Blog do escritor Ferréz

Cronista de um tempo ruim

Eu me agarro a algo já batido,
uma velha letra que ouvi a muito de um velho inimigo,
Penso nas línguas que ferem e estrupam meu ouvido,
dizendo entender e se parecer comigo.

Ferréz – Cronista de um tempo ruim

Primeiro lançamento da editora L.M, no primeiro semestre de 2009.
a coleção de 8 livros segue com a escritora Cernov (Manaus). e muita mais marginália vem ai.
Distribuição periférica.(leia-se Saruas, Escolas, Ongs, Bares, Igrejas, estúdios, lojas e qualquer lugar que quiser traficar informação).
o que é Selo Povo?
é o nome da coleção da Editora L.M. que publicará 8 autores, todos a um preço bem acessível e com distribuição que privilegiará a periferia, os locais já foram mapeados e os livros chegarão lá primeiro e com melhor preço.
O Selo Povo foi criado para fazer o livro chegar a quem realmente precisa ler, é também uma forma de mostrar ao mercado a falta de senso referente ao preço das obras, pois um livro de bolso chega a custar até R$ 20,00 em livrarias.
Privilegiando a distribuição nos bairros, nós da L.M. colocamos a periferia no centro do trabalho, já que somos nós que produzimos todo o conteúdo e depois temos de"viajar" para encontrar um local que venda nossos produtos.
Cultura da periferia em alta voltagem.
Quem for morador de bairro, e quiser ser um distribuidor, favor mandar e-mail para literaturamarginal@ibest.com.br para fazermos o cadastro.

Ainda dá tempo.

Revista Caros Amigos desse mês, especial sobre o extermínio Palestino.



O grupo de grafite Gente Muda, fez algumas exposições em várias quebradas, a última aconteceu dia 22, além as intervensões nas ruas que vem mudando o bairro, eles também vendem os quadros, quem tiver interessado pode achar um dos manos que tem contato na fábrica de cultura.





Programa Fortalecendo a Corrente, já está disponível no youtube a minha entrevista lá, agradeço a recepção e é muito bom participar de um programa feito pelos iguais a nós, dá pra ver que a evolução também chega ao movimento, através da sua própria imprensa agora.

Crianças e livros.

Salve
Apesar das notícias ruins pra mim, quando fui levar minha filha no médico essa semana e acabei passando mal, e num exame deu pedras nos rins, (o Ségio Vaz vai falar que é a água que eu tomo em vez de cerveja que fez me mal, quer apostar?), mas agora é mais água ainda pra ver se ameniza.
Também tem muita notícia boa, fiquei na Interferência nesse sábado. Abrimos na humildade e encheu de criança, o barato foi tão louco que elas me ajudaram a limpar tudo antes da gente mexer nos livros, e num colou nem um adulto pra ajudar, vocês acreditam? bom, assim que tem que ser, é pra elas e por elas.
Agora a viela mudou mesmo, eu chego e todas elas já ficam me rondando perguntando se vou abrir, e depois muitos falam que nosso povo num quer nada.
A casa foi aberta sem som, sem curso, e os livros viraram a grande atração, as mães então nem se fala, falaram que a viela estava estranha sem as crianças na rua.
Pra mim foi algo mágico, precisava ver meu rosto na hora, emocionante, cercado de crianças e livros.
Essa semana agente começa a levar algumas plantas para a casa, pra deixar a favela mais bonita.
Fora isso entrou vários textos meus nos livros dos professores esse ano, entre eles Periferia Lado Bom, e biblioteca Êxodus.
Essa é a relação que me passaram:O texto Biblioteca êxodus vai ser usado em :

Língua Portuguesa – 6ª série – 3º Bimestre – Volume 3
Caderno do professor 2009: 36.850 exemplares
Caderno do aluno 2009: 567.400 exemplares
Caderno do aluno 2010: 567.400 exemplares
Pela fundação Vanzolini
Português Idéias e Linguagens – 9º ano do ensino fundamental – Autoras: Dileta Delmanto e Maria da Conceição Castro - Editora Saraiva – texto Lado Bom

e só pra deixar os zóio gordo dormir, nenhum desses exemplares é remunerado, mas eu recebo no final o maior pagamento do mundo.
Abraços
Ferréz

Trabalho e muita correria.

Salve Revolucionários, o corre anda a milhão, olha as primeiras fotos do Interferência.
Estou colocando os livros aos poucos, to correndo muito, pois peguei essa responsa, mas é mó satisfação, e pretendo me dedicar muito mais.
Esse sábado eu abro mesmo que meio precário, pras crianças irem entrando, no dia que levamos os primeiros livros e cadeiras, as crianças já invadiram tudo e pegaram até livro emprestado.
o Jardim Comercial vai começar a mudar de cara.






A Célia e os meninos Casa do Zezinho ajudaram a levar as cadeiras e mesas para o projeto.
olha o início da nossa nova biblioteca.
nesse sábado vamos estar lá, interferindo entre o bar e a igreja.
Não é uma inauguração, pois não está nada pronto, mas o importante é começar mesmo na humilde como sempre foi.






Interferência 2009







Editora Literatura Marginal

"E que não fiquem dúvidas: interessada nos leitores de diferentes perfis, a literatura marginal-periférica sempre teve as populações marginalizadas como público-alvo definido. Não por acaso o esquema de distribuição das revistas de literatura marginal privilegiou as bancas localizadas em bairros pobres e o excedente foi doado para escolas públicas, presídios e unidades de internação de menores infratores. O lançamento do Selo Povo, com edições a preços populares, é mais um esforço de aproximar-se desses possíveis leitores, somando-se às dezenas de livros independentes, saraus e blogs literários alimentados pela escrita periférica."

Trecho do texto de Érica Peçanha do Nascimento, Antropóloga e pesquisadora da produção cultural da periferia.
Feito para a nova coleção da editora Literatura Marginal.
Conheça um pouco dos envolvidos no novo selo L.M.

Marcelo Martorelli - Produtor Editoral
Marcelo é editor e proprietário da Luzes no Asfalto Editora, publicou a escritora Dona Laura pelo seu selo, e recentimente vem somar na Editora Literatura Marginal, mais sobre seu trabalho no site www.luzesnoasfalto.com.br.
Na nossa equipe ainda tem:
Alexandre Barbosa de Souza, editor há quase quinze anos - na editora 34 (nove anos), na cosacnaify (cinco anos) - e desde maio deste ano na Hedra.
Paulo Vidal de Castro, formado em Desenho Industrial (FAAP), foi aluno do designer Haron Cohen e do fotógrafo Eduardo Brandão (Galeria Vermelho). Realizador de trabalhos em audiovisual – vídeos e curtas-metragens – (presentes em três DVDs) que foram e são exibidos em locais como o CineSESC, CCBB, MIS, FAAP, Finnegan’s Pub (Bloomsday), Centro Cultural São Paulo, entre outros. Fez trabalhos (audiovisuais, fotografias e quadrinhos) e duas palestras (FAAP e Casa das Rosas) sobre o seu estudo de Edgar Poe. Foi crítico musical por quatro anos, entrevistando o compositor Gilberto Mendes no 40º Festival Música Nova.
Thais Vilanova, Formada em Desenho Industrial pela FAAP, possui um escritório de design onde desenvolve trabalhos para mídias impressa e eletrônica. Trabalha com identidade corporativa, material promocional e projetos visuais de sites. Na área editorial realizou, ao lado de Paulo Vidal de Castro, a programação visual do livro Passagens de Willy Corrêa de Oliveira, entre outros projetos. Realiza diversos trabalhos para web, com projetos publicados em revistas internacionais de design. Seus trabalhos podem ser conferidos em: http://www.thaisvilanova.com.br
P.S.
No Jornal Le Mond Diplomatique Brasil desse mês saiu uma matéria com o título "Pelos Becos e vielas da periferia", por Fabiana Guedes, que traz detalhes do novo selo L.M.
Quanto ao primeiro lançamento da editora, ele já está no forno, se chamará "Cronista de um tempo ruim", e será seguido por 7 livros, totalizando uma coleção de 8 volumes.
Ferréz

Campeão em Capão City


Sidney, exemplo de garra e humildade.
Campeão Paulista, Campeão Brasileiro e Vice-Campeão Paulista, entre mais dezenas de medalhas e troféus.
Atleta 1dasul.

Somos Revolução



Quem disse que não dá pra fazer nada? quem disse que não tem muita gente boa também nesse mundão.


2008 foi muita treta, parei vários projetos meus para tocar os coletivos, satisfação total ver as mudanças.


Na minha colheita tinha muita coisa boa, que também geraram outras boas,
então sem ser ingênuo, dá pra fazer muita cosa bacana sim, mesmo sem dinheiro, mas com muita atitude.
vamos deixar de dizer que o outro teria que fazer, de combrança a torto e a direita, todo mundo pode fazer uma carinha pelo outro.
essa foto ai em cima representa isso, uma pá de morador junto, somando pra mudança da quebrada.



Os meninos depois da aula, assistindo ao Interferência, programa que gravei ano passado com a Cultura, entrevistando o Eduardo.
quem disse que nosso povo não quer aprender? mas tem que ter coisas que ralem com o bar, com a igreja, porque sem opção fica complicado.






Dona Laura, adoro essa foto, ela lendo o Literatura Marginal, livro que editei alguns anos atraz, ela mora na Colônia Z3 em Pelótas, agora me fala se não dá pra influenciar todo mundo pro bem?
ela tem 70 anos rapaz, e escreve lindos textos.
tem um livro dela recente lançado pela luzes no asfalto. http://www.luzesnoasfalto.com.br/
temos muitas criticas, muita gente chata, mas também tanta coisa boa pra promover, então que viva a revolução que fazemos todos os dias, e vc já plantou alguma coisa? se não, não esquenta, dá tempo de fazer amanhã cedinho.
se não pelos outros, pelo menos por você mesmo, que também vive aqui afinal né? nesse planetinha azul.
Ferréz

Manocultura e Periferismo (Marcelo Amaral)

MANOCULTURA E PERIFERISMO

Pobre, preto e favelado não é retratado na televisão e demais obras artísticas realizadas no Brasil. Balela. Há uma hegemonia do populacho no audiovisual e na literatura feita por brasileiros.
Nas telenovelas sempre há um casal formado por um pé-rapado e um rico. E o pobre é o herói. O pobre é íntegro. O rico não presta. Existe um programa chamado Central da Periferia. Quer mostrar que o que vem das áreas carentes é mais legal do que o vem do centro. Na programação esportiva também sempre aparece a história de um atleta que veio do nada e se tornou vencedor. As séries que ganham melhor tratamento estético e dramático das emissoras são aquelas de favela – Cidade dos Homens e Antonia – ou de sertão – A Pedra do Reino.
Os cineastas brasileiros venerados são os que filmam pobre. Vai de Walter Salles com Central do Brasil a Dois Filhos de Francisco, que conta a trajetória de uma dupla de cantores caipiras.
Na literatura se destacam os manos. Tem o Ferréz, do Capão Redondo, um dos bairros mais violentos da periferia sul de São Paulo. Ferréz fala e escreve errado. Mas dizem que ele pode, porque veio do povão. Mas há também os encantados com universo das favelas. Caso de Patricia Melo e Fernando Bonassi. Patricia Melo é autora de O Matador, que foi transformado em filme com o nome de O Homem do Ano.
O fetiche pela ralé é justificado com o seguinte argumento: é o retrato do Brasil. Então eu moro em outro país. E ainda não me dei conta disso.
Onde eu vivo tem favela, é claro. Só que tem umas coisas estranhas. Tipo gente de classes média e alta. Trata-se de um pessoal que vive em edifícios ajeitados e novos. Outros residem em condomínios fechados. Mais ainda: pessoas que ocupam cargos executivos em empresas grandes. Ou profissionais liberais de nível médio e alto.
Outra bizarrice: compram livros, cd’s e dvd’s em megastores de shopping center. Adquirem produtos de marca. Mesmo que seja em dez vezes no cartão de crédito. Mesmo que entrem no cheque especial. Comem no America e tomam café na Starbucks. Se você não conhece a Starbucks, azar seu, provinciano. Vá ler livros ou ver filmes ambientados nas principais cidades do mundo.
Eu não tenho apreço pela cultura dos manos. Assim como não gosto de africanismo, latinismo e caipirismo. Tudo bem que isso exista. O problema é que o ideal politicamente correto quer impor divinização disso. Os selos “africano”, “indígena”, “interior” e “periferia” se tornaram atestados de qualidade inquestionável.
Quem diz que acha tudo isso uma porcaria é tachado de preconceituoso. Ou de elitista. Preconceito não é crime. E eu sou um legalista.
Outra coisa: há também preconceito do lado dos manos. Eles rotulam a classe média de fútil. De gente que só pensa em consumir. Besteira. A empregadinha que pega quatro conduções por dia tem o mesmo desejo de consumo da empresária ou executiva que anda de Mercedes Classe A ou de Toyota Corolla. A garota da favela também gostaria de entrar em um shopping – nem precisa ser o Iguatemi de São Paulo ou, agora, o Cidade Jardim – e sair cheia de sacolas com sapatos, bolsas e roupas. A pobre só não pode.
E quem ganha dinheiro dentro da lei que gaste como quiser. Não há superioridade moral do periférico sobre o central. O populacho também é malvado. Até parece que ninguém bate na mãe ou comete abuso sexual na favela. Até parece que uma comunidade pobre não é capaz de linchamentos.
Pior ainda é achar que o por ser socialmente sofrida a vida da patuléia é mais interessante. Existem conflitos – de vários tipos – em gente de classe média e rica do Brasil que rendem filmes de ficção, documentários, seriados e livros.
O mano de calça larga e boné está altamente retratado. E esse estilo também invadiu os caras de classes mais alta. Eu, branquelo de olhos azuis, que usa camisa, calça mais justa e sapato de bico quadrado é que não me vejo na televisão, no cinema e na literatura feita no Brasil.
Leio os livros passados em Nova York e Londres, para ter contato com personagens que têm a ver com o meu contexto. No dia que um tipo como Ferréz escrever um livro como Os Filhos do Imperador, de Claire Messud, uma história de nova-iorquinos, eu leio. Estou mais para o Diabo Veste Prada do que para Capão Pecado, um dos livros de Ferréz. Quero ler histórias de gente que toma banho e usa roupa limpa e passada. Os escritores que se propõem a falar de classe média no Brasil, na maior parte das vezes, adotam como protagonistas gente sem asseio, que transformam suas casas em lugares sujos.
Ainda bem que existem as séries americanas House, Nip/Tuck, Without a Trace e The Closer. Ainda bem que posso ler Philip Roth e Ian McEwan. Sem eles, eu não suportaria esse monte de mano.
Escrito por Marcelo Amaral às 22h00
amigos, publiqueio o texto para que vocês comentem a vontade, como segundo o autor eu não sei escrever, dessa vez vou só observar.
abraços Ferréz