Blog do escritor Ferréz

Respostas dos e-mails

salve, aqui vai algumas respostas dos e-mails que tem chegado, estou bem feliz pelas idéias e também pelas opiniões, valeu rapa, vou respondendo aos poucos.

MR. Leprous.
Sim, o clip Judas pode ser encontrado no kazaa, está até com boa definição, e talvez no site da mtv na sessão de finalistas na categoria rap.

Daniel "dobrado" oshiro
obrigado pela idéai, a literatura realmente nao tem limite, e muito menos o Hip-Hop, salve.

Renata Ramos.
saiu um rap meu na revista "Escola", e é inclusive isso, para dar aula, os professores já estavam a muito pedindo um rap para atividades, ele vai ser feito em três partes e a ultima vou fazer com as idéias dos alunos. é só conferir.

Junior Brown
valeu nego, eu que aprendo com vocês a cada idéia, tamo junto e misturado.

Mano Cássio
quero ver o seu solo, um dia gente se tromba e toma um café fresco, salve.

Dario, o link já tá firmado e obrigado pela comparacão com kafka, agradeço mas não mereço.

Roberto Maxwell
obrigado pelas vizitas, o blog do cara é robertomaxwell.blogger.com.br e vale a pena.

bárbara
a febem é um assunto vasto e eles precisam da nossa interferência para que um dia ela não seja reformada, mas sim totalmente mudada, o conceito está errado, punitivo ao invez de educativo.
um abraço

Arturo, continue aqui, pois vai ter muito mais coisas inéditas, salve.

Carlão
a siciliano tava com essas idéias mesmo de boicotar meu livro, mas tudo foi resolvido, era preconceito porque pensavam que eu fosse ex presidiário, e se fosse? não mereceria ser um escritor? pro cê vê né, eles forçam o uso da pistola e depois falam de arte, mas tudo bem, vamos em frente quebrando barreiras.

salve Ferréz

A bondade humana

A bondade humana

Parquinho, o nome é diminutivo, mas o encanto não.
Crianças que ao passarem pelos fios cheios de lâmpadas coloridas, entram num mundo encantado onde a magia não tem limites.
Os carrinhos enferrujados, as improvisações por falta de dinheiro e os funcionários que trazem nos rostos o cansaço de uma vida inteira de mudanças repentinas.
Nada disso a criança vê, nós adultos percebemos, o dono da barraca de batidas que queria estar vendendo doces, mas infelizmente o álcool dá muito mais dinheiro.
O piloto de roda gigante que fugiu de casa com doze anos e nunca mais se achou nessa vida.
O palhaço que pertencia ao um circo e agora perambula pelo parquinho tentando encontrar a paz de espírito.
As crianças continuam sorrindo.
A senhora que faz pipoca capricha, tem doce e salgada, mas sua vida ta sem gosto, desempregada pegou o carrinho emprestado do parquinho para fazer um bico, eles ajudam quando deveriam ser ajudados.
Ela me diz com franqueza – esta sempre vazio, us jovens prefere ir nos shopping center, esqueceram os parquinhos.
Quatro anos no mesmo lugar, montando, refazendo, inventando.
O dono do sonho morreu a alguns meses, quem gerencia agora é a esposa e os filhos.
As crianças continuam sorrindo.
Um casal chega com o filho, compra alguns ingressos ao preço de R$ 1,00 cada, depois de passar por alguns brinquedos, o operador libera os outros. – pode ir moço, precisa pagar não.
A bondade está em quem não tem o que dar, e mesmo assim doa.
As luzes continuam acesas, nós saimos devagar, eu, minha esposa e minha afilhada, que agora é minha filha.
Vejo no seu sorriso, nos seus olhos brilhando as coisas que eu via em seu pai, e sei que ele ta sorrindo no céu, céu esse que hoje ta escuro e enigmático.
Agente sai do parquinho, as crianças continuam sorrindo, nós vamos voltar pra casa, e talvez um dia encontraremos algo aqui dentro de nós mesmos.
Algo que seja mais eficaz que as luzes que um dia me fizeram sonhar.

Ferréz

Dialeto de periferia (Ratão/Ferréz)

Salve rapaziada, é o seguinte, essa letra que estou colocando no Blog é inédita e foi uma das ultimas que o Alex (vulgo Ratão) fez, ai vai rap de qualidade pra vocês curtirem, afinal eles matam a carne, mas a alma caminha em liberdade.
Ferréz


Dialeto de periferia, (Ratão/Ferréz)

Meu corpo está preso na guerra, mas minha mente escapa em liberdade.
Literatura marginal lado a lado com us guerreiros de verdade.

Salve salve, suas bandas meu querido
Aqui Alex, crime envolvido
som de ladrão
Idéias certas sem confusão.

Cigano de periferia,
Zica do pantano, zica maldita
Convivendo com todos no dia a dia
Sai zói gordo que conspira

Que num tem disposição,
De fitinha podre tira dez no pião
Conhecendo santas e putas.
Aqui cabeça feita truta.

mundo de um pais sem glória.
Que massacra os negros e a história.
Cópia descarada dos Europeus,
massificação branca aí fudeu.

máquina de cópia, preta, mestiça.
O que vejo na ligo a tv, se liga
Terceiro mundo, colônia de americano,
semi analfabetos nos classificam a todo ano.

exemplo vivo somos agora.
Não deixe os ratos cinza acabar com sua história.
os lokos tão aqui, enquadrando você pra debate,
injustíça e covardia que nos tarde

Não gosto de quem vive pra se explicar,
guerreroz de fé sabe a hora de aperta.
Só quero ver quando a chapa esquentar,
muitos vão correm poucos vão ficar.

Só na minha arma agora posso confiar.
Não sou juiz, mais faço minha justiça
pra conspirar contra quem desacredita.
Dá traição nem Jesus escapou dessas fitas


Me jogaram na favela, pobreza como herança.
Agora já era, traz da justiça a balança
Capão-SP linha entre o bem e o mal.
A vida é um jogo,conseqüência natural

Mente engatilhada,
atirando contra os canalhas
Eu não sou bobo, eu sei como é que é,
o sistema quer me levar de migué.

Sem saúde, sem educação,
Renasci das cinzas do inferno jão
Morte é melhor do que não ter motivo pra viver.
Não sou obrigado a pensar como você

Inseguro sem paz, solução sempre adiante.
A guerrilha na mente, observando tudo como antes.,
Sou a preza que o sistema espera,
larguei a caneta em prol da guerra.

Única saída, socialismo, lá de cima
sobreviver e promover chacina.
São Paulo, cidade com fronteira imaginária.
A marca que a cadeia deixa no homem não se apaga

destroço interno ruim de reintegrar.
Aqui quem fala é Ratão sem amenizar
Sente só o poder da informação,
só ela basta pro playboy cuzão.


Não gosto de quem vive pra se explicar,
guerreroz de fé sabe a hora de aperta.
Só quero ver quando a chapa esquentar,
muitos vão correm poucos vão ficar.

Só na minha arma agora eu posso confiar.
Não sou juiz, mais faço minha justiça
pra conspirar contra quem desacredita.
Dá traição nem Jesus escapou dessas
fitas

novo Romance para 2008

Salve, estou colocando nesse momento um trecho do Romance que provavelmente vai estar pronto em 2008, mas porque tão longe? bom estou terminando o meu primeiro livro de não ficção que vai sair em 2006, e o livro do qual o trecho você vai ler daqui a pouco vai demorar um pouco mais para estar pronto, e isso se deve a própria história que traz um novo ritmo e estilo.
deem uma lida e pode ter certeza que a opinião de todos será bem aceita.
"Havia falado com o autor daquele livro algumas vezes, em alguns momentos de angustia chegava a discar os primeiros números, mas logo desistia, tinha noção de que não era seu amigo, de que não era nada dele, e sempre lia mais algumas páginas para se acalmar.
Labirinto, sempre teve medo dessa palavra, as palavras na sua idéia das coisas são perigosas, ainda mais uma que não demonstrasse saída, labirinto, era algo que realmente ele temia. Uma vez se pegou olhando para o espelho, encarando seus próprios olhos, notando seu próprio semblante, por uns segundos se perdeu em si, teve medo quando recobrou os sentidos, viu o perigo, quase ultrapassou a porta, acreditava nisso, na porta para o outro lado, e viu tantos que dessa não voltaram.
Notou o canto da estante nesse dia, tentou se apegar a alguma coisa para não olhar novamente para o portal que sempre o atraia, começou a perceber os discos, olhar calmamente para as fitas de vídeo, viu as coisas que todos colecionamos, tomou a decisão de não comprar mais tantas coisas, sentimentos que se transformavam em produtos, tempos passados que refletiam alguma desculpa de lembrança, resolveu parar de pensar.
Passou alguns segundos, tudo voltou ao normal, pegou a foto na estante, limpou a poeira, estava da mesma forma, os poucos cabelos rapados, o óculos, o ralo cavanhaque sempre torto, a camiseta azul já desbotada, olhou para si mesmo, a mesma roupa, levantou o braço esquerdo e tocou no queixo, o mesmo cavanhaque, passou a mão pela cabeça, os mesmo corte, a quanto tempo ele era ele mesmo já não sabia.
Pensou em sair, mas já andara demais, estava na hora de ficar em casa, só assim não seria a maquiagem da mulher vaidosa, o tanto de lápis, rouge, só elas sabem, não seria os transeuntes passando rapidamente, esbarrando, prometeu não sair tão desprotegido, afinal eles acham sempre que sabem algo quando o vêem, mas a profundidade do que ele mostra só ele controla.
No olho a olho os curiosos não passariam de três centímetros da primeira camada, o resto esta protegido, muito bem guardado, controlado como sempre deveria ter sido."

Capão Pecado em Portugal

foi lançado o Capão Pecado em portugal, a nova edição tem como capa a bandeira do Brasil e uma pistola na frente, vem com uma tarja especial com a frase: "Ferréz, que tem o hip-hop por atitude, fala para o papel, escreve como quem canta e conta, para narrar vidas ques e requebram ao ritmo das balas". Catarina Portas, Jornalista.
a edição é toda verde e tem destaque para as páginas pretas com fotos, a editora chamasse Palavra e faz parte do grupo ASA Editores.
O livro tem a versão integral e horiginal em português (ou favelês) ainda contém um marca página feito só para a edição de Março.
para maiores informações ou encomendas www.palavra@asa.pt

salve
Ferréz

Sua alma caminha em liberdade

Ratão.

Você ficou espantado quando o apelido pegou, numa brincadeira que meu irmão fez, e pronto, virou Ratão mesmo, tudo por causa do nariz, o mesmo que você ultimamente tava falando em operar, agente num ia agüentar ver você mexer nele, era a sua cara.
Já alguns anos, não éramos mais amigos, éramos irmãos.
Foi com você que montei meu primeiro grupo, agente ouvia Chico Science o dia todo e no final, apesar de querer ter guitarra, bateria e a percussão, montamos um de rap, que só precisava de um caderno para escrever as letras e de uma base.
Agente foi crescendo e o gosto pela música aumentando, e você viu eu entrar no grupo do Carlinhos, o Periferia Ponto C, e lá estava você em todos os ensaios, depois de algum tempo eu sai do grupo e entrei no Outraversão, você me acompanhou e ficamos juntos de novo, foi nessa época que nasceu sua filha, e você me deu para batizar, é engraçado né, a família é agente que faz, porque você não convivia com sua família em nada, assim como eu tenho mais amigo na rua do que em casa.
Deu pra perceber isso nesses dias, eles não sabiam nada de você.
Fizemos vários shows, e o maior deles foi no Palácio onde abrimos para o Realidade Cruel, você escreveu no jornal da escola em dezembro de 2000 e depois você junto com a sua turma me convidou para dar uma palestra lá, fiquei orgulhoso quando esses dias reparei que você tinha uns livros do João Antônio, perguntei deles e você disse, “cê falou que era bom, e eu comprei” eu até peguei um emprestado, mas não vou poder mais devolver.
A real é que o mundo do crime te cativou né, e eu entendo, sempre intendi, você saia nas fitas e depois me contava, uma vez falou assim: tem gente pra tudo, uns vai pra ação, outros escreve sobre ela.
E é real, suas experiências nessa vida, e o que passei a seu lado me ensinaram muito, e o Manual Prático do Ódio foi um prova disso, pois nele o Régis é inspiradão em você.
E no Capão Pecado, você tá no livro todo.
Nossa amizade sempre foi um bagulho louco, você na minha frente falando das fitas que fez, e depois eu lendo os trechos dos livros novos.
No começo do cd, você praticamente desistiu e eu tive que prosseguir sozinho, mas mesmo assim você ia em todos os lançamentos, não faltou em nenhum, desde o primeiro.
Agente era o mais diferente um do outro e mesmo assim éramos idênticos.
Quando gravamos a Judas, e depois começamos a divulgar a música, muita gente elogiou seu jeito de cantar, mas parecia que você achava que não nasceu pra isso.
Sua filha a Géssica foi crescendo, e vieram mais dois filhos o Akin e o Dener, um você deu um nome de guerreiro e o outro homenageou o jogador que tanto gostava.
Sabe Alex, as vezes a sete da manhã você passava aqui em casa pra tomar café e eu ficava fudido com você por me acordar cedo, e quando você veio morar comigo pois estava em guerra com os pé de pato, foi uma das épocas que mais me diverti, dividir miojo era rotina pra nóis.
Finalmente você alugou uma casa, e como era caprichoso montou toda ela com móveis brancos na cozinha, tinha um home teater prata, assim como a tv, e sua sala parecia um disco voador.
Dia sim, dia não eu passava lá pra gente assistir os grupos de rap, quando eu não comprava um dvd você tinha comprado.
O mais louco era a caixinha de chá, que você comprou, “Twinings of london”, agente tomava aquele chá caro a alguns metros do córrego.
Quando você tirava as coisas na internet, já me ligava, “vem ver o que eu peguei dessa vez”, e o presente mais louco que meu deu foi uns 20 livros que você avia pego num assalto a transportadora.
Nunca fumou né Ratão, nunca usou nenhum tipo de droga, e isso você trouxe do Hip-Hop ideologicamente correto, assim como a auto estima que sempre estava a seu lado.
Agente comprava costela na padaria funchalense e ia pra sua casa comer com pão, era a coisa mais gostosa de se fazer.
Esses dias inventamos uma brincadeira, agente chamava no portão e quando a pessoa atendia, entrava uma pá de amigo nosso ao mesmo tempo e comia tudo que tinha na casa, fiz isso com você, junto com o Amaral, o Cacá e o Zóião, e você ficou de fazer na minha casa.
Esses dias juntei os meninos do Negredo, o Carlinhos e mais uns cindo da favelinha, fomos todos pra sua casa, nós iamos comer tudo, mas você por sorte sua não estava.
Bom, o que posso dizer mais...que você comprou a moto que tanto queria, a Falcon prata e que todo mundo pagava um pau pra você, pois você era diferente dos pé de breque daqui, você era bandido beneficente, ou seja fazia a fita e não atrasava o lado de ninguém, que nem aquele dia da carreta que você interceptou e não coube no galpão, no final das contas você liberou ela, e o maninho do seu lado perguntou. – cê tá loco, porque agente num pega pelo menos uns dvd, ou algumas coisas? E você disse com muita firmeza. – cê acha que se esse tiozinho chegar na firma dele dizendo que agente roubou só algumas coisas eles vão acreditar? Que nada vai é prejudicar ele.
Então meu amigo Alex, ou melhor, meu irmão Ratão, você viu o que está acontecendo comigo esses tempos, o abandono dos amigos, uns fugindo pra se esconder atraz da bíblia, outros indo embora por ganância e outros indo por covardia, desistindo da luta que nós começamos a algum tempo. Nessas horas lembro de uma frase do Dexter, “esses dias me tornei um cara amargo, decepção ao extremo é complicado”.
Esses dias você também tava desolado com essa tal revolução, também né, só vemos bares cheios, nossos amigos se viciando, morte atras de morte, e eu tenho essa mesma dúvida todos os dias, se vale a pena continuar caminhando.
O Zica do pântano, a favelinha Santiago era nossa casa, e foi lá que dois covardes de máscara desceram e te pegaram quando você tinha pago hot-dog pra todo mundo, aquele dia você tava feliz, foi na locadora, alugou um filme, dividiu um misto quente comigo e tomou café com o Nildo, agente riu prá caralho e você falou que ia sair fora pra ver o filme e voltava.
Chegou em casa e arrumou ela todinha né, pegou a moto e passou pelo Tico, depois foi pra viela onde todos crescemos juntos, tava rindo a beça, zuando com a cara do Washington e do Amaral, e deu até conselho pro Zóião.
Mas você sempre soube que inspirava a inveja e ela se manisfestou naquele dia.
Como você faleceu não interessa, o que ficou foi como viveu, com o sorriso na boca até o ultimo minuto, mas o que gostei foi que não correu, pois não devia nada.
Sabe meu irmão, eles mataram sua carne, mas não podem adquirir o respeito que você teve e tem, nem o amor que sentimos por você, cada vez estou mais isolado e esses dias me segurei para não disparar contra mim mesmo e acabar com tudo isso, porque lembrei de você dizendo que agente tem que ser forte, firme e forte.
Zica, seu Zica, obrigado pelos momentos que tivemos juntos, e saiba que esse texto tá sendo escrito porque eu não consigo guardar mais dentro de mim.
Sem investigação, sem debate, passou batido, mas não desapercebido, os verme uma hora se manifesta, por enquanto eu vou fazer o que sei, escrever pra você, tá. Um abraço do seu irmão.

Alex Rodrigues do Santos, era negro, tinha 23 anos e um sonho de ter uma casa própria, ou melhor, um apartamentinho como ele falava.