, até o dia que pirou o cabeção e foi lá com uma enxada cavar e plantar,
Muita gente gozou desse homem nessa época, tava maluco, fazer plantação em beira de favela era coisa de desocupado, mas Nêgo J. nunca ligou pros zoutros, se não teria que mudar sua maneira de ver as coisas, e já se achava velho pra isso.
E num é que o barranco virou uma plantação bonita, chamada por ele de “meu sítio” e quando ficou pronta que ele parou de envolver agente nesses passeios onde sempre agente terminava em frente de um terreno cheio de mato, onde ele falava que um dia ia comprar.
Mas nóis é tudo da quebrada, e sabe que história bonita não dura, e o “sitio” de Nêgo J. virou ponto pra maconheiro, pra catar mulher e mais um monte de besteira, que o homem nunca aprovou. Acabou foi abandonando o lugar, cheio de mato que ta lá agora.
Foi mais legal a época da mobilete, o bicho fez uma obra grande, chapiscou parede até a mão engrossar e com esse dinheiro sacou uma mobilete, a bicha fazia um barulho monstro, parecia mais um trator, quem chegasse naquela hora, antes dele soltar a danada, diria que aquilo tudo iria pra os ares, mas em vez disso a arrancada da bicha jogava pedregulho pra traz.
E foi com ela que foi pra Campinas, Juquitiba, Itapecerica da serra, o homem varava tudo que é verde, quando podia lá ia ele, com a camisa aberta, uma mochila véia nas costas com duas garrafas de refrigerante cheias de gasolina e muita coragem, ou seja lá o que era aquilo.
Foi muito engraçado o dia que chegou todo rasgado, disse que um caminhão tentou matar o sonho dele de nadar na cachoeira da biqueira.
Aquele homem não podia só ficar nos bares como todo mundo? jogando seu bilhar? tomando sua pinguinha? não! Em vez disso tinha que tentar ser diferente, tinha que pensar tanto em planta.
E porque se gostava da natureza tanto assim, trabalhava de pedreiro, jogando cimento em tudo que é lugar?
Acontece que Nêgo J. começou a ficar doente. Todo mundo vinha me falar que o homem tava em depressão, na favela pra quem não sabe, depressão é sinônimo de vagabundagem, ou até de frescura mesmo.
Eu como todo mundo, só ouvi. É tanto problema que agente acaba num se envolvendo em tudo, e além do mais ele me devia uma obra que nunca terminou, fato que depois perdoei, acabei falando com ele mais umas vezes, ainda mais quando estava mamado.
Também, quem me culparia? O homem já chegava contando piada, dizendo isso e aquilo de um jeito que contaminava todo mundo, a favela podia ta sinistra, que se iluminava quando ele chegava já fazendo graça.
Tem gente que é assim mesmo, vive de palhaçada que é pra esconder alguma tristeza embutida.
Tem um lugar aqui que chama parque Santo Dias, um monte de gente corre nele, outros levam as crianças pra dar um role. Foi posto esse nome dedicado a esse cara que lutou por algo de valor, pelo menos é o que todo mundo fala.
Mas o fato é que todo mundo aqui chama o lugar de “mata”, foi no meio da mata, entre as árvores mais altas, que Nêgo J. se enforcou.
Diz o pessoal ai, que juntou tudo né? Desemprego, depressão, esses negócio tudo junto.
Pensando bem não era, frescura nem vagabundagem.
Com tanta vastidão de verde nesse pais, tudo aí parado, mas cheio de dono, até que não era querer muito, ter assim um pedacinho de terra com verde, pra ele de repente plantar um pouco de esperança.

Dedicado a Nêgo Jaime.
Ferréz

Gog, a Banca e 1dasul no Angêla.


O Rapper Gog vai tocar rap Nacional da melhor qualidade nesse domingo, e a 1DASUL vai estar fortalecendo a corrente do coletivo A Banca, no local uma loja da marca com tudo por 50% de desconto, essa é a forma que a marca tem de mostrar o carinho pelo público do Hip-Hop Brasileiro.
veja o Flyer do evento e compareça.
Família 1DS

Lords Of Krump - Teaser

Lords Of Krump
Primeiro Teaser do clip
música de Negredo e Záfrica Brasil
Produção Quadra 11.
Produção Executiva: Ferréz
Campanha da 1DASUL 2011
Representarua.
clip Oficial completo lançamento nacional dia 20 de Agosto.



Representarua - Agora se completa o ciclo da auto gestão.
Lords Of Krump é um grupo formado por jovens de várias comunidades da Zona Sul de São Paulo.
Veja também a campanha com Lords Of Krump e 1dasul na revista Menelick segundo ato, e nas redes sociais.

A liga, liga nóis?

Assistindo o programa "jornalistico" da Bandeirantes A Liga, eu me constrangi, não só como ativista no bairro, mas como pai de família.
Conforme a matéria avançava, minha esposa saia e voltava não querendo mais ver, minha filha de apenas quatro anos perguntou, - isso é aqui pai?
Triste, muito triste mesmo, ver o que fizeram com o bairro.
Tem funk? toda periferia tem e todo salão burguês tem, tem bebida? toda porta de faculdade tem.
Tem ponto cultural? tem sarau? tem samba? tem festa popular? tem projeto cultural? tem uma área comercial gigantesca? parece que não.
O cemitério agrada mais do que o bar do Saldanha.
O assassinato agrada mais que o Ensaiaço na Grisson, o Sarau da Cooperifa, o Sarau do Binho, o Sarau da Coopermusp, o Cinema da laje, o trabalho de permacultura da Interferência.
O córrego traz mais audiência que o trabalho do Janga+Ação, o protesto dos punks da região, o movimento rock e suas bandas de garagem, a grife exclusiva do bairro, as quermesses populares, os shows de forró, o trabalho com a terceira idade, a Fábrica de Criatividade, o Capão Cidadão, A biblioteca Êxodus, a fanfarra do Euclides da Cunha, o jornal do bairro de Marcus Kawada, a cooperativa de mulheres, o trabalho do Senhor Pedrinho no jardim comercial, A oficina do espaço digital, e mais centenas de coisas positivas.
uma matéria gravada quase que totalmente de noite, com um tom de turismo, com muita ironia e despretenção de ver todos os lados, que é o que o jornalismo tinha que fazer.
Agora entendo quando entraram em contato comigo, e após eu dizer que queria falar de literatura e cultura, nunca mais voltaram.
Mentiram quando diziam que os entrevistados moravam aqui, muitos são turistas, e quem está dentro da comunidade sabe o que estou falando.
Tenho um grande orgulho, das dezenas de moradores que me procuraram e disseram: - aqui não tá assim.
A palavra na reportagem, Lugar violento, foi repetida muitas vezes, mas não engana o povo que enche os ônibus para ir trabalhar, e para voltar para um bom lugar.
Prestenção, respeita nossa quebrada, porque usuário de crack tem, mas você tem que procurar, no meio dos becos, entre homens e mulheres que ralam todo dia por uma vida melhor, você tem que vasculhar bastante para achar um meliante no meio de tanta gente escrevendo, grafitando, recitando, cantando, e produzindo um bairro melhor.
Os moradores lutam todo dia para terem orgulho daqui, pois ao contrário de quem produziu as matérias, agente não tem outra vida não, o nosso berço quando temos um é fixo.

Se você quer opiniar, faça desse blog um grito, pois muita gente do bairro entra nesse espaço.

Próximo lançamento da Selo Povo

Depois do emocionante lançamento de Sob o Azul do Céu de Marcos Teles, agora tudo está ficando pronto para o lançamento de Oh, Margem! Reinventa os Rios! de Cidinha da Silva.
O livro está entrando na gráfica e em breve anunciamos o lançamento do quarto livro da Selo Povo.
Esse é o último trabalho com apoio do CCE e onde o lançamento é feito na Ação Educativa, a partir do próximo estamos na contenção, mas como sempre foi o firma não para. Literatura Marginal prossegue!

Marcos Teles durante lançamento do livro azulzinho da Selo Povo.
www.selopovo.blogspot.com

EnsaiAço no youtube

Salve, cada vez são mais grupos postando suas participações no Ensaiaço, Realizado no Estúdio M, na rua Grisson 80-A no Capão Redondo.
O livre ensaio de grupos de hip-hop acontece na última sexta-feria do mês, com mediação de Maurício DTS (Detentos do Rap) e Negredo.
agora é possível ver os videos dos grupos no youtube, só entrar lá e digitar Ensaiaço

agrande abraço e nos vemos por lá.

Ferréz